(14/9/2011) O secretário para as Relações com os Estados da Santa Sé, o arcebispo
marroquino Dominique Mamberti, denunciou segunda-feira os crimes de ódio contra cristãos,
durante uma conferência da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE)
realizada em Roma. Citando a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2011,
sublinhou que “os cristãos são, atualmente, o grupo religioso que padece o maior número
de perseguições devido à sua fé. Segundo dados do Departamento para as Instituições
Democráticas e os Direitos Humanos na OSCE, este ano em pelo menos 12 Estados da área
verificaram-se episódios de violência praticada contra cristãos. As situações
mais delicadas dizem respeito ás áreas do Kosovo e da Albânia, mas verificaram -
se atos vandálicos contra prelados e igrejas também na Espanha, Bélgica, Áustria
e França. "Observamos um aumento cada vez maior da intolerância em relação a cristãos",
evidenciou o Arcebispo Mamberti, ressaltando que também nos países de maioria cristã
existem fenômenos de discriminação. Ignorar isso significaria dar um sinal negativo
aos países que não fazem parte da OSCE, explicou. "A liberdade religiosa é o primeiro
dos direitos humanos porque foi o primeiro historicamente a ser reconhecido e porque
diz respeito à dimensão constitutiva do ser humano, à sua relação com o Criador",
salientou o Secretário vaticano para as Relações com os Estados. Outro ponto importante
enfatizado é que não se pode confundir o respeito pela liberdade religiosa "com o
relativismo ou com a ideia de que na era pós-moderna a religião é um componente marginal
da vida pública", uma manifestação relegada à esfera privada. "A religião é mais
do que uma opinião privada, a religião tem sempre um impacto na sociedade e nos princípios
morais", afirmou Dom Mamberti. Naturalmente – esclareceu –, ninguém tem intenção
de confundir essas atitudes com as condenações à morte de cristãos em algumas áreas
do mundo, mas é preciso recordar que "os crimes por ódio se alimentam do ambiente
em que a liberdade religiosa não é plenamente respeitada e a religião é discriminada". Salientando
a colaboração contínua entre a OSCE e a Santa Sé sobre esses temas, o Arcebispo Mamberti
recordou a Resolução da Assembléia parlamentar OSCE adotada este ano numa reunião
em Belgrado como tendo sido "um importante passo em frente no debate sobre a intolerância
e a discriminação contra os cristãos", e fez votos de que após as declarações de princípio
"medidas concretas" sejam tomadas nesse sentido.
“É incontestável que ocorrem
crimes de ódio contra cristãos na região da OSCE”, afirmou por seu lado o diretor
do Gabinete para as Instituições Democráticas e Direitos Humanos daquela instituição,
Janez Lenarčič, durante o encontro dedicado à discussão de formas de combate a crimes
de ódio contra cristãos. O site do organismo presidido este ano pela Lituânia,
que cita as declarações do responsável eslovaco, acrescenta que se têm registado casos
de profanação de lugares de culto, fogo posto e outros prejuízos, além de agressões
a crentes e líderes religiosos. “Esses ataques instilam medo, não apenas nas pessoas
diretamente visadas mas também na comunidade mais larga, particularmente onde a comunidade
cristã em questão pertence a uma minoria”, acrescentou Lenarčič. A cimeira, inaugurada
com um discurso do metropolita cristão ortodoxo Hilarion de Volokomansk, de Moscovo,
contou com a presença de 150 representantes dos 56 estados da OSCE, da qual Portugal
faz parte, além de delegados de comunidades religiosas e organizações não governamentais. O
italiano Lamberto Zannier, secretário-geral da organização que inclui países da Ásia
Central e América do Norte, destacou as ameaças à segurança colocadas pelos crimes
de ódio e salientou a importância da recolha de informação relacionada com essas formas
de violência nos estados membros da OSCE