DOM BRUNO FORTE: PALAVRAS DO PAPA SÃO DE UM GRANDE E PACIENTE REFORMADOR
Cidade do Vaticano, 26 set (RV) - Teve ampla repercussão na mídia alemã, e
não somente, as palavras com as quais Bento XVI, na Konzerthaus de Friburgo (centro
de congressos), dirigindo-se aos católicos engajados na Igreja e na sociedade, convidou
a Igreja à redescoberta da sua identidade mais autêntica, despojada da tentação do
poder e do risco da burocratização. A esse propósito, a Rádio Vaticano pediu um comentário
ao Arcebispo de Chieti-Vasto – Centro da Itália –, Dom Bruno Forte. Eis o que disse:
Dom
Bruno Forte:- "No discurso no "Konzerthaus" de Friburgo, que foi um discurso como
sempre de uma grande profundidade e também fineza teológica, o Papa chama a atenção
para essa forma de ligação com o mundo que nós comumente chamamos, justamente, de
"mundana", e convida a Igreja – e os homens de Igreja – a espoliar-se de toda lógica
mundana para ser, ao invés, no espírito do Evangelho, uma Igreja rica somente de Deus.
Diria: pobre da riqueza do mundo para ser rica da pobreza de Deus que é o seu amor."
RV:
A esse propósito, o Papa disse: "Liberta do seu fardo material e político, a Igreja
pode dedicar-se melhor e de modo verdadeiramente cristão ao mundo inteiro, pode estar
verdadeiramente aberta ao mundo". Como interpretar, a seu ver, essa reflexão do Papa
que parece quase um auspício, parece ser uma reflexão que traz conseqüências muito
concretas...
Dom Bruno Forte:- "Na luz daquilo que é a meu ver a chave
interpretativa profunda desse Pontificado. Esse Pontificado é o Pontificado de um
Papa reformador: não estamos diante de um Papa – como alguém afirma – conservador,
isto é, prisioneiro do passado. Estamos diante de um Papa que trabalha seriamente
– sem aparecer, sem fazer alarde – a reforma da Igreja. Pretende a renovação que nos
leve a recolocar Cristo e o seu Evangelho no centro. É isso que o Papa insistentemente
está pedindo à Igreja."
RV: Também impressionou muito – entre as palavras
pronunciadas por Bento XVI no último dia de sua viagem à Alemanha – o que disse durante
a homilia da missa em Friburgo em relação aos agnósticos que, por causa da questão
de Deus, não encontram paz, e os fiéis rotineiros, que na Igreja já só conseguem ver
o aparato sem que o seu coração seja tocado por isso, pela fé. Os primeiros – disse
o Papa – estão mais perto do Reino de Deus...
Dom Bruno Forte:- "O Papa
fez tal afirmação à luz das palavras do Evangelho, onde Jesus diz que os publicanos
e as prostitutas os precederão no Reino dos Céus. O Papa fez uma exegese precisa:
na lógica de Deus não há nenhuma herança natural da graça, ou seja, ninguém pode pretender
estar em estado de graça pelos simples fato, por exemplo, de pertencer à Igreja. É
preciso que cada um se coloque em jogo em seu caminho de santidade e de contínua conversão,
para poder agradar a Deus, a partir dos dons que Deus nos concedeu. A graça jamais
é um privilégio: é uma tarefa. As duas coisas devem ser consideradas sempre juntas."
(RL)