IRAQUE: CRISTÃS E MUÇULMANAS REUNIDAS PELA IGUALDADE E PELO FIM DA VIOLÊNCIA
Kirkuk, 29 jul (RV) – Mulheres cristãs e muçulmanas, no Iraque, uniram-se para
lutar contra a violência. A União Livre das Mulheres (cristãs) de Bethnahrain, em
Kirkuk, no norte do país, realizou nesta sexta-feira, na grande sala da catedral caldeia,
uma conferência sobre o tema da violência contra as mulheres. Presentes, mais de 100
mulheres cristãs e muçulmanas, além de componentes do governo e da sociedade civil.
Já como preparação para o evento, a União havia feito uma pesquisa com mil
mulheres em Kirkuk interrogando sobre as violências por elas sofridas. 80% das entrevistadas
revelaram ter sofrido algum tipo de violência – variando na gravidade de caso a caso
– e disseram perceber que o fenômeno está em plena escalada.
O encontro contou
com a participação ainda do Arcebispo de Kirkuk, Dom Luis Sako, que ilustrou o olhar
cristão para a mulher. “O cristianismo – ressaltou o prelado – jamais considerou que
as mulheres sejam inferiores aos homens ou sejam um elemento de importância secundária.
Na hierarquia, segundo o conceito teológico da Criação, há igual importância no referente
a valor humano e capacidade”.
Retomando as palavras da Bíblia de que “Deus
criou o homem a sua imagem e semelhança”, disse que homens e mulheres foram criados
à imagem e semelhança de Deus, e ressaltou que esse mesmo conceito é retido no Novo
Testamento “a Nova Criação continua de glória em glória”. Ele explicou que, mesmo
podendo criar seres superiores e inferiores, de acordo com a visão cristã, Deus criou
o gênero humano – macho e fêmea – e os dotou de igual valor e dignidade em tudo. “Mulheres
e homens – continuou o prelado – são parceiros complementares na criação e na salvação
operada por Cristo.”
Segui sua explicação expondo que, no Evangelho, não se
faz diferença alguma entre mulheres e homens, pois ambos derivam da essência de Deus
Pai. “Em Deus não há distinção de sexo, nem a favor das mulheres, nem em benefício
dos homens”, disse o Arcebispo, completando que a discriminação contra as mulheres
não existe em Deus, não vem de Deus. E relembrou o modo íntegro como Jesus sempre
tratou as mulheres, afirmando que esse é o exemplo a ser seguido.
Recordou
também as palavras do Papa João Paulo II na sua Exortação Apostólica “uma nova esperança
para o Líbano”, de 1997, na qual afirma claramente que as mulheres merecem especial
atenção para que seus direitos sejam respeitados. Na ocasião, o Papa lembrou que a
Igreja, na doutrina antropológica e educativa, sublinha a paridade de direitos entre
mulheres e homens, já que “todo ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus”.
Concluindo, prelado afirmou que as mulheres devem ter, em paridade com os
homens, direitos políticos, sociais, econômicos e educacionais, ou seja, devem ser
tratadas com a mesma dignidade e sem discriminações. Ele criticou, em seguida, “o
equivocado sistema patriarcal e os seus obsoletos usos e costumes na sociedade, os
quais estão na origem dos fenômenos de violência contra as mulheres, porque as classifica
como inferiores”.
No fechamento da Conferência foram elencados alguns pontos
fundamentais para a valorização da obra feminina. Entre esses, a formação da personalidade
da mulher, a auto-valorização de si mesma, das suas convicções e a firmação da confiança
em si mesma. Foi ressaltada a importância de se lutar contra todo o tipo de discriminação,
lutando pela justiça, paz e unidade da Criação. Como instrumento para que essas ações
sejam realizadas, aconselhou-se a leitura, o estudo a análise, as ações feitas com
consciência, e não movidas por uma obediência cega.
Por fim, falou-se da presença
ativa da mulher, que deve ter um papel de decisão e também no que diz respeito à fé,
tanto nas igrejas, quanto nas mesquitas, favorecendo o respeito pelo plano divino
e condenando todo tipo de violência. (ED)