Rio de janeiro, 17 set (RV) - A parábola dos trabalhadores enviados para trabalhar
na vinha em horas diferentes do dia sempre criou perplexidade para as pessoas que
a leem com os olhos voltados apenas para o interesse do capital. Estamos no XXV domingo
do Tempo Comum e o texto do Evangelho é Mt 20,1-16a). A pergunta que ressoa no coração
das pessoas é se é aceitável o modo de fazer do patrão que dá o mesmo pagamento para
quem trabalhou um dia inteiro e a quem trabalhou uma hora por dia. Não viola, isso,
o princípio da justa recompensa? Os sindicatos se levantariam em coro, hoje, se
alguém fizesse o que fez esse patrão.
A dificuldade surge a partir de um mal-entendido.
Considera-se o problema da recompensa em abstrato ou, e, em geral, em referência à
recompensa eterna no céu. Visto dessa maneira, ele realmente contradiz o princípio
de que Deus "dá a cada um segundo suas obras" (Rm 2, 6). Mas Jesus está se referindo
a uma situação concreta, a um caso muito específico. O único dinheiro que é dado a
todo o Reino dos Céus que Jesus trouxe à Terra é a oportunidade de fazer parte da
salvação messiânica. A parábola começa dizendo: "O reino dos céus é semelhante a um
proprietário que saiu...". O problema é, mais uma vez, aquele da posição de judeus
e gentios, ou de justos e pecadores, em relação à salvação anunciada por Jesus. Também
se os pagãos (respectivamente, os pecadores, os cobradores de impostos, as prostitutas
etc.) somente diante da pregação de Jesus decidiram-se por Deus, enquanto antes estavam
distantes ("ociosos") e nem por isso ocuparão uma posição diferente no Reino ou inferior.
Também esses sentarão à mesma mesa e desfrutarão da plenitude dos bens messiânicos.
Na verdade, porque esses se demonstram mais dispostos a aceitar o Evangelho, do que
aqueles chamados "justos"; eis que se realiza aqui o que Jesus diz na conclusão da
parábola de hoje: "Os últimos serão os primeiros e os primeiros últimos".
A
parábola contém um ensinamento de ordem espiritual da máxima importância: Deus chama
a todos e chama em todas as horas. O problema, é, em suma, da chamada, mais do que
aquele da recompensa. Esta é a maneira com que esta parabóla foi utilizada na exortação
de João Paulo II sobre a "vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo" (Christifideles
laici). "Os fiéis leigos pertencem àquele povo de Deus que é prefigurado aos trabalhadores
da vinha... Ide também vós para a minha vinha. A chamada não é apenas para os pastores,
sacerdotes, religiosos e religiosas, mas estende-se a todos. Mesmo os fiéis são pessoalmente
chamados pelo Senhor "(CL 1-2).
Mas assim mesmo podemos reflletir sobre uma
questão social importante: o problema do desemprego. Quando perguntou ao mestre: "Por
que estais aqui ociosos o dia todo"? Os trabalhadores disseram: "Ninguém nos contratou".
Esta resposta poderia ser dada hoje por milhões de desempregados que se encontram
sem ocupação.
Na paróbola aparece o patrão que ao ver os trabalhadores desempregados
às cinco da tarde concorda em levá-los mesmo quando eles serão inúteis no trabalho,
só para lhes dar a dignidade, ao menos para lhes oferecer a oportunidade de ter um
salário e sustentar sua família. Nós ouvimos como foi feito o acordo com os trabalhadores
na primeira hora: uma quantidade de dinheiro será a sua recompensa. No momento do
pagamento, o proprietário começa a pagar a partir dos últimos, dando-lhes a mesma
quantia que tinha combinado com os primeiros. Então, pensaram os primeiros, a nós
dará mais que o combinado. Entretanto, também esses recebem o mesmo que os últimos,
ou seja, o que havia sido combinado. Ficam chateados, é claro, e murmuram entre si.
Eles estão certos, podemos pensar, afinal esta atitude não está correta, pois muitos
de nós com eles iríamos protestar, pedindo algum dinheiro a mais. Mas aquilo que receberam,
no tempo de Jesus, era o salário mínimo diário, a fim de alimentar uma família...
O patrão se preocupa e faz o bem. É bom e correto e depois revela a maldade escondida
pelos primeiros trabalhadores. Antes da justiça existe a misericórdia, acima da lei
e do contrato existe a atenção pela sobrevivência.
Aquele patrão sabe que
os trabalhadores da última hora têm as mesmas necessidades dos outros; eles também
têm filhos para alimentar, como há aqueles da primeira hora. Dando a todos o mesmo
pagamento, o patrão mostra não só levar em conta os méritos, mas também a necessidade,
diferentemente da mentalidade utilitarista, baseada exclusivamente em premiar o mérito
(com frequência mais nominal que real) e pela antiguidade, e não sob as necessidades
de cada pessoa. A parábola dos trabalhadores da vinha nos convida a encontrar um equilíbrio
mais justo entre as duas exigências: do mérito e da necessidade.
No contexto
da vinha do Senhor, neste domingo, 18 de setembro, receberemos em São Paulo, oriunda
de Madrid, a Cruz e o ícone de Nossa Senhora, que vão peregrinar pelo Brasil e parte
da América Latina em preparação à JMJ 2013 Rio de Janeiro. Que estes sinais da nossa
fé nos animem a nos preparar condignamente para participar da Vinha do Senhor!
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ