BISPO DE JALES - SP RECORDA DOM CLEMENTE ISNARD: DA LITURGIA TERRANA, ELE PASSOU TRANQUILO
PARA A LITURGIA PERENE
Jales, 26 ago (RV) - A notícia chegou rápida. tinha falecido. Pelas seis da
tarde do dia 24 de agosto de 2011, de repente, em consequência de parada respiratória,
D. Clemente José Carlos Isnard concluía sua fecunda caminhada de 94 anos de vida,
74 de religioso beneditino, 68 de padre, e 51 de bispo. Como pedira a Deus, morria
sem incomodar ninguém.
Com a serenidade de sempre, concluía sua vida como quem
encerrava uma Eucaristia bem celebrada. Ele que tinha dedicado à liturgia sua competência
de perito e sua vivência de beneditino, terminava a vida como quem encerrava uma celebração
tranquila e harmoniosa. Morria transmitindo paz e garantindo bênção.
O simbolismo
da liturgia, que contagiou tanto a vida de Dom Clemente, envolve sua partida, como
última lição deixada por ele. O cair da tarde evoca o declínio da vida. Às seis horas
os monges acendem a lâmpada, que esconjura as trevas e ilumina as mentes. Da liturgia
terrena, ele passou tranquilo para a liturgia perene.
Mas o simbolismo de sua
morte não pára aí. Nestes dias finais de agosto, estávamos nos preparando para recordar
Dom Helder e , outros dois grandes bispos brasileiros, falecidos no mesmo dia, 27
de agosto, véspera da festa de Santo Agostinho.
A estes dois bispos que desenharam
com suas vidas a grandeza da CNBB, se junta neste final de agosto Dom Clemente, outro
gigante que engrandeceu o episcopado brasileiro com sua competência e seu testemunho.
Parece a subida ao Tabor, acompanhada dos três testemunhas escolhidos por Jesus: Helder,
Luciano e Clemente!
Dom Clemente foi um grande esteio da renovação litúrgica
de toda a Igreja, promovida pelo Concílio Vaticano II. Foi ele que transmitiu segurança
e firmeza à caminhada litúrgica promovida no Brasil pela CNBB.
Sua nomeação
para bispo de Nova Friburgo em 1961, foi de todo providencial. Iniciado o Concílio,
ele foi logo identificado na CNBB como bispo de referência para assuntos litúrgicos.
O primeiro tema abordado pelo Concílio foi justamente a liturgia. Dom Clemente se
sentiu logo à vontade, como bom atleta que cai na piscina e nada de braçadas. Os bispos
brasileiros sentiam firmeza nas orientações transmitidas por Dom Clemente.
Terminado
o Concílio, foi logo eleito para presidir o Secretariado Nacional de Liturgia, a quem
estava afeita a ingente tarefa de implementar a reforma litúrgica preconizada pelo
Concílio. E ele desempenhou esta missão com muita segurança e sabedoria.
Exerceu
diversos cargos, tanto em Roma como no CELAM e na CNBB. Permaneceu trinta anos na
mesma diocese, até se tornar bispo emérito, quando generosamente aceitou a incumbência
de ser o Vigário Geral na Diocese de Duque de Caxias. O que o guiava não era a busca
de status eclesial, mas o serviço à Igreja.
Como bispo emérito, teve a coragem
de expor suas reflexões sobre questões eclesiais muito complexas, manifestando seus
sonhos de uma Igreja reformada à luz do Vaticano Segundo. Publicou o livro "Reflexões
de um Bispo Emérito sobre as Instituições Eclesiásticas atuais”, que permanecerá certamente
como expressão madura de sua coerência de pastor e de seu testemunho de profeta.
Tive
a honra de gozar de sua amizade e estima, que sempre me comoveram pela nobreza de
suas manifestações. Em carta que me escreveu de próprio punho, em julho do ano passado,
manifestou de maneira singela sua disposição de trabalhar, apesar de sua avançada
idade. Escreveu ele textualmente: "Ainda gostaria de viver mais alguns anos para concluir
certos trabalhos...” E lembrou o livro do seu grande amigo, Padre Bugnini, secretário
da Comissão de Liturgia durante o Concílio.
Dom Clemente concluiu a grande
liturgia de sua vida aqui na terra. Que ele continue lá no céu intercedendo por nós.
Precisamos de seu exemplo para sermos coerentes com a caminhada de renovação eclesial,
proposta pelo Concílio, e assumida de maneira tão generosa por Dom Clemente.