ÚLTIMAS ATUALIZAÇÕES DO 2° DIA DA VIAGEM DO PAPA À ALEMANHA
Erfurt,
23 set (RV) - Bento XVI teve um dia bastante movimentado nesta sexta-feira. De
manhã, encontrou-se com uma representação de muçulmanos na sede da Nunciatura, em
Berlim. Ao defender a colaboração entre cristãos e muçulmanos, o Pontífice admitiu
a necessidade de progredir também no diálogo e estima recíprocos.
Na Alemanha,
vivem entre 3,8 e 4,3 milhões de muçulmanos, que representam entre 4,6% e 5,2% de
sua população. Em nome desta comunidade, o Professor Mouhamad Khorchide, da Cátedra
de Pedagogia da Religião Islâmica, reservou palavras de deferência ao Papa, definindo
este encontro como um importante sinal para a convivência pacífica entre cristãos
e muçulmanos.
“Em nossos encontros, nós, muçulmanos e cristãos, acentuamos
o fato que cremos no mesmo Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Ismael. Nas duas
religiões, existe uma variedade de conceitos de Deus” – disse o representante islâmico.
Depois do encontro inter-religioso, Bento XVI viajou para Erfurt, a cerca
de 240 km da capital. O avião utilizado neste trajeto pertence à linha aérea estatal
e é utilizado somente para transportar políticos – o que sublinha ainda mais o caráter
de visita de Estado desta missão.
Bento XVI visitou a Catedral e o antigo
convento dos Agostinianos, onde viveu Martinho Lutero (1483-1546) antes de promover
a Reforma que o levou à separação de Roma.
No encontro com os representantes
do Conselho da Igreja Evangélica Alemã (EKD), Bento XVI disse tratar-se de um “momento
emocionante”.
Por sua vez, a Igreja Evangélica Alemã (EKD), por meio do presidente
do organismo, Pastor Nikolaus Schneider, pediu a Bento XVI “passos concretos” do Vaticano
para a aproximação de todos os cristãos. “Não se pode estar satisfeitos com os passos
dados até o momento” – lamentou.
Bento XVI é o primeiro Papa a visitar o centro
da Reforma protestante empreendida por Martinho Lutero e o encontro de hoje criou
uma enorme expectativa em todo o país. A Chanceler Angela Merkel, protestante (e filha
de um Pastor), reiterou em numerosas ocasiones nestes dias a sua satisfação seja pela
visita do Pontífice como pelo encontro com os representantes da Igreja evangélica.
Ontem,
discursando ao Papa, o Presidente do Bundestag (Parlamento), Norbert Lammert, pediu
que contribua a superar a divisão entre o catolicismo e o protestantismo, que “tanto
irrita” os fiéis alemães de ambas as confissões.
“Muitos cidadãos – ressaltou
ele – desejam que o pontificado do primeiro Papa alemão desde a Reforma não seja apenas
um reconhecimento do ecumenismo mas um passo apreciável rumo à superação das divisões
na Igreja”.
Com esta primeira visita a um bispado do leste da Alemanha, no
território da extinta República Democrática Alemã (RDA), Bento XVI quis também dar
um reconhecimento à força dos católicos que permaneceram fiéis a sua fé, apesar das
dificuldades vividas durante a dura divisão alemã.
Tudo isso repercutiu positivamente
na imprensa: hoje os jornais estão bem mais moderados em relação à posição bastante
crítica expressa dos dias antecedentes à visita.
O discurso pronunciado ontem
na sede do Parlamento teve um consenso unânime e o tema mais elogiado foi a tomada
de posição ‘ecológica’ do Pontífice. O jornal 'Berliner Zeitung' afirma que “com uma
mensagem ‘verde’ o Papa sabe sempre emocionar”. O conservador 'Die Welt' escreve que
Bento XVI “surpreendeu seus defensores e adversários”, e com um comentário intitulado
“O Papa verde e iluminado”, o progressista 'Sueddeutsche Zeitung' ressalta que “a
Igreja romana tem sempre muita força” e que “o discurso do Papa foi uma tentativa
de conciliação com o Iluminismo”.
O cotidiano nota que a atenção reservada
a Bento XVI “foi merecida” porque seu discurso foi “grande e humano, uma impressionante
tese de filosofia do direito, absolutamente fundamental e nem um pouco fundamentalista”.
Ainda hoje, despertou muita atenção a celebração ecumênica em Erfurt, quando
um bispo evangélico leu o Salmo 164 na tradução feita por Lutero, em que se expressa
a vocação cristã comum para louvar a Deus.
O Papa fez uma oração pela unidade
dos cristãos e o Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, Cardeal
Kurt Koch, fez uma prece e rezou a oração do Pai Nosso.
Em seguida, Bento XVI
foi a Etzelsbah, a cerca de 80km, onde visitou a capela na qual os católicos se encontravam
durante os anos do comunismo e rezou as vésperas marianas na grande esplanada, ao
lado da capela.
Às 19h, hora local (14h de Brasília), retornou a Erfurt, cidade
que deixará amanhã de manhã, após uma missa na Praça da Catedral. Às 13h, parte para
Friburgo, no católico sul, última etapa desta primeira visita oficial a seu país.