Cidade do Vaticano, 27 set (RV) - Celebra-se hoje o Dia Mundial do Turismo,
data instituída na III Conferência da Assembleia Geral da Organização Mundial do Turismo
em Torremolinos (Espanha), em setembro de 1979. O tema este ano é “Turismo e aproximação
das culturas”.
O objetivo é promover o conhecimento da comunidade internacional
sobre a importância do turismo e seus valores sociais, culturais, econômicos e políticos,
zelando pelos impactos causados pela atividade e observando a importância na resolução
dos problemas relacionados à igualdade social.
Já a mensagem deste Dia Mundial
do Turismo “é que, graças ao turismo, milhões de pessoas de diferentes culturas se
encontram em todo mundo como nunca havia ocorrido antes” - explica o secretário-geral
da OMT, Taleb Rifai.
“Esta interação entre pessoas com diferentes tradições
e formas de vida representa uma imensa oportunidade de avançar no caminho da tolerância,
respeito e compreensão mútua” - disse.
Segundo a entidade, em 2010, 940 milhões
de turistas fizeram viagens internacionais, e neste sentido, o tema celebra esta integração
singular e aspira aprofundar a compreensão de valores da diversidade cultural.
Uma
mensagem sobre a ação humana, social e cultural do turismo e sobre a pastoral eclesial
neste campo foi divulgada também pelo Pontifício Conselho para os Migrantes. Publicamos
abaixo a íntegra da mensagem, assinada pelo Presidente, Arcebispo Antonio Maria Vegliò
e pelo secretário, Dom Joseph Kalathiparambil
O tema deste ano, Turismo e aproximação
das culturas, pretende sublinhar a importância que as viagens têm no encontro entre
as diversas culturas do mundo, especialmente nestes tempos em que mais de novecentos
milhões de pessoas fazem deslocações internacionais, favorecidas pelos modernos meios
de comunicação e pela descida dos custos.
Deste modo, o turismo apresenta-se-nos
como "uma atividade que derruba as barreiras que separam as culturas e fomenta a tolerância,
o respeito e a mútua compreensão. No nosso mundo, tantas vezes dividido, estes valores
representam a base para um futuro mais pacífico".
Partindo de um conceito amplo
de cultura que, além da história ou do património artístico e etnográfico, abarca
os estilos de vida, as relações, as crenças e os valores, afirmamos não só a existência
da diversidade cultural, mas também, na linha do Magistério da Igreja, a valorizamos
como um fato positivo. Por isso, "é necessário fazer com que as pessoas não só aceitem
a existência da cultura do outro - como afirma Bento XVI -, mas aspirem também a receber
um enriquecimento da mesma", acolhendo o que esta possui de bom, de verdadeiro e de
belo.
E para alcançar este objetivo, o turismo brinda-nos com todas as suas
possibilidades. O Código Ético Mundial para o Turismo afirma a este propósito que
"praticado com a necessária abertura de espírito, constitui um fator insubstituível
de auto-educação, de tolerância mútua e de aprendizagem das diferenças legítimas entre
povos e culturas, e da sua diversidade". Este, pela sua própria natureza, pode favorecer
tanto o encontro como o diálogo, já que mete em contacto com outros lugares, outras
tradições, outros modos de viver, outras formas de ver o mundo e de conceber a história.
Por tudo isso, o turismo é, certamente, uma ocasião privilegiada.
Mas para
dialogar, a primeira condição que se exige é a de saber escutar, querer ser interpelado
pelo outro, querer descobrir a mensagem que encerra cada monumento, cada manifestação
cultural, desde o respeito, sem prejuízos nem exclusões, evitando leituras superficiais
ou tendenciosas. Assim, é tão importante o "saber acolher" como o "saber viajar".
Isso implica que as actividades turísticas devam organizar-se a partir do respeito
pelas peculiaridades, leis e costumes dos países acolhedores, pelo que os turistas
deverão recolher informação, antes da partida, acerca das características do lugar
que vão visitar. Mas também as comunidades que acolhem e os agentes profissionais
deverão conhecer as formas de vida e as expectativas dos turistas que os visitam.
Partindo
do fato de que toda a cultura encerra em si mesma certos limites, o encontro com culturas
diferentes permite um enriquecimento da própria realidade. Neste sentido se manifestava
o Beato João Paulo II quando afirmava que "a ‘diferença’, que alguns consideram tão
ameaçadora, pode chegar a ser, através de um diálogo respeitador, a fonte de uma compreensão
mais profunda do mistério da existência humana".
Um objetivo da nossa pastoral
do turismo será certamente educar e preparar os cristãos de modo a que esse encontro
de culturas que pode acontecer nas viagens não seja uma oportunidade perdida, mas
que sirva certamente como um enriquecimento pessoal, que ajude a conhecer o outro,
ao mesmo tempo que se conhece a si mesmo.
Neste diálogo que produz frutos de
aproximação das culturas, a Igreja tem muito a dar. "Também no campo cultural - assinala
Bento XVI - o Cristianismo tem para oferecer a todos a mais poderosa força de renovação
e de elevação, ou seja, o Amor de Deus que se faz amor humano". É imenso o património
cultural, entendido naquele sentido amplo a que anteriormente fizemos referência,
que surge da experiência da fé, do encontro entre a cultura e o Evangelho, fruto da
profunda vivência religiosa da comunidade cristã. Certamente, estas obras de arte
e de memória histórica possuem um enorme potencial evangelizador, enquanto que se
inserem na via pulchritudinis, o caminho da beleza, que é "um percurso privilegiado
e fascinante para se aproximar do Mistério de Deus".
Deve ser um objetivo primário
da nossa pastoral do turismo mostrar o verdadeiro significado de todo este acervo
cultural, nascido à sombra da fé e para glória de Deus. Nesta linha, ressoam ainda
as palavras do Beato João Paulo II dirigidas aos agentes de pastoral do turismo: "Vós
contribuis para a educação do olhar que é um despertar da alma para as realidades
do espírito, ajudando os visitantes a subirem até às fontes da fé que fez nascer estes
edifícios e tornando visível a Igreja de pedras vivas que formam as comunidades cristãs".
Importa, por isso, que apresentemos este património na sua autenticidade, mostrando-o
na sua verdadeira natureza religiosa, inserindo-o no contexto litúrgico no qual nasceu
e para o qual nasceu.
Porque sabemos que a Igreja "existe para evangelizar",
devemos nos perguntar constantemente: como acolher as pessoas nos lugares sagrados
de modo a que este os ajude a conhecer e a amar mais o Senhor? Como facilitar um encontro
com Deus e cada uma das pessoas que ali acodem? Devemos sublinhar, antes de mais,
a importância de um acolhimento apropriado, "que tenha em conta o que é específico
de cada grupo e de cada pessoa, as expetativas dos corações e as suas autênticas necessidades
espirituais",1 e que se manifesta em diversos elementos: desde os simples detalhes
até à disponibilidade pessoal para a escuta, passando pelo acompanhamento durante
o tempo que durar aquela presença.
A este propósito, e com o intuito de favorecer
este diálogo intercultural e aproveitar o nosso património cultural ao serviço da
evangelização, convém adotar um conjunto de iniciativas pastorais concretas. Todas
elas devem integrar-se num vasto programa de interpretação que, juntamente com a informação
de tipo histórico-cultural, mostre de forma clara e acessível o original e profundo
significado religioso destas manifestações culturais, usando para isso meios atuais
e interativos, aproveitando os recursos pessoais e tecnológicos que estão à nossa
disposição.
Entre estas propostas concretas encontra-se a elaboração de percursos
turísticos que possibilitem a visita aos lugares mais importantes do património religioso-cultural
das dioceses. Ao mesmo tempo deve-se favorecer um alargado horário de abertura, bem
como dispor de uma estrutura de acolhimento adequada. Nesta linha é importante a formação
espiritual e cultural dos guias turísticos, enquanto que se poderia estudar a possibilidade
de criar organizações de guias católicos. E juntamente com isso, a elaboração de "publicações
locais em forma de folhetos turísticos, de páginas na internet ou de revistas especializadas
no património, com o fim pedagógico de evidenciar a alma, a inspiração e a mensagem
das obras e com uma análise científica dirigida à compreensão profunda da obra".
Não
nos podemos conformar com conceber as visitas turísticas como uma simples pré evangelização,
mas deve funcionar de plataforma para realizar o anúncio claro e explícito de Jesus
Cristo.
Aproveito a ocasião para anunciar oficialmente a celebração do VII
Congresso Mundial da Pastoral do Turismo que se realizará em Cancún (México) na semana
de 23 a 27 de Abril de 2012. Este evento, organizado pelo nosso Conselho Pontifício
em colaboração com a Conferência Episcopal Mexicana e a Prelatura de Cancún-Chetumal,
será certamente uma importante oportunidade para continuar a aprofundar as propostas
que a pastoral do turismo exige para o tempo presente.