VOLATILIDADE NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS PREOCUPA A FAO
Cidade
do Vaticano, 14 set (RV) - Milho, trigo e arroz. Estes três cereais, base da alimentação
mundial, foram os produtos que mais tiveram alta nos preços até agosto deste ano.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação,
a FAO, a maior preocupação hoje é a volatilidade dos preços.
Há uma incerteza
no mercado. Os produtores investem ou fazem financiamentos para produção esperando
ter um bom preço na hora da colheita. Mas isso nem sempre acontece. Como consequência,
os produtores criam dívidas e acabam produzindo menos no ano seguinte. A Chefe do
Serviço de Operações de Emergência da FAO, Cristina Amaral, revela como a volatilidade
do mercado incide sobre os preços dos alimentos.
“Essa volatilidade cria uma
instalibidade, seja em nível de produção, seja em nível de expectativas de mercado.
Portanto o que se está a tentar fazer hoje, por meio da FAO e a pedido dos países
do G20 com outras organizações, de se criar um sistema de informação sobre mercados,
que se chamará AMIS e que vai aumentar a transparência das informações sobre mercados
agrícolas, esperando que isso possa contribuir para diminuir um pouco a volatilidade”.
Os
estoques mundiais de alimentos estão baixos e não houve recuperação. Isso porque,
apesar da produção mundial de alimentos ter crescido, o consumo também aumentou. Sobretudo
de alimento de animais e de biocombustíveis. Estes últimos são um fator novo que provoca
grandes consequencias no mercado mundial de alimentos.
“E que faz com que,
em nível mundial, os estoques nunca sejam reestabelecidos e, portanto, cada vez que
há essa oscilação, o mercado não é capaz de reagir e os preços aumentam. Esse é o
fator mais preocupante, principalmente para os países mais pobres que dependem da
importação, como Angola e Guiné Bissau, que apesar de terem uma boa produção nacional
de arroz estão ligados aos mercados internacionais e por isso os preços domésticos
serão influenciados”.
Questionada sobre uma possível repetição das revoltas
em Moçambique por causa da alta no preço dos alimentos, Cristina Amaral não acredita,
apesar de confirmar que os preços se estabilizaram, só que num patamar mais alto.
“A
situação em Moçambique é que o Sul importa milho, portanto é deficitário em milho,
e o Norte é excedentário em milho. A situação na África Austral, neste ano, é de muito
boa produção. Portanto, deveria haver uma estabilidade nos preços”.
Para diminuir
a dependência e a influência dos preços internacionais na África, a única saída é
aumentar a produtividade em terras africanas. Cristina Amaral fala sobre o que é possível
fazer a curto prazo.
“Não estamos a falar de coisas de outro mundo. Estamos
a falar de sementes melhoradas, de maior controle da água e irrigação, de utilização
responsável dos fertilizantes e produzir com tecnologias que sejam mais respeitadoras
do meio ambiente”.