Uma sociedade incapaz de assumir e partilhar o sofrimento é cruel e desumana: Bento
XVI visitando ao fim da tarde uma Casa para acolhimento de crianças e jovens deficientes
(20/8/2011) A caminho do aeródromo de Cuatro Vientos, Bento XVI deteve-se em visita
a uma Casa de acolhimento e acompanhamento de jovens deficientes, Instituto de São
José, dos Irmãos de São João de Deus fundado há mais de 100 anos. Saudando os jovens
ali internadas e o pessoal que os assistem, Bento XVI recordou o que na sua Encíclica
sobre a esperança cristã (Spe salvi, 38) afirmou relativamente ao modo de encarar
e tratar os que sofrem:
«A grandeza da humanidade determina-se essencialmente
na relação com o sofrimento e com quem sofre. (…) Uma sociedade que não consegue aceitar
os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que
o sofrimento seja compartilhado e assumido, mesmo interiormente, é uma sociedade cruel
e desumana».
“Estas palavras (sublinhou) reflectem uma larga tradição de humanidade
que brota da oferta que Cristo faz de Si mesmo na Cruz por nós e pela nossa redenção.
Jesus e, seguindo os seus passos, sua Mãe Dolorosa e os santos são as testemunhas
que nos ensinam a viver o drama do sofrimento para o nosso bem e a salvação do mundo.
Estas testemunhas falam-nos, antes de mais nada, da dignidade de cada vida humana,
criada à imagem de Deus ».
« Nenhuma aflição é capaz de apagar esta efígie
divina gravada no mais fundo do homem. E não só: desde que o Filho de Deus quis abraçar
livremente a dor e a morte, a imagem de Deus é-nos oferecida também no rosto de quem
padece. Esta predilecção especial do Senhor por quem sofre leva-nos a contemplar o
outro com olhos puros, para lhe dar, além das coisas exteriores de que precisa, aquele
olhar de amor de que necessita. Mas isso, só é possível realizá-lo como fruto de um
encontro pessoal com Cristo.”
Dirigindo-se aos que prestam serviço às crianças
e jovens tratados nesta Casa, o Papa sublinhou que eles, “com a sua vida e dedicação,
proclamam a grandeza a que é chamado o homem: acompanhar quem sofre, como o fez o
próprio Deus. Como diz Jesus: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Por outro lado, “de maneira misteriosa
mas muito real” (concluiu o Papa), “a presença deles suscita nos nossos corações,
frequentemente endurecidos, uma ternura que nos abre à salvação. Sem dúvida, a vida
destes jovens muda o coração dos homens e, por isso, damos graças ao Senhor por tê-los
conhecido”.