Homilia da Missa, na catedral de Almudena, com os seminaristas
(2078/2011) Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid, Queridos Irmãos no Episcopado, Queridos
sacerdotes e religiosos, Queridos reitores e formadores, Queridos seminaristas, Meus
amigos!
Sinto uma profunda alegria ao celebrar a Santa Missa para todos vós,
que aspirais a ser sacerdotes de Cristo para o serviço da Igreja e dos homens, e agradeço
as amáveis palavras de saudação com que me acolhestes. Hoje esta Catedral de Santa
Maria a Real da Almudena lembra um imenso cenáculo onde o Senhor desejou ardentemente
celebrar a Sua Pascoa com todos vós que um dia desejais presidir em seu nome os mistérios
da salvação. Vendo-vos, comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos
para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta
do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser
continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua
voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde
os vossos olhos n’Ele, que, pela sua encarnação, é o revelador supremo de Deus ao
mundo e, pela sua ressurreição, é a fiel realização da sua promessa. Dai-Lhe graças
por este sinal de predilecção que reserva para cada um de vós. A primeira leitura
que escutámos mostra-nos Cristo como o novo e definitivo sacerdote, que fez uma oferta
total da sua existência. A antífona do salmo aplica-se perfeitamente a Ele, quando,
ao entrar no mundo, Se dirigiu a seu Pai dizendo: «Eis-me aqui para fazer a tua vontade»
(cf. Sal 39, 8-9). Procurava agradar-Lhe em tudo: ao falar e ao agir, percorrendo
os caminhos ou acolhendo os pecadores. A sua vida foi um serviço, e a sua dedicação
abnegada uma intercessão perene, colocando-Se em nome de todos diante do Pai com Primogénito
de muitos irmãos. O autor da Carta aos Hebreus afirma que, através desta entrega,
nos tornou perfeitos para sempre, a nós que estávamos chamados a participar da sua
filiação (cf. Heb 10, 14). A Eucaristia, de cuja instituição nos fala o evangelho
proclamado (cf. Lc 22, 14-20), é a expressão real dessa entrega incondicional de Jesus
por todos, incluindo aqueles que O entregavam: entrega do seu corpo e sangue para
a vida dos homens e para a remissão dos pecados. O sangue, sinal da vida, foi-nos
dado por Deus como aliança, a fim de podermos inserir a força da sua vida onde reina
a morte por causa do nosso pecado, e assim destruí-lo. O corpo rasgado e o sangue
derramado de Cristo, isto é, a sua liberdade sacrificada, converteram-se, através
dos sinais eucarísticos, na nova fonte da liberdade redimida dos homens. N’Ele temos
a promessa duma redenção definitiva e a esperança segura dos bens futuros. Por Cristo,
sabemos que não estamos caminhando para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte,
mas seguindo para a terra prometida, para Ele que é nossa meta e também nosso princípio. Queridos
amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para ser companheiros
de viagem e servidores dos homens. Como haveis de viver estes anos de preparação?
Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo
constante e de progressiva inserção nas actividades e estruturas pastorais da Igreja.
Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu
Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade
e com os nossos pecados. Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e
pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do género humano.
A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objectiva da própria pessoa
de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto
que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre
o sinal que somos e a realidade que queremos significar. Meditai bem este mistério
da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade,
de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o
tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os
destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada
tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo. Por isso, em
toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o
sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas
no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar
a sua vida com o mistério da cruz do Senhor. Configurar-se com Cristo comporta,
queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo,
sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote
há-de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos
cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la
(cf. Flp 3, 12-14). Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que
cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11). Para imitar
nisto também o Senhor, o vosso corações tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se
totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que
inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens
da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação. Pedi-Lhe,
pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir
os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem
ao bom caminho. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres,
com simplicidade e generosidade. Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade,
mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço,
sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa
humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais. Apoiados no seu amor,
não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual
os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder,
o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem
aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram
hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente
como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade
e a justiça. Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor
para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando
para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para
ser seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da
Igreja. Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso
e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que
não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos
irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila. Animados
pelo seu exemplo, olhai sobretudo para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá
forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente
a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo. Amen.