Kirkuk, 20 set (RV) - As transformações que os países do Oriente Médio estão
enfrentando nos últimos anos correm o risco de fomentar fundamentalismo. O Arcebispo
de Kirkuk, Dom Louis Sako, explica à agência AsiaNews que a minoria cristã, habituada
a viver sob o Islã de Estado, deve buscar o diálogo com o seus concidadãos muçulamanos
e explicar a eles que é possível viver juntos com respeito recíproco e dignidade.
Sobre
a primavera árabe e a tentativa ocidental de exportar o seu modelo de democracia,
o arcebispo reafirma: tentativas ineficazes, melhor visar a educação dos jovens. Há
anos a geografica política do Oriente Médio – no Irã, Iraque, Egito, Tunísia, Líbia
– começou a sofrer transformações.
Tais mudanças preocupam muito as minorias
religiosas e étnicas, sobretudo cristãs. Um Oriente Médio dividido em Estados étnicos,
como se fala frequentemente, destrói o mosáico do pluralismo milenar, sem trazer alguma
solução. Com um Islã de Estado, os nossos cristãos orientais na realidade encontraram
um modo de viver mais ou menos positivo.
Vivemos durante 14 séculos juntos,
numa convivência pacífica ainda que condicionada. Nós cristãos orientais estamos conscientes
do nosso futuro nestes países de maioria muçulmana. Sem simplificar ou exagerar, compreendemos
que no Islã o Estado e a religião caminham juntos e não podem ser distintos.
Também
nos países chamados laicizados nunca houve uma separação dos dois poderes, como no
caso do Ocidente. Hoje, ao invés, a situação mudou completamente. O Islã fundamentalista
está crescendo e se tornando um fenômeno sempre mais preocupante. O fundamentalistas
querem que a lei islâmica (Sharia) torne-se a lei fundamental do Estado, para salvaguardar
a sua identidade religiosa e étnica do Ocidente “ateu e corrupto”.
O Alcorão
ensina aos muçulmanos que o Islã, a religião ensinada por Maomé, o maior profeta de
todos, é a única religião verdadeira e completa. Por isso pregam a necessidade de
uma guerra santa (Jihad) para protegê-la e propagá-la. Mas isso pode se tornar muito
perigoso. A primavera árabe trouxe um forte desejo de democracia e de reconhecimento
dos direitos da pessoa.
Para além da propaganda internacional, essa idéia é
infelizmente algo de formal, que pertence a princípios teóricos e não à realidade
concreta. Neste momento o modelo europeu de democracia não funciona no Oriente Médio:
é necessário tempo para que o mesmo seja aplicado e exige uma nova cultura e formação
dos jovens.
Nós minorias cristãs, que sempre vivemos nestes países, para termos
um futuro devemos contras somente com nós mesmos, sabendo que o Ocidente é guiado
por interesses econômicos e políticos, sempre ligados ao petróleo. É preciso dizer
aos nossos concidadãos muçulmanos de modo claro e sem ambigüidades que nós somos parte
integrante desta população. Nós somos cidadãos originais dessas regiões: contribuímos
muito para a formação da cultura muçulmana, durante o califado dos “omayyadi e dos
abbasidi”; fomos os protagonistas do renascimento da nação árabe no século 18; hoje
queremos manter o nosso papel lado a lado. Devemos dizer a eles: nos os respeitamos
e os amamos porque Deus é amor e ama todos nós. Por sua vez, queremos ser respeitados
assim como somos e que a nossa religião seja respeitada.
Somente assim poderemos
confiar uns nos outros, e estreitar sempre mais as nossas relações. Por isso, é necessário
estudar juntos as razões dos nossos medos e das nossas esperanças. Com coragem e sinceridade,
dialogar sobre o nosso futuro comum com os fundamentalistas, os “irmãos muçulmanos”,
os salafitas, as autoridades sunitas e xiitas. E mostrar-lhes a nossa lealdade, o
nosso compromisso e a vontade de viver juntos com respeito e dignidade. (SP)