Rio de Janeiro, 10 jul (RV) - "Um semeador saiu a semear ..." É o início da
parábola que está no centro do Evangelho deste 15º Domingo do Tempo Comum (Mateus
13,1-23); um início simples, quase trivial, como parece mais óbvio em seguida: no
difícil terreno palestino de então, a semente espalhada "como chuva" cai apenas parcialmente
em terra boa, onde irá dar frutos, em grande parte se perde no terreno seco, ou entre
as pedras ou entre espinhos. Com algumas exceções, todas as parábolas apresentam
semelhantes traços da vida comum, de pouco interesse à primeira vista: a pesca pobre
ou abundante, um homem assaltado por ladrões em uma estrada solitária, um pai que
luta com os delírios dos filhos, dois homens que vão orar, uma mulher que percebe
ter perdido uma moeda, uma outra prejudicada por falha na justiça.
Pode-se
perguntar de onde vem o encanto dessas histórias, ainda vivas após dois mil anos em
um mundo mudado radicalmente. A resposta, paradoxalmente, está no fato de que elas
não mostram circunstâncias extraordinárias, mas sempre a partir dos pequenos problemas
em que nos encontramos presos ou que conhecemos e que hoje também poderiam nos afetar:
problemas de todos, como sempre, essencialmente os mesmos que há dois mil anos atrás
– mudou apenas no modo externo. Por isso nos envolvem, pois numa ou noutra podemos
nos reconhecer, mas muitas vezes as vivemos de uma forma superficial, entediados ou
irritados. As parábolas nos fazem descobrir uma dimensão mais profunda, que as removem
da banalidade e conferem ao cotidiano toda a espessura da vida real.
A parábola
do semeador é um exemplo claro. Jesus faz a narração, como Ele mesmo depois explica,
para comparar o semeador a Deus, a semente à sua Palavra, e os diferentes tipos de
terrenos para as diferentes formas em que os homens se colocam diante dessa. Aqueles
que não a aceitam ficam tão secos como a estrada; as pedras e os espinhos indicam
os que receberam a Palavra, mesmo com entusiasmo, mas, superficialmente, sem deixar
criar raízes, de modo que na primeira dificuldade a colocá-la em prática a abandonam,
e apenas aqueles que realmente a fazem própria dão seu fruto abundante A parábola
é, portanto, um convite para não ser superficial em relação à fé, a tomar consciência
de que acolhê-la com coerência dá valor a cada momento da vida.
Mas em transparência
da parábola, deduz-se também outra coisa. Por exemplo, que Deus não se desinteressa
pelos homens; o fato de que lhes dirija sua palavra demonstra que Ele tem cuidado
de orientá-los para o bem. Nesse sentido, a parábola ocupa um tema já presente no
Antigo Testamento, como se pode ler, entre outras, na bela página dos profetas escolhida
hoje como a primeira leitura (Is 55,10-11): "Assim diz o Senhor: Como a chuva e a
neve descem do céu e não voltam para lá sem irrigar a terra, sem a ter fecundado e
feito brotar para que possa dar a semente ao semeador e pão ao que come, assim será
a palavra da minha boca...."
A parábola do semeador implica que, como Deus
espalha sua Palavra sobre os homens, o mesmo acontece com cada um de nós: as nossas
palavras, aquelas ditas e não ditas, quando na verdade elas deveriam ser ditas, aquelas
faladas e aquelas caladas, feitas de gestos e comportamentos, nunca são sem consequências;
como a pedra lançada no lago, sempre produzem ondas que se espalham fora de proporção,
de longo alcance, produzem nos outros reações, opiniões, atitudes.
Muitas
vezes não pensamos, mas todos nós somos semeadores. Assim, se de um lado a consciência
de influenciar sobre os outros dá sentido a todo momento e, em seguida, afirma que
a vida, na realidade, nunca é trivial, de outro lado é para perguntar-se que semente
lançamos ao nosso redor? A diferença entre Deus-semeador e o homem-semeador é esta:
Deus sempre espalha a boa semente, que dá frutos abundantes em quem a recebe, enquanto
nós sabemos lançar sementes envenenadas, que fazem sofrer. Talvez, às vezes, não tenhamos
consciência disso, e é a nossa desculpa, por isso mesmo temos de avaliar cuidadosamente
o que semeamos.
São Paulo Apóstolo, na passagem de Romanos que lemos neste
domingo, nos faz lembrar do nosso destino eterno, fazendo-nos tomar consciência de
que, mesmo os mais terríveis sofrimentos de hoje ou de uma vida inteira, são bem pouca
coisa, temporalmente, concretamente, se comparados com a felicidade eterna, para a
qual caminhamos, na medida em que fazemos tesouro da Palavra de Deus e não apenas
a ouvimos, mas a praticamos.
Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de
Deus e vivem-na todos os dias, nós cantamos juntos na liturgia eucarística, como se
pode rezar na oração inicial da Missa de hoje, "Aumentai em nós, ó Pai, com o poder
do vosso Espírito, a disponibilidade para acolher a semente de vossa palavra, que
continuais a semear sobre toda a humanidade, para que frutifique em obras de justiça
e de paz e revele ao mundo a bendita esperança do vosso reino".
Em outras
palavras, um forte apelo à nossa responsabilidade pessoal sobre a adesão à Palavra
de Deus que nós ouvimos durante as várias celebrações religiosas ou que podemos meditar
pessoalmente, tomando em nossas mãos a Sagrada Escritura e lendo-a sistematicamente.
Se não podemos fazer pessoalmente, porque limitados no tempo e nas condições físicas,
valorizemos todas as oportunidades que nos dão as comunidades paroquiais, e também
os múltiplos meios de comunicação que oferecem serviços à Palavra, tais como Internet,
televisão, rádio, jornais, imprensa, revistas de todos os tipos.
É importante
valorizar e estudar o texto sagrado e, em sintonia com ele, conduzir a nossa vida
pessoal para a santificação e salvação eterna, vocação de todo filho de Deus. Entender
o que o Senhor quer para cada um de nós é o primeiro passo para a felicidade, passando
pela purificação do coração e da mente, exatamente como nos diz o trecho do Evangelho
deste domingo – décimo quinto do tempo comum. Se o nosso coração ainda está duro,
árido, sem qualquer valor moral não poderá jamais dar uma resposta produtiva à Palavra,
que também entra e toca a sua profundidade. É preciso diltar o coração para acolher
a Palavra e levá-la para a vida, tranformá-la em exemplo vivo.
Neste contexto,
a nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro recebe bispos de várias partes do Brasil, nesta
semana próxima, para discutir como evangelizar nessa nova cultura nascida com as novas
mídias. Trata-se do Seminário de Comunicação para os Bispos do Brasil (SECOBB), que
tem como objetivo oferecer um espaço de reflexão e debate sobre o fenômeno da comunicação,
a evolução de seus fundamentos e a natureza de suas práticas. Também apresentar os
desafios que esse fenômeno traz para a Pastoral da Comunicação.
As novas mídias
são ferramentas fundamentais para o anúncio da Palavra de Deus. Atrás de nossas mídias
estão milhares de pessoas que estão empenhadas, até mesmo com suas próprias vidas,
para que a Palavra de Deus seja anunciada e Cristo seja ainda mais conhecido por todos.
Tenho certeza de que a missão dos nossos comunicadores fez com que a imagem pública
da Igreja diante da sociedade fosse ainda mais trabalhada com a verdade, para ser
ainda melhor conhecida diante de tantas situações midiáticas hodiernas.
Vamos
acolher o Senhor Arcebispo Presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações
Sociais, Dom Claudio Maria Celli, que fará a abertura do seminário, e os senhores
Bispos no Brasil para que a Palavra de Deus seja devidamente anunciada, usando de
todos os meios que as mídias nos oferecem. Peço aos fiéis que rezem nestas intenções
e que a Palavra de Deus continue sendo luz para os nossos pés e lâmpada para os nossos
caminhos.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ