2011-08-06 12:59:34

EDITORIAL DA SEMANA: OPÇÃO PELO LUCRO EM DETRIMENTO DA VIDA HUMANA


RealAudioMP3 Cidade do Vaticano, 06 ago (RV) - Temos dado amplo espaço, em nossas transmissões e publicações, ao drama vivido pelos já martirizados povos do chamado "Chifre da África", que passa agora por sua pior crise humanitária dos últimos 60 anos. A situação de penúria porque passam tais povos agrava-se de modo particular na Somália. Treze milhões de pessoas encontram-se em situação de miséria absoluta. A crise no Chifre da África é provocada principalmente pela fome, pelos intermináveis conflitos e pela alta dos preços dos alimentos.

A crise humanitária vivida na península situada no Leste do continente africano soma-se a tantas outras situações de sofrimento e dor presentes neste continente de onde, segundo estudos antropológicos, somos todos oriundos.

Mas o drama de povos africanos, como se sabe, não se verifica somente em terra firme.

Um barco de 20 metros de comprimento, inicialmente com 300 pessoas a bordo, deixou na sexta-feira da semana passada a costa da Líbia – país em guerra –, iniciando assim a "travessia do desespero" em direção à ilha italiana de Lampedusa, localizada no sul da península. Devido a uma avaria no motor, a embarcação ficou dias à deriva, com as pessoas sem água e sem alimento, resultando na morte de cerca de cem delas. Alguns corpos acabaram sendo lançados ao mar.

Já é bastante conhecida essa "travessia do desespero". Trata-se, portanto, de uma enésima tragédia anunciada. Pessoas em fuga da guerra, vítimas inocentes que fazem aumentar as cifras de um drama que já matou, nas águas do canal da Sicília, pelo menos 5.962 pessoas desde 1994.

Os dados de que se tem conhecimento é de que a embarcação encontrava-se a 90 milhas da ilha de Lampedusa e a 27 milhas de um navio da OTAN. Apesar da proximidade, o navio da Organização do Tratado do Atlântico Norte teria se negado a responder ao apelo de socorro lançado pelas autoridades italianas em favor destes. Certamente, a OTAN encontrava-se por demais ocupada – por alegadas "razões humanitárias" – em bombardear a Líbia, não podendo assim socorrer esses pobres africanos em fuga daquele mesmo país.

Ao mesmo tempo, nestes dias de “queda” livre da Bolsa de Valores em várias partes do mundo econômico, vemos a “comoção” generalizada por todo canto.

Também chama nossa atenção o relatório “Sacrificando Direitos em Nome do Progresso” feito pela Anistia Internacional no tocante à construção da imposta hidroelétrica de Belo Monte, em nossa região amazônica, e suas desatrosas consequências em relação aos povos indígenas. Esse relatório só confirma o que já sabemos pelas inúmeras advertências, dentre outros, feitas pelo combativo Bispo da Prelazia do Xingu, no Pará, Dom Erwin Kräutler.

A imposta hidrelética de Belo Monte é um dos atuais pontos de sacrifício do indígena brasileiro em favor do progresso de empresários brasileiros e de interesses comerciais.

Um pesquisador da Anistia Internacional, Patrick Wilcken, disse que “os planos ambiciosos” do Governo brasileiro para construir centenas de hidroelétricas em toda a Amazônia irão causar “enormes problemas para a sobrevivência desses povos”.

Os direitos dos indígenas são violados, eles são expulsos de suas terras e assassinados, eles são uma “pedra no sapato”! – afirma.

Por outro faltam dólares quando alguma soma é solicitada para salvar vidas humanas, mas o mesmo não acontece quando é preciso salvar bancos e instituições financeiras em geral. Nesse caso, milagrosamente, milhões de dólares aparecem!

O que significa a morte e a vida em uma sociedade como a nossa? Quando se tira o homem do contexto sócio-econômico, o que sobra? A massa não tem nome. As pessoas que morreram próximo a Lampedusa foi um número de africanos, sem identidade, foram números.

De que adianta nosso progresso nas comunicações, no conhecimento médico, na engenharia com suas mega construções, toda propaganda ecológica, se o ser humano nada vale? Tudo é vaidade! E o que conta é o business!

Na hora da decisão, ou seja, na hora da cisão, do corte, o dinheiro é preservado, é valorizado, e o ser humano, desvalorizado. Está tudo errado! É preciso rever nossos valores e aonde nos levam nossas ideologias.

“Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”, disse-nos o Mestre!

Pe. Cesar Augusto dos Santos, S.J.







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