Cidade
do Vaticano, 30 jul (RV) - Imagens da fome que sacodem a nossa consciência continuam
girando o mundo, trazendo às nossas casas um drama de milhões de pessoas que sobrevivem,
dia após dia, com a ajuda humanitária de outros países, quando essa chega. Estamos
falando do drama da seca que afeta os países do chifre da África, a pior dos últimos
60 anos. Segundo diretor da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e Agricultura, Jacques Diouf, são necessários 1 bilhão e 600 milhões de dólares nos
próximos 12 meses.
O Banco Mundial decidiu repassar 500 milhões de dólares.
O Brasil está entre os 10 principais doadores com 34,5 milhões de Reais em alimentos.
O
drama da fome que vivemos é vergonhoso. A situação a que chegamos numa chamada “Civilização
Moderna”, evidencia de modo gritante os muitos abismos que a mesma construiu como
o drama da fome que mata todos os dias milhões de pessoas em todo o mundo, a maior
parte crianças. Ao mesmo tempo esse mesmo “mundo civilizado” apresenta outra face
da medalha onde a obesidade, por erros e excessos alimentos, deforma toda uma geração
de crianças e jovens. É um mundo de contrastes entre luxo e lixo, riqueza material
e miséria moral. Mas por que a fome não acaba? Pergunta legítima. Talvez a resposta
seja simples, mas ao mesmo tempo complicada. Aparentemente, a fome não existe por
carência na produção de alimentos e sim pela má distribuição de riquezas, principalmente
nos países pouco desenvolvidos, em que o capital é concentrado nas mãos da minoria
e em detrimento à maioria. A ganância de alguns pisoteia o desejo de muitos de ter
uma vida digna. No mundo quase um bilhão de pessoas dorme com fome toda noite. Como
isso não pode sacudir a nossa consciência todas as vezes que colocamos a cabeça no
travesseiro para dormir? Segundo informações de agências de notícias internacionais,
é irônico o fato de que, no mundo, é usado mais dinheiro em campanhas contra a obesidade,
do que contra a epidemia ''FOME''.
A fome deriva, antes de mais, da pobreza.
A segurança alimentar das pessoas depende essencialmente do seu poder de compra, e
não da disponibilidade física de alimentos. A fome existe em todos os países: voltou
inclusive a aparecer nos países europeus, tanto do Oeste como do Leste. Contudo, a
história do século XX ensina que a pobreza econômica não é uma fatalidade. Verifica-se
que muitos países progrediram economicamente e continuam a fazê-lo; outros, pelo contrário,
sofrem uma regressão, vítimas de políticas - nacionais ou internacionais - assentes
em falsas premissas.
A fome pode resultar ao mesmo tempo de políticas econômicas
inadequadas e de estruturas e costumes pouco eficazes e que contribuem para destruir
a riqueza dos países. Deriva também de comportamentos lamentáveis a nível moral: busca
egoísta do dinheiro, do poder e da imagem pública; a perda do sentido de serviço à
comunidade; sem esquecer o importante grau de corrupção, sob as mais diversas formas.
Os
dados falam claramente: quase 1 bilhão de pessoas desnutridas no mundo; 11 mil crianças
morrem de fome a cada dia; Um terço das crianças dos países em desenvolvimento apresentam
atraso no crescimento físico e intelectual. Uma pessoa a cada seis padece fome no
mundo.
Um dos grandes brasileiros da nossa história, o sociólogo Josué de Castro
nos seus trabalhos de pesquisa e denúncia já dizia em meados do século passado que
o “que divide os homens não são as coisas, são as idéias de que eles têm das coisas,
e as idéias dos ricos são bem diferentes das idéias dos pobres. A fome não é um fenômeno
natural, mas sim político”. Isto é, não depende nem é resultado dos fatos da natureza,
mas sim é fruto de ações dos homens, de suas opções, das escolhas que fazem para os
seus países.
É necessário o empenho de todos para mudar a situação de milhões
de pessoas que padecem a fome. Os países ricos, os potentes da terra devem ajudar
e dar a sua contribuição. Quem sabe, assim, as populações africana, asiática, latino-americana
possam ter melhores condições de vida. A situação precisa ser enfrentada, pois
uma pessoa faminta não é uma pessoa livre. (Silvonei José)