Cidade
do Vaticano, 18 set (RV) - Mais uma vez a liturgia nos corrige quando dizemos
que aquelas coisas boas que nos acontecem ou com os nossos amigos, são consequências
dos méritos a que fizemos jus. Do mesmo modo, quando ocorre algum acontecimento infausto,
perguntamos o que fizemos para recebermos tal castigo. Por outro lado, se isso acontece
com alguém que não no é simpático, comentamos que essa pessoa deve ter aprontado e,
por isso, recebe essa punição.
Tuda essa maneira de pensar está errada e não
é cristã. O Cristianismo trabalha com a gratuidade, isto é, com a ação de Deus, e
Deus é Pai, é Amor. Deus nos ama não por aquilo de bom que fizemos e nem nos deixa
de amar pelas coisas erradas que praticamos. O Amor ama por amar e, mesmo vendo nossas
culpas, continua nos amando. Essa é a grande eterna verdade. Somos amados gratuitamente
por Deus!
Quando Deus nos criou não existíamos, Ele nos amou primeiro sem
nenhum mérito nosso. E assim continua, porque Ele é Deus!
Isso nos diz Isaías
na primeira leitura: “Meus pensamentos não são como vossos pensamentos e meus caminhos
não são como os vossos caminhos, diz o Senhor!” (Is 55, 8)
Essa idéia é retomada
e referendada por Jesus com a parábola do patrão generoso. O patrão dá a mesma quantia
como pagamento tanto aos que começaram pela manhã, quanto aos que foram contratados
no final do dia. Ao ouvir as reclamações dos que se achavam mais cheios de méritos
que outros, ele responde: “Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com
aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?” (Mt 20,15)
A
justiça do Reino de Deus é dar a cada um o que precisa para viver e viver abundantemente,
ainda nesta terra.
Não faz parte da justiça de Deus a realidade na qual alguns
que não trabalham tanto ganham quantias enormes, e outros que trabalham muito como
empregadas domésticas, como professores de escola média, e como outros profissionais
ganham insuficiente para uma vida decente.
Todos são filhos de Deus e a igualdade
deve acontecer já nesta vida, e não apenas na outra. O amor deverá superar todas as
desigualdades e fazer justiça a todos, isto é, todos deverão ter o necessário para
uma vida tranquila com direito ao que precisam. Está errado e não é justo alguns terem
tanto e outros, nem o necessário para sobreviver. (CAS)