Cidade
do Vaticano, 31 jul (RV) - A liturgia de hoje nos fala da providência e da prodigalidade
de Deus. Ao mesmo tempo nos remete à situação de penúria e fome em que um bilhão de
pessoas passa fome, ou seja, um sexto da Humanidade. Nestes dias a atenção do Mundo
está voltada para a região chamada Chifre da África, onde 12 milhões de pessoas são
atingidas pela pior seca dos últimos sessenta anos na região e é considerado atualmente
o pior desastre humanitário pelo qual o mundo está passando .
Como unir a Providência
pródiga a essa situação catastrófica? A falha não é do Criador. Se o banquete da
vida se tornou privilégio de poucos, deveremos refletir e revisar a disposição que
nos leva à celebração semanal da Vida, ou seja, a celebração onde é realizada a partilha
do Pão.
Em Isaías - a primeira leitura deste domingo - Deus subverte o “status
quo” convidando os pobres a saírem da penúria e a vivenciarem a partilha da criação.
Esse convite é para uma libertação, libertação da dependência dos produtores de alimentos,
daqueles que se assenhorearam dos bens da criação e exercem poder sobre o direito
das pessoas de se alimentarem como Deus, nosso Pai, pensou, oferecendo-nos uma natureza
dadivosa. Deus não quis irmãos explorando irmãos e matando-os de fome, mas criou tudo
para todos.
No Evangelho, Jesus faz exatamente a vontade do Pai. Não deixa
ninguém passar fome. Ao contrário, não é apenas pódigo com a comida material, mas
no futuro se fará nosso alimento, quando nos der, através do pão e do vinho, seu corpo
e eu sangue como alimento eterno.
Mas vejamos o contexto em que se realiza
o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. São Mateus nos fala, inicialmente,
do banquete de Herodes, banquete onde apesar de se consumir alimentos, não se celebra
a vida, mas a morte. Seus comensais estão ali com o intuito de exercer poder, de pressionar,
de jogar interesses. Não pensam no outro, mas em si mesmos, em se manterem, mesmo
a custo do sofrimento e da morte do inocente. O grande inocente morto nesse banquete
herodiano foi João Batista. Sua culpa foi não aceitar a vida devassa do potentado.
Já
o banquete que Jesus proporciona ao povo se dá a céu aberto e realizado com bastante
compaixão, após falar do carinho do Pai e curar os doentes que ali estavam. É o banquete
da Vida, que sacia plenamente aqueles que dele participam. As desigualdades foram
supressas, todos saciados, curados e amados.
A solução apresentada por Jesus
não foi um milagre econômico e nem religioso, mas a partilha dos bens da Criação.
Em outra passagem do Evangelho, Jesus diz que aos pobres é revelado o Reino
de Deus e eles entendem a mensagem do Reino. E é verdade! No tocante à partilha dos
bens, ninguém entendeu melhor que eles. Dentro de sua pobreza e até miséria, o pobre
sabe dividir o que possui.
Nossas celebrações eucarísticas deveriam deixar
de ser mero ritual e passar a ser aquilo a que se propõem e que é querido por Jesus,
isto é, partilha da Vida. Partilha do Pão da Vida, que é Jesus e partilha do pão que
dá a vida material, partilha essa que indica a autenticidade de nossa celebração Eucarística.
Ainda
considerando as palavras de Jesus – quem fizer algo ao menor dos meus irmãos, a mim
estará fazendo – podemos ter a consciência de que ao partilharmos com o pobre, mesmo
sendo uma pessoa desconhecida e que jamais a conheceremos, vale a palavra de Jesus.
Não importa se o gesto de partilhar poderá nos tornar mais pobres, importa agradar
Jesus e viver o espírito da segunda leitura: nada nos poderá separar do amor de Deus,
seja, bem-estar, fome, nudez, conforto.
Que nossas Eucaristias realizem de
fato o que pretendem: a partilha da Vida, o sentar-se à mesa, com o irmão, na Casa
do Pai.
Como consequência não haverá mais carentes, sejam materialmente, afetivamente
ou espiritualmente.
E dirão sobre nós: vejam como se amam! E consequentemente,
o Senhor aumetará o número de nossos companheiros. (CAS)