PAPA AOS EVANGÉLICOS ALEMÃES: NÃO PERCAMOS AS GRANDES COISAS QUE TEMOS EM COMUM
Erfurt, 23 set (RV) - Prossegue a 21ª viagem apostólica de Bento XVI à Alemanha.
Esta manhã, o Papa encontrou-se, em Berlim, com os representantes das comunidades
muçulmanas. A seguir, o Santo Padre prosseguiu para Erfurt onde se reuniu com os representantes
do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, no ex-Convento Agostiniano.
Em seu
discurso, o Papa destacou o significado desse encontro que se realizou no lugar em
que Martinho Lutero estudou e foi ordenado sacerdote na Ordem de Santo Agostinho,
em 1507.
Para Lutero, "a Teologia não era mera questão acadêmica, mas era
a luta interior consigo mesmo que, no final, era uma luta a propósito de Deus e com
Deus" – ressaltou o Pontífice.
Falando sobre o contraste com o clima cultural
contemporâneo, o Santo Padre sublinhou: "Hoje a maioria das pessoas, mesmo cristãs,
dá por suposto que Deus, em última análise, não se interessa por nossos pecados e
por nossas virtudes. Ele bem sabe que todos nós não passamos de carne. Se hoje se
acredita ainda num além e num juízo de Deus, praticamente quase todos pressupõem que
Deus terá de ser generoso e na sua misericórdia ignorar as nossas pequenas faltas."
O
Papa fez uma série de perguntas em relação aos problemas que afligem o mundo: "porventura
não está o mundo sendo devastado pela corrupção dos grandes, mas também dos pequenos,
que pensam apenas na própria vantagem? Porventura não está o mundo sendo devastado
por causa do poder da droga e ameaçado por uma crescente predisposição à violência?
Poderiam a fome e a pobreza devastar inteiras regiões do mundo, se estivesse mais
vivo em nós o amor a Deus e ao próximo"?
Em relação ao ecumenismo o Pontífice
frisou: "A coisa mais necessária para o ecumenismo é primariamente que, sob a pressão
da secularização, não percamos, quase sem por isso se dar conta, as grandes coisas
que temos em comum, que por si mesmas nos tornam cristãos e que nos ficaram como dom
e tarefa."
"A fé deve ser repensada e vivida hoje de modo novo, para se tornar
uma realidade que pertença ao presente. Essa é tarefa central do ecumenismo. Nisto
devemos nos ajudar mutuamente: a crer de modo mais profundo e vivo. Não serão as tácticas
a salvar-nos, a salvar o cristianismo, mas uma fé repensada e vivida de modo novo,
através da qual Cristo, e com Ele o Deus vivo, entre neste nosso mundo" – sublinhou
ainda o Papa.
"Assim como os mártires do período nazista nos aproximaram uns
dos outros e suscitaram a primeira grande abertura ecumênica, assim também hoje a
fé, vivida a partir do íntimo de nós mesmos, num mundo secularizado, é a força ecumênica
mais poderosa que nos reúne, guiando-nos para a unidade no único Senhor" – concluiu
o Santo Padre. (MJ)