PRESIDENTE DO IOR, GOTTI TEDESCHI: COLOCAR A PESSOA NO CENTRO DA ECONOMIA, PARA SAIR
DA CRISE
Cidade do Vaticano, 10 ago (RV) - A economia "precisa da ética para o seu correto
funcionamento; não de uma ética qualquer, mas de uma ética amiga da pessoa". Essa
é uma das passagens da "Caritas in veritate" de Bento XVI.
Trata-se de uma
encíclica que – nestes dias – se mostra de extrema atualidade, num momento em que
se acompanha com apreensão a expansão da crise econômico-financeira, e a incapacidade,
por parte de governos, de se relançar a economia.
Justamente da "Caritas in
veritate" parte a reflexão do Presidente do Instituto Obras Religiosas (IOR) – Banco
do Vaticano –, o economista Ettore Gotti Tedeschi, entrevistado pela Rádio Vaticano:
Ettore
Gotti Tedeschi:- "Poderia dar também a minha opinião, mas prefiro partir do que
diz o Papa na encíclica "Caritas in veritate", quando explica que a origem do comportamento
dos homens que geriram o instrumento econômico e financeiro é de caráter moral. O
homem, perdendo o sentido do real, o sentido da referência da verdade e deixando-se
levar pela busca de liberdades absolutas, transformou o instrumento econômico em fim,
ao invés de meio, deixando que este assumisse autonomia moral. Acabamos por ver o
instrumento que privilegia a si mesmo, ao invés de privilegiar o homem."
RV:
De fato, a política parece impotente diante da necessidade de administrar essa especulação
financeira, e de relançar a economia...
Ettore Gotti Tedeschi:-
"Diria que a política – precisamente, não na Europa – foi quem deu início a essa situação,
porque a política – sobretudo estadunidense – quis manter um grande crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) a custa de endividamento, fazendo com que as famílias
se endividassem quase 50% a mais em dez anos, ao impulsionar um consumismo que era
indispensável para fazer o PIB estadunidense crescer. Isso foi seguramente defendido
– ou ao menos encorajado – pela política. E a política hoje se deu conta, por uma
razão muito simples, de não mais conseguir gerir essa situação: deu-se conta de que
hoje não mais existe uma política forte! Onde se encontra, hoje, uma referência política
forte? Pensávamos, como nos últimos 40 anos, que se encontrasse nos EUA. Mas os EUA
governam, hoje, a economia mundial? Não, porque o mundo se globalizou! Aquilo que
antes poderia ser uma referência de grandes decisões, de grandes intervenções de caráter
político em nível internacional, hoje se autolimitou!" (RL)