BENTO XVI VISITA O PARLAMENTO ALEMÃO E FALA DA VISÃO CRISTÃ DA POLÍTICA
Berlim, 22 set (RV) – Na tarde desta quinta-feira, Bento XVI visitou o Parlamento
Alemão, o Bundestag, em Berlim, onde se encontrou com as seis mais altas autoridades
federais do país. Foi recebido pelo Presidente, Primeira Ministra, Presidente do Parlamento,
Presidente do Conselho Federal e o do Tribunal Constitucional Federal.
O
Santo Padre iniciou seu discurso dizendo sentir-se muito honrado e alegre por falar
diante do Parlamento da sua pátria alemã. Suas palavras não tiveram um enfoque religioso,
mas foram direcionadas a um ambiente leigo, político, tendo em vista a visão cristã
da vida da sociedade civil de hoje.
“A política deve ser um compromisso em
prol da justiça – disse o Papa - e assim criar as condições de base para a paz. Naturalmente
um político procurará o sucesso que lhe abre a possibilidade de uma ação política
efectiva, mas o sucesso há de estar subordinado ao critério da justiça, à vontade
de atuar o direito e à inteligência do direito. É que o sucesso pode tornar-se também
um aliciamento, abrindo assim a estrada à falsificação do direito, à destruição da
justiça.”
O Santo Padre continuou desenvolvendo o discurso, lembrando que “em
um momento histórico em que o homem adquiriu um poder até agora impensável, esta tarefa
torna-se particularmente urgente”. “O homem é capaz de destruir o mundo” afirmou o
Pontífice, interrogando-se sobre “como reconhecemos o que é justo e como podemos distinguir
entre o bem e o mal, entre o verdadeiro direito e o direito apenas aparente”. Ao que
responde que o pedido de Salomão permanece a questão decisiva perante a qual se encontram
também hoje o homem político e a política.
E acrescenta: “Grande parte da matéria
que se deve regular juridicamente pode ter por critério suficiente o da maioria. Mas
é evidente que, nas questões fundamentais do direito em que está em jogo a dignidade
do homem e da humanidade, o princípio da maioria não basta: no processo de formação
do direito, cada pessoa que tem responsabilidade deve ela mesma procurar os critérios
da própria orientação”.
O Papa prosseguiu ressaltando que, “na história, os
ordenamentos jurídicos foram quase sempre religiosamente motivados: com base numa
referência à Divindade, decide-se aquilo que é justo entre os homens.” “Ao contrário
de outras grandes religiões – explicou -, o cristianismo nunca impôs ao Estado e à
sociedade um direito revelado, um ordenamento jurídico derivado de uma revelação.
Mas apelou para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para
a harmonia entre razão objetiva e subjetiva, mas uma harmonia que pressupõe serem
as duas esferas fundadas na Razão criadora de Deus.”
O Santo Padre acrescentou
que “foi na base da convicção sobre a existência de um Deus criador que se desenvolveram
a ideia dos direitos humanos, a ideia da igualdade de todos os homens perante a lei,
o conhecimento da inviolabilidade da dignidade humana em cada pessoa e a consciência
da responsabilidade dos homens pelo seu agir. Estes conhecimentos da razão constituem
a nossa memória cultural. Ignorá-la ou considerá-la como mero passado seria uma amputação
da nossa cultura no seu todo e privá-la-ia da sua integralidade”.
Encerrando,
o Santo Padre sublinhou que “a cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém,
Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos
e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima
da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento
da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do
direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico”.
“Que sucederia
se nos fosse concedido a nós, legisladores de hoje, fazer um pedido? O que é que pediríamos?”
– ponderou o Papa, respondendo: “penso que também hoje, em última análise, nada mais
poderíamos desejar que um coração dócil, a capacidade de distinguir o bem do mal e,
deste modo, estabelecer um direito verdadeiro, servir a justiça e a paz”.
Apenas
como curiosidade, o Bundestag, Parlamento Federal Alemão, é formado por 622 deputados.
A atual legislação é a 17ª desde a criação da República Federal em 1949. O atual Presidente
do Parlamento é Nobert Lammert. (ED)