Campanha, 14 set (RV) - “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa
glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou”(Cf.
Gl. 6,14).
Celebramos hoje uma festa muito importante no seguimento cristão:
a EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ. “Enquanto o Mundo gira a Cruz permanece de pé”. Cruz que
representa a nossa fé. Cruz que simboliza a nossa doce salvação. Cruz que uniu o céu
a terra e a terra ao céu. Cruz que nos torna companheiros de Jesus no nosso itinerário
de salvação. Cruz que simboliza o amor absoluto de um Deus Pai que envia seu Filho,
em prova de absoluta doação, para nos amar e por amor morrer no Madeiro da Cruz.
Celebrar
a Exaltação da Santa Cruz é relembrar que é na cruz e na doce entrega de Cristo que
deve residir nossa força, porque ela é fonte de vida e fonte de salvação. Não a cruz
em si, mas todo o evento salvífico, que se iniciou na paixão, passou pela morte e
culminou na ressurreição. Tudo isso é a motivação maior da nossa esperança e da nossa
vida.
A origem da festa que celebramos remonta à dedicação das basílicas do
Gólgota e do Santo Sepulcro, constituídas pelo Imperador Constantino, em 13 de setembro
de 335, sendo que no dia imediato se mostrava os restos da Santa Cruz.
A
celebração da Santa Cruz é celebração de Nosso Senhor Jesus Cristo. É relembrar o
evento da paixão, da morte e da ressurreição de Cristo, lembrando que celebramos a
fonte que jorra a salvação para toda a humanidade. Significa celebrar o Cristo vitorioso
sobre o pecado e a morte. Mais do que tudo isso é celebrar a transfiguração do ser
humano em Filho de Deus.
A celebração de hoje nos pede uma atitude dialética:
sofrimento e triunfo, penitência e amor/reconciliação. Quando Jesus nos pede para
que para segui-lo é mister abandonar tudo, renunciar a si mesmo, tomar a sua Cruz
e Segui-Lo tem que ter presente sempre o sofrimento, a renúncia de seus próprios interesses
em benefício de um projeto muito mais amplo, muito mais desafiador, um projeto de
Igreja, um caminho de salvação. Caminhando com Cristo, nós com Ele carregamos a sua
Cruz, as suas humilhações, os pesos físicos do próprio madeiramento, nos configurando
aos mistérios da Paixão do Senhor. Por isso a liturgia de hoje nos pede que nós nos
configuremos a Cristo, que nós soframos com Cristo, que nós carreguemos a Cruz com
o Salvador, para que o nosso sofrimento, a nossa dor, se transforme em alegria, se
transforme em festa, se transforme em vitória da graça contra o pecado. Por isso,
o sofrimento como meio de redenção em Cristo e o da glória como meta, sempre em Cristo,
deve iluminar, por esta festa, todo o nosso agir e a nossa práxis de batizados.
Porque
Jesus morreu na Cruz? Esse era o castigo mais atroz contra aqueles que eram considerados
subversivos pelos romanos. A própria historiografia romana diz que a Cruz é o “máximo
suplício”. Constantino, ao se fazer batizar em 315, aboliu a condenação pela Cruz.
Mas,
a pergunta do significado da crucificação se faz necessária no dia de hoje. Quais,
afinal, eram as razões para se crucificar alguém? A primeira para castigar o criminoso.
E a segunda para intimidar a outros crimes. Tudo isso tinha um ritual. As autoridades
judiciárias escolhiam um lugar movimentado por onde aquele que seria crucificado iria
passar rumo ao calvário. Depois a crucificação era feita em lugar alto, de grande
visibilidade, para servir de corretivo para a sociedade judaica, impondo sob o madeiro
a motivação de sua condenação. Chegando ao lugar do suplício o condenado era despido
e era crucificado nu. Jesus, por ser judeu, dentro do costume daquele povo que se
escandalizava fácil, teve como consolo uma tanga ao baixo ventre do justiciado. Depois
de pregar o condenado na horizontal a cruz era suspensa, de sorte que ficava alto
para que todos pudessem assistir a condenação fatal.
A moral da história,
na linguagem moderna, de hoje é que na festa que celebramos o simbolismo da elevação
na cruz como elevação na glória, desenvolvido por são João no Evangelho nos leva a
contemplar a cruz de Cristo. Não para recair no dolorismo de tempos idos, quando se
pensava que quanto mais sofrimento, mas regalia no céu. E que Jesus teve de sofrer
na cruz para “pagar” a Deus. A liturgia de hoje nos ensina a olhar para a cruz com
um novo sentido; como manifestação do próprio ser de Deus, que é um Deus Amor. A Cruz
não é um instrumento de suplício que Deus aplica a seu Filho – por nossa culpa -,
mas o sinal de quanto o Pai e o Filho nos amam – o Filho instruído pelo Pai. Nada
de sádica exigência de sangue, só amor até o FIM.
A primeira Leitura(Cf. Livro
dos Números 21, 4-9) nos ensina o simbolismo prefigurado no episódio da serpente de
bronze que Moisés levantou diante dos olhos dos hebreus para esconjurar a praga das
serpentes. O tema de elevação/exaltação, inspirado por Is 52, 13, Servo Padecente,
preside também à segunda Leitura(Cf. Filipenses 2,6-11), sendo que aqui a exaltação
é contrabalançada pelo rebaixamento no sofrimento infligido àquele que nem deveria
considerar apropriação injusta a forma divina.
Vamos, amados irmãos, mergulhar
no mistério, na profundeza do Evangelho de hoje: o dom da vida de Jesus, morrendo
por amor fiel até a morte, na cruz, é a manifestação da glória, isso é, do ser de
Deus que aparece: pois “Deus é amor(Cf. 1 Jo 4,8-9), a tal ponto que Jesus, na hora
de assumir a morte na cruz, pode dizer: “Quem me vê,vê o Pai” (Cf. Jo 14,9).
Qual
é, caros irmãos, a conseqüência desta exaltação da Cruz? Se Cristo deu a vida por
nós, todos nós somos convidados a dar a nossa vida pelos nossos irmãos. Por isso cantemos
na segunda leitura em que Jesus esvaziado como escravo e exaltado como Senhor é o
exemplo dos que se reúnem em seu nome, parta que considerem os outros mais importantes
que a si mesmos e tenham em si o mesmo pensar e sentir dele.
Para todo ser
humano a salvação e a vida passam pela cruz. Não a cruz pela cruz. Mas a cruz como
expressão de amor, de realização do plano de Deus, do seguimento de Cristo: “Se alguém
quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que pretender
salvar a sua vida, há de perde-la; e quem perder a sua vida por amor de mim, há de
encontrá-la” (Cf. Mt 16,24-25).
A cruz é o caminho da vida. Nela se encontra
a esperança da vida. Por isso a Igreja proclama e canta: “salve, ó cruz, única esperança”.
Ou então: “Nós vos adoramos, santíssimo Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque,
pela vossa santa cruz, remistes o mundo!”
Padre Wagner Augusto Portugal. Vigário
Judicial da Diocese da Campanha, MG