A preocupação do Papa pela emergência na Somália: uma grande operação humanitária
para salvar os milhares que fogem à fome.
(16/7/2011) Um novo campo de refugiados vai ser aberto no Quénia, a ONU está a preparar
uma grande operação humanitária para salvar os milhares que fogem à fome. Depois
de meses de seca, que deixaram milhares de somalis sem nada para comer, agora chove
em Mogadíscio. E chove muito. Tanto que cinco pessoas que tinham fugido à fome e tentado
procurar ajuda nos campos de refugiados junto à capital somali acabaram por morrer
sem conseguir chegar a um abrigo. Três eram crianças.
Não se sabe ao certo quantas pessoas estão a ser afectadas pela seca, a pior dos últimos
60 anos no Corno de África, mas são certamente mais de 10 milhões – o secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, falou na semana passada em 11 milhões, outras estimativas apontam
para 12 milhões. Mas sabe-se que nos campos de refugiados de Dadaab, no Quénia, para
onde têm fugido milhares de somalis, deviam estar abrigadas cerca de 90 mil pessoas
e estão lá mais de 380 mil. Chegam pelo menos 1400 em cada dia que passa, e outras
tantas fogem para a Etiópia. O Governo do Quénia anunciou a abertura de um novo
campo de refugiados em Dadaab, o Ifo II, que deverá começar a funcionar dentro de
dez dias. Será o quarto campo, depois de Ifo, Hagadera e Dagahaley. A decisão foi
saudada pelo alto-comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, que escreveu
ao primeiro-ministro queniano Raila Odinga e ao Presidente Mwai Kibaki a prometer
o apoio da ONU. Na região afectada pela seca, que abrange a Somália mas também
o Quénia, Etiópia, Uganda e Djibuti, haverá 2 milhões de crianças subnutridas, segundo
estimativas da Unicef, e quando no mês passado membros dos Médicos sem Fronteiras
mediram e pesaram cerca de 500 crianças menores de cinco anos em Dadaab concluíram
que 37 por cento sofriam de malnutrição e 17 por cento corriam risco de vida. A situação
não será melhor na Etiópia, para onde fugiram, só em Junho, cerca de 54 mil somalis.
Ontem o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) anunciou
que está a preparar o envio de ajuda humanitária através de uma ponte aérea que fará
chegar aos refugiados somalis no Quénia 600 toneladas de tendas que estão armazenadas
no Kuwait, para além de outros bens de primeira necessidade. A França pediu uma
reunião de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO) para que seja coordenada a ajuda internacional. Haverá hoje cerca de 2,8 milhões
de somalis a precisar de apoio humanitário, as condições sanitárias degradaram-se
e a Organização Mundial de Saúde já alertou para o risco de a cólera poder vir a afectar
cerca de 5 milhões de pessoas. O conselho Pontifício Cor Unum fazendo-se interprete
da preocupação e dos sentimentos de solidariedade com os quais o Bento XVI está a
seguir a grave situação que se vive na Somália dispôs o envio, em nome do Papa, de
uma primeira pequena ajuda de 50 mil euros. A soma foi entregue ao bispo de Djitubi
e administrador apostólico de Mogadíscio D. Jorge Bertin.