11 de setembro: É fundamental fazer «o cerco àqueles que estão interessados em prosseguir
a violência».
(10/9/2011) O Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações,
Jorge Sampaio, defendeu, esta sexta feira , na Universidade Católica Portuguesa (UCP),
em Lisboa, que é fundamental fazer “o cerco àqueles que estão interessados em prosseguir
a violência”. Num seminário sobre «Dez anos após o 11 de setembro – contributos
para o diálogo inter-religioso», o antigo Presidente da República Portuguesa, realçou
aos órgãos de comunicação social que “não se pode abrandar o trabalho desenvolvido,
no sentido de encontrar um caminho de paz, segurança e desenvolvimento”.
Naquele
espaço de reflexão com vários oradores, Jorge Sampaio reconheceu também que “nem tudo
é negativo” porque “os avanços” foram notórios e a chamada «primavera árabe» é “significativo
do que as pessoas podem ambicionar”. Ao olhar para a sociedade contemporânea, o
Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações sublinha que
“não é com crises financeiras dramáticas e uma forma financeira capitalista clássica”,
cada vez “mais alavancada sobre nada e virtual”, que se pode “atingir os objetivos
do Desenvolvimento do Milénio e fazer uma caminhada de paz”.
Para além de
todas as contrariedades, dramas e violências é crucial “lutar contra elas” – referiu
Jorge Sampaio. Como os assuntos não podem ser resolvidos pelos Estados de forma
isolada, o ex-Presidente da República Portuguesa alerta para que haja um mundo “mais
capaz de encarar a necessidade de novas organizações internacionais e novo multilateralismo”
porque a “dimensão global é cada vez mais evidente”.
Apesar das dificuldades
e das décadas de trabalho, “é com os que estão em desacordo” que se deve “encontrar
plataformas de trabalho conjunto” – acrescenta. Jorge Sampaio confidenciou também
que o mundo de hoje precisa de todos aqueles que “sendo de religiões diferentes têm
princípios comuns”.
Os “azares e a violência” não acabaram, mas a mensagem
“deve ser positiva” porque “vale a pena trabalhar em prol de um mundo comum”. Se
tal não acontecer “a nossa existência deixou de ter qualquer justificação” – afirmou.
Em
relação à hipótese da repetição dos atentados do 11 de setembro de 2001, Jorge Sampaio
afirmou que “os serviços de inteligência progrediram muito”, mas “não se sabe o que
pode acontecer”. Para o representante do Centro de Estudos dos Povos e Culturas
de Expressão Portuguesa da UCP, João Paulo Oliveira e Costa, o encontro tinha o objetivo
de proporcionar o diálogo entre as pessoas “para além das religiões” porque enquanto
se vive mergulhado “nas convicções absolutas haverá convivialidade, mas dificuldade
em respeitar o outro”.
Em relação ao ataque do 11 de setembro de 2001, João
Paulo Oliveira e Costa defende que sobre aquele acontecimento pode-se fazer “muitas
interpretações”, mas “a religião foi a desculpa e as pessoas que o fizeram estavam
religiosamente motivadas para se suicidarem”. O embate dos aviões nas torres gémeas
de Nova Iorque (Estados Unidos da América) ficará na história mundial e a sociedade
“nunca esquecerá aqueles momentos” – acrescenta. Para Henrique Pinto, diretor da
CAIS e orador deste colóquio, o 11 de setembro de 2001 “não se tratou de um desencontro
ou desentendimento entre confissões religiosas”.
Passados 10 anos após a tragédia,
o orador defende que esta “foi uma ação violenta de protesto contra o sistema financeiro
e económico atual”.
“Um grito sócio-económico e político contra o império
e a arrogância de sistemas de governo que não libertam, mas escravizam e criam pobreza”
– sublinhou o orador.