Rio de Janeiro, 23 jul (RV) - Ente as alegrias dos encontros de comunicação
que tivemos a oportunidade de hospedar nas últimas duas semanas, acrescentamos o 50º
Curso de Canto Pastoral. Cantar a Liturgia é também comunicação! Este ano ele foi
dedicado ao Mons. Amaro Cavalcante de Albuquerque Filho que o iniciou aqui no Rio
de Janeiro. Foram muitos encontros nesse mesmo estilo espalhados pelo Brasil na década
de 60. Esses cursos, frutos do “movimento litúrgico”, antecedeu, preparou e concretizou
posteriormente o Concílio Vaticano II. Ele conta com uma parte teórica e formativa
e outra de ensaio das novas melodias que a cada ano enriquecem o repertório musical
de nossa Igreja. Mas, o Canto Litúrgico é também catequético. Ele supõe e educa à
fe.
O desafio da Igreja é a evangelização do mundo de hoje, mesmo em territórios
onde a Igreja já se encontra implantada há mais tempo. Nossa realidade pede uma nova
evangelização. A catequese coloca-se dentro desta perspectiva evangelizadora, mostrando
uma grande paixão pelo anúncio do Evangelho. Entrar no Mistério Pascal supõe uma catequese
aprofundada. Talvez a grande dificuldades hoje seja justamente essa! Não bastam apenas
as adaptações exteriores, é importante um aprofundamento da fé no Mistério Eucarístico.
Por
isso seria importante que, como consequência dos encontros de Comunicação (Seminário
dos Bispos e Mutirão Brasileiro de Comunicação) e do jubileu de ouro dos encontros
de Canto Pastoral, que pudéssemos estar nos comprometendo ainda mais com a Iniciação
Cristã para uma catequese que aprofunde a fé de nosso povo.
Sendo o anúncio
de Jesus Cristo um momento da evangelização (querigma), a catequese é um modo, dando-lhe
continuidade. Sua finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o convertido
para que se incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe a evangelização.
Por sua vez à catequese segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis
já iniciados à fé, no seio da comunidade cristã através da formação continuada. Catequese
e ação pastoral se impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus
Cristo. A atividade da Igreja, de modo especial a catequese, traduz sempre a mística
missionária que animava os primeiros cristãos. A catequese exige conversão interior
e contínuo retorno ao núcleo do Evangelho (querigma), ou seja, ao Mistério de Jesus
Cristo em sua Páscoa libertadora, vivida e celebrada continuamente na liturgia. Sem
isso, ela deixa de produzir os frutos desejados. Toda ação da Igreja leva ao seguimento
mais intenso de Jesus e o compromisso com seu projeto missionário.
A liturgia
é comunicação, mas é também catequese. Por isso, junto com o primeiro anúncio, sempre
temos que nos preocupar com o aprofundamento da fé.
O fruto da evangelização
e da Catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra, aceitar Deus na própria vida,
como dom da fé. Há certas condições da nossa parte, que se resumem em duas palavras
evangélicas: conversão e seguimento. A fé é uma caminhada, conduzida pelo Espírito
Santo, a partir de uma opção de vida e uma adesão pessoal a Deus, através de Jesus
Cristo, e ao seu projeto para o mundo. Isso supõe também uma aceitação intelectual,
um conhecimento da mensagem de Jesus. O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém,
na comunidade fraterna. O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica
renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade
e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão.
A
catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que ela
mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal.
A catequese faz parte do ministério da Palavra e do profetismo eclesial. O catequista
é um autêntico profeta, pois pronuncia a Palavra de Deus, na força do Espírito Santo.
Fiel à pedagogia divina, a catequese ilumina e revela o sentido da vida.
A
catequese comunica uma experiência de vida, um compromisso de fé, um caminho de seguimento.
"O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos próprios
olhos, o que contemplamos, o que nossas mãos tocaram acerca da palavra de vida...
isto vo-lo anunciamos, a fim de que estejais unidos a nós" (cf 1Jo 1,1-3).
A
catequese, mais do que transmitir verdades, comunica uma mensagem de vida, de fé,
de compromisso com Deus, consigo mesmo, com o irmão e com a comunidade.
A catequese
acontece através da intercomunicação pessoal e através da comunicação grupal como
exercício de vida comunitária e partilhada.
A catequese agora necessita avançar
para o uso dos equipamentos modernos de comunicação. As novas gerações nascem dentro
da tecnologia.
A catequese na sua missão de fazer ecoar a mensagem da Boa Nova
de Cristo, deve criar instrumentos que garantam um processo de comunicação participativo
e circular; valorizar a presença na comunidade local dos catequistas com uma formação
especial no campo da comunicação. A Igreja deve estar atenta às perspectivas que se
abrem no campo da educação a distância.
O educador na fé procura continuar
a missão iniciada por Jesus guiado pelo Espírito Santo. Este serviço na Igreja é de
fundamental importância. A Igreja valorizando o ministério dos catequistas atesta
que serviço mais belo que o do catequista que anuncia a Palavra divina, que se une
com amor, confiança e respeito ao próprio irmão, para ajudá-lo a descobrir e realizar
os desígnios providenciais de Deus sobre ele. Eis que a missão do catequista consiste
também em fomentar que as nossas comunidades sejam mais acolhedoras e catequizadoras.
O catequista é um anunciador da Palavra, alguém que procura de fato vivenciá-la
no dia a dia. Seu testemunho é fundamental, pois não se pode separar a fé da vida
quotidiana. O educador na fé tem uma tarefa extremamente árdua e delicada, porque
a catequese não é um simples ensino, mas a transmissão de uma mensagem de vida, como
jamais será possível encontrar em outras expressões do pensamento humano. Quem diz
‘mensagem’, diz algo mais do que doutrina. Quantas doutrinas jamais chegam a ser mensagem!
A mensagem não se limita a expor idéias, ela exige uma resposta, pois é interpelação
entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida. Cristo
anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade. Por ser uma mensagem de vida, é que
a Igreja catequiza o povo.
A Catequese nos últimos anos deu passos significativos.
Em toda parte percebe-se um fervilhar de novas experiências e métodos mais adequados
que nos orientem na caminhada. Este processo de renovação depara-se com alguns desafios:
a catequese não pode ser uma simples iniciativa baseada na boa vontade, na improvisação.
Disso decorre a necessidade de pensar, organizar e atualizar a catequese, buscar novos
areópagos, animar os catequistas, criar um clima humano-afetivo. Surge assim a missão
da Igreja do qual depende, em grande parte, a dinâmica e a renovação da catequese
numa comunidade. Não tenha medo e, avance nas águas mais profundas atendendo ao apelo
de Cristo e da Igreja, de anunciar o Evangelho e catequizar os homens e mulheres de
boa vontade.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ