Na Missa que presidiu em Berlim, Bento XVI convidou a pertencer à Igreja mesmo com
as suas «realidades negativas». O Papa criticou «ideias superficiais e erróneas» de
algumas correntes na comunidade católica
(22/9/2011) O primeiro dia da visita de Bento XVI á Alemanha concluiu-se com uma
missa, no Estádio Olímpico de Berlim, cidade com apenas 7% de católicos (dados da
Santa Sé), na presença de dezenas de milhares de pessoas que lotaram o espaço”. Bento
XVI convidou os católicos alemães a manifestarem a sua pertença à Igreja, ainda que
se confrontem com a “experiência dolorosa de que há peixes bons e maus, trigo e joio”. “Se
o olhar se fixa nas realidades negativas, então nunca mais se desvenda o grande e
profundo mistério da Igreja”, disse o Papa. A intervenção deixou críticas aos que
manifestam “insatisfação e descontentamento, se não virem realizadas as próprias ideias
superficiais e erróneas de «Igreja» e os próprios «sonhos de Igreja»”. Cinco anos
depois da sua última passagem por solo germânico, o Papa quis deixar esta mensagem
a uma Igreja afetada pelos casos de abusos sexuais envolvendo membros do clero e pela
divisão dentro do próprio catolicismo em matérias como o celibato dos padres ou a
moral sexual. “Deus sabe transformar em amor mesmos as coisas pesadas e acabrunhadoras
da nossa vida. Importante é «permanecermos» na videira, em Cristo”, precisou. Segundo
a Santa Sé, dos 81,7 milhões de habitantes da Alemanha 24,6 milhões são católicos,
o que corresponde a 30% do total da população “Alguns olham para Igreja, detendo-se
no seu aspeto exterior: Então, ela aparece-lhes apenas como uma das muitas organizações
presentes numa sociedade democrática e, segundo as normas e leis desta, devem depois
avaliar e tratar inclusive uma figura tão difícil de compreender como é a «Igreja»”,
observou Bento XVI. Os presentes saudaram com uma salva de palmas a chegada do
papamóvel ao estádio, onde o Papa foi recebido pelo arcebispo de Berlim, D. Rainer
Maria Woelki, e o presidente do município local, Klaus Wowereit. “Às vezes sentimo-nos
como que sob uma prensa, à semelhança dos cachos de uva que são completamente esmagados.
Mas sabemos que, unidos a Cristo, nos tornamos vinho generoso”, disse Bento XVI na
sua intervenção. O Papa falou num “tempo de inquietação e indiferença, em que tanta
gente perde a orientação e o apoio, em que a fidelidade do amor no matrimónio e na
amizade se tornou tão frágil e de breve duração”. A Igreja Católica, acrescentou,
“existe para os pecadores, a fim de lhes abrir o caminho da conversão, da cura e da
vida”. “Não estamos sozinhos quando somos oprimidos por causa da nossa fé. Jesus
está connosco”, declarou. Em conclusão, Bento XVI disse que “permanecer em Cristo”
significa “permanecer na Igreja”. “Nesta comunidade, Ele sustenta-nos e, ao mesmo
tempo, todos os membros se sustentam uns aos outros. Juntos resistem às tempestades
e oferecem proteção uns aos outros. Não cremos sozinhos, mas cremos com toda a Igreja”,
frisou. Depois da homilia, os participantes foram convidados a rezar pelos “cristãos
mortos por causa da sua fé, sob a ditadura do século XX”, numa alusão ao regime comunista
da República Democrática da Alemanha, surgida após a II Guerra Mundial. (Homilia
integral em Viagens apostolicas)
Esta terceira viagem de Bento XVI à
Alemanha, 21ª ao estrangeiro (16ª na Europa), prolonga-se até domingo e conta com
passagens por Berlim, Erfurt, Etzelsbach e Friburgo, tendo como lema ‘Onde há Deus,
há futuro’.