Cidade
do Vaticano, 1° ago (RV) – O Ramadã começa nesta segunda-feira nos países do Islã.
Durante o mês de jejum, os muçulmanos não podem comer, beber, fumar ou manter relações
sexuais entre o nascer e o pôr-do-sol. O Ramadã é um dos cinco pilares do Islamismo
e assinala a revelação do Alcorão a Maomé pelo Arcanjo Gabriel.
O Presidente
do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Arcebispo Pier Luigi Celata,
explica o que acontece nesse período.
“Para o muçulmano praticante, como sabemos,
o mês do Ramadã é particularmente importante seja no âmbito pessoal e familiar, seja
naquele social. Os muçulmanos são, de fato, convidados neste período a reencontrar
com mais profundidade o seu relacionamento com Deus e com eles mesmos, por meio do
jejum, da oração, o dom da misericórdia de pedir a Deus e a doar aos outros, a esmola
e a cura dos relacionamentos pessoais. Aos nossos irmãos muçulmanos asseguramos, antes
de tudo, a nossa proximidade espiritual, desejando que possam realizar tudo aquilo
que seus corações tementes a Deus desejam para eles mesmos e para todos os homens,
com maior atenção aos pobres e marginalizados, com uma solidariedade maior, e com
respeito pela vida e pela paz”.
Da Terra Santa chega ainda a mensagem do Patriarca
Latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal. Ele destaca a proximidade do clero e dos fiéis
da Terra Santa aos muçulmanos “neste tempo dedicado também aos atos de devoção, gestos
de caridade, ao perdão e ao arrependimento”. No fim, Dom Twal pede que Deus abençoe
o jejum dos muçulmanos e que “os políticos possam se inspirar para promover uma reconciliação
sincera e encontrar uma solução justa as aspirações do povo da Palestina pelo Estado
independente e que a paz reine sobre todos os povos da Terra Santa e dos países árabes
vizinhos”.
Primavera Árabe
Este é o primeiro Ramadã desde o início
das revoltas populares nos países árabes. O medo dos atentados é crescente, pois ao
nono mês lunar do calendário muçulmano é associada uma imagem de sacrifício que pode
se somar ao clima revolucionário nas tradições típicas deste mês de jejum muçulmano.
No
Iraque, a segurança foi reforçada.
Já no Egito, grupos políticos afirmaram
que vão suspender as manifestações na Praça Tahrir, centro do Cairo, durante o mês
do jejum. Afirmam que vão continuar exigindo que o conselho militar que assumiu o
poder após a renúncia de Mubarak acelere as reformas e o julgamento de ex-autoridades
que enfrentam acusações de corrupção e assassinato.
Na Síria não serão interrompidas
as manifestações durante o Ramadã, embora a brutal repressão deste domingo cometida
pelas forças leais ao presidente Bashar al Assad deixaram claro que o regime tentará
por todos os meios conter os manifestantes.
O Observatório Sírio para os Direitos
Humanos (OSDH) denuncia que desde o início da rebelião, os confrontos deixaram mais
de 1.900 mortos, incluindo mais de 1.500 civis.
Ativistas opositores convocaram
pela Internet protestos maciços em diferentes praças do país após as orações nas mesquitas.
Um deles estimou em seu site que no país existem 10 mil mesquitas. Se em cada
um dos templos, mil muçulmanos rezarem durante o Ramadã, haverá dez milhões de fiéis
reunidos.
No Barein, outro cenário da primavera árabe, aumentam os chamados
para arrecadar ajuda financeira para o Ramadã das famílias dos mortos e dos detidos
durante os protestos pró-reformas, que começaram em 14 de fevereiro.
Ao contrário
de outros anos, quando os fiéis armazenaram comida para enfrentar a escassez, os mercados
do Barein não receberam nos últimos dias muitos clientes.
Na Jordânia, o
Governo adotou medidas para garantir que os preços dos produtos básicos não aumentem
durante o Ramadã e para também evitar que ocorram manifestações em protesto pela alta
dos preços dos alimentos.
Contrários aos outros revolucionários árabes, os
manifestantes jordanianos, que protagonizaram nos últimos cinco meses protestos pedindo
reformas políticas, não planejam recrudescer as manifestações da "primavera árabe"
durante o Ramadã. (CM/RB)