Campanha (RV) - “Ó ocasião luminosa, ó dia mil vezes bendito”, afirmava entusiasticamente
o grande arcebispo Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, primeiro Cardeal do
Brasil e da América Latina, naquele dia luminoso de 1904, em que a coroa dourada doada
pela Princesa D. Isabel era, em nome do Santo Padre, depositada sobre a fronte da
pequenina imagem da mãe de Deus Aparecida e declarada solenemente Rainha e Padroeira
de nossa Pátria. Também nós neste dia em que todo o Brasil Católico, e mesmo civil,
se irmana para elevar a Deus o seu louvor por intercessão da Senhora Aparecida, que
além de velar continuamente no céu como Padroeira da terra Brasileira é a Rainha e
Soberana do Brasil.
Vemos, meus caríssimos irmãos e irmãs, que a afirmação
inspirada de Maria a Isabel, tendo em vista o que lhe fora revelado na anunciação,
verifica-se em toda a nossa história: “Todas as gerações hão de chamar-me bendita,
porque o poderoso fez em mim maravilhas”. A obra sempre atual e maravilhosa da encarnação
do Verbo Divino, que vindo nos visitar, salvou-nos, e onde a vida de Maria encontra
sua máxima excelência, continua a iluminar nossa vida e caminhada nas estradas da
história. O mistério de Jesus não se reduz a um determinado momento de nossa história,
mas está sempre atual no seio da Igreja.
Como dizia São Luis Maria Grignon
de Montfort: “Deus ajuntou todas as águas e deu nome de mar, e ajuntou todas as graças
e deu nome de Maria”. Assim, ao celebrar a festa da padroeira da nação e protetora
do povo Brasileiro, é imperativo reafirmarmos nossa fé na ação de Deus através da
sua graça, de maneira toda especial através do convite a Maria, que é um convite a
toda a humanidade para participar na obra salvífica, que Deus faz a todos nós.
Celebrar
essa festa é abrir-se para duas dimensões que nos enobrecem como humanos: de um lado
o reconhecimento e a gratidão, de outro o nosso comprometimento pessoal. A Santa Igreja
nos ensina a reconhecer em Maria a primeira discípula de Jesus e de lhe tributarmos
gratidão e reconhecimento pelo seu sim. Também nos ensina que ela é nossa intercessora,
podendo levar à presença da infinita majestade de Deus a cada um de nós, que fomos
feitos seus filhos queridos. De outro lado é necessário, nos admoesta a Igreja, seguir
os passos de Maria, aprendendo na sua escola de humildade e doação total. Assim como
ao sim de Maria, Deus espera pelo nosso sim para que o seu Reino aconteça.
Para
este dia, a liturgia da Santa Igreja, nos fez proclamar o Evangelho das Bodas de Caná.
Nesta passagem evidencia-se o aspecto mariano que nos é mais caro: a sua intercessão.
A festa simboliza a vida e os noivos colocados em apuros representam a própria humanidade.
Se Jesus é o mais ilustre convidado à festa que é vida, garantindo-lhe a benção da
alegria é Maria quem, atentamente, intercede por nós, atenta às nossas mais íntimas
necessidades. Não garante apenas que as talhas estejam cheias de vinho, mas pela presença
de seu filho faz com que o vinho seja o melhor de todos.
Como nos ensina Paulo
VI, na exortação apostólica Marialis Cultus: “A exemplaridade da bem-aventurada Virgem
Maria, é conseqüência do fato de ela ser reconhecida como modelo excelentíssimo da
Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo (LG 63), isto é,
daquelas disposições interiores com que a mesma Igreja, Esposa amadíssima, intimamente
associada ao seu Senhor, O invoca e, por meio d'Ele presta o culto ao eterno Pai”(16).
Sim, diletíssimos irmãos e irmãs, Maria nos mostra Jesus como “caminho, verdade e
vida”, e por isso é modelo de discípula. Se o amamos e ofertamos a nossa adesão à
sua palavra, Maria é, também, modelo de missionária, pois centro de sua mensagem é
sempre: “Fazei tudo o que ele vos disser”.
Maria, a Senhora Aparecida, meus
caríssimos irmãos, nos ensina a ser Igreja. No “sim” convicto e definitivo, na humildade
do lar de Nazaré, na participação discreta e quase anônima na obra da salvação, no
cuidado maternal com a alegria da grande festa que é a vida, na humildade de sua imagem,
ela nos ensina a viver juntos, no Corpo Místico de Cristo. É necessário olhá-la sempre
e perceber porque ela reina soberana sobre o Brasil e todo o mundo. Ela é Rainha,
caros fiéis, porque antes é servidora de Jesus e de seu povo. O serviço e a doação
são os caminhos para a verdadeira nobreza.
O mesmo Papa Paulo VI nos adverte:
“Maria é a Virgem que sabe ouvir, que acolhe a palavra de Deus com fé [...] Maria
é, além disso, a Virgem dada à oração. Assim nos aparece ela, de fato, na visita à
mãe do Precursor, quando o seu espírito se efunde em expressões de glorificação a
Deus, de humildade, de fé e de esperança: tal é o "Magnificat" [..] Maria é, enfim,
a Virgem oferente”. Assim, somos chamados a aderir à escola de Maria a que já nos
referimos, e a seguirmos à essas diretrizes que orientaram sua vida: Atenção à Palavra
de Deus; Fé que se alimenta na oração confiante a Deus, na participação nos sacramentos,
doas quais a Eucaristia é o maior e, finalmente, a oblação da vida, que se não é doação
não é vida.
Assim, meus irmãos e irmãs, ao celebramos a solenidade de Nossa
Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, possamos dirigir o nosso
olhar filial para aquele Vale Mariano onde está o seu santuário e o Brasil encontra
sua máxima expressão. Possamos, também, na escola de Maria, nos convencer da importância
de nossa participação na vida de nossas comunidades. A festa de Caná, que é a festa
de nossa própria vida, só poderá acontecer em nossas comunidades se formos, a exemplo
de Maria, Discípulos e Missionários de Jesus.
Possamos proclamar com Paulo
VI: “Virgem em oração aparece Maria, também, em Caná, onde, ao manifestar ao Filho,
com imploração delicada, uma necessidade temporal, obteve também um efeito de graça:
que Jesus, ao realizar o primeiro dos seus "sinais", confirmasse os discípulos na
fé n'Ele (cf. Jo 2,1 12). Por fim, ainda a última passagem biográfica relativa a Maria
no-la descreve orante: os Apóstolos "perseveravam unânimes na oração, com algumas
mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele" (At 1,14). Presença
orante de Maria na Igreja nascente, pois, e na Igreja de todos os tempos; porque ela,
assumida ao céu, não depôs a sua missão de intercessão e de salvação (LG 62).” Amém Pe.
Wagner Augusto Portugal Vigário Judicial da Diocese da Campanha - MG