DOM CELLI E O ENCONTRO DE COMUNICAÇÃO DOS BISPOS BRASILEIROS
Cidade do Vaticano,
09 jul (RV) - Vai se realizar entre os dias 12 e 16 deste mês, no Centro de Estudos
do Sumaré, no Rio de Janeiro, o I Encontro de Comunicação para os Bispos do Brasil.
Organizado pelo Pontifício Conselho das Comunicações Sociais, pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Arquidiocese do Rio, o encontro tem por objetivo
ampliar as discussões sobre a comunicação no mundo da Igreja. E para nos falar sobre
este tema, entrevistamos o Presidente do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais,
Dom Cláudio Maria Celli: Eis o que disse:
"Esta iniciativa nasceu durante a
visita "ad Limina". Digamos que este seja o momento oportuno para a reflexão dentro
da Conferência dos Bispos do Brasil sobre o tema da comunicação hoje na Igreja. Vejo
esta iniciativa com grande interesse e satisfação.
Parece-me importante que
um grupo com cerca de 100 a 120 bispos brasileiros se unam durante três dias para
refletir sobre o que significa, hoje, afrontar uma pastoral no mundo da comunicação,
encarando o desafio da nova tecnologia. Isso parece-me uma coisa muito importante,
porque inegavelmente, hoje, não é mais, somente uma ferramenta colocada em nossas
mãos.
As novas tecnologias não desempenham apenas uma função instrumental,
mas, sabemos com mais consciência que elas se colocam numa nova cultura, a que nós,
hoje, chamamos de cultura digital. É o homem de hoje.
E a Igreja tem esta
profunda consciência de que deve anunciar a mensagem ao homem de hoje. Um homem que
está inserido, que vive nessa nova cultura. Este é o grande desafio para a Igreja:
ver como fazer, que coisa fazer e em que medida estar presente no novo contexto cultural.
Além
disso, ver como o homem de hoje anuncia o Evangelho. Como vocês podem imaginar, aí
entra em jogo vários fatores, inclusive o de linguagem.
Porque inegavelmente
as novas tecnologias possuem uma nova linguagem. E quando falamos ao homem de hoje
temos a necessidade de anunciar o Evangelho, porque esta é a missão fundamental da
Igreja. Uma missão que continua idêntica à do seu início. Recordando, Jesus convida
os discípulos a anunciarem o Evangelho a toda criatura.
Hoje, porém, o fazemos
num contexto cultural todo particular. Inegavelemente, o tema do mundo digital não
é o único aspecto da cultura do mundo de hoje. Porém, as novas tecnologias dão à nossa
experiência uma nova perspectiva, um novo conteúdo.
E nós devemos dialogar
com essa realidade, e conseguir que a mensagem do Evangelho seja colocada também nesse
contexto. E aí eu digo que permanece forte para todos nós justamente o tema da linguagem.
O meu falar com o homem de hoje, com uma linguagem que ele compreenda, uma linguagem
que não seja apenas alguma coisa que eu use para ser entendido, mas uma linguagem
em que exista uma profunda dimensão antropológica.
Deve-se entender o que o
homem de hoje experimenta, sofre, vive, na sua realidade humana. Porque é a esse
homem que eu devo anunciar o Evangelho, a Palavra de vida. Eis que me parece importante
que um grupo de bispos brasileiros, que estão imersos na realidade brasileira, sejam
homens da Igreja; dessa forma têm o coração cheio da Palavra de Deus, que devem anunciar
ao homem de hoje.
Considero muito importante que estes bispos tenham tomado
essa decisão: três dias a serem totalmente dedicados a uma reflexão que abrange todos
os campos sobre o tema da comunicação.
Eu considero que o papel, hoje, das
novas tecnologias, é fortíssimo. Elas colocam à nossa disposição possibilidades antes
inimagináveis. Há poucos dias participei de uma videoconferência com estudantes que
através da Universidade Gregoriana estão fazendo um curso de comunicação.
Em
uma tarde na Universidade Gregoriana, junto ao reitor e diretor dos cursos, realizamos
uma videoconferência com um estudante que se encontrava na Guatemala e outro na Bolívia.
Isso alguns anos atrás era impossível de ser imaginado. Hoje as novas tecnologias
nos dão essa possibilidade. Assim é hoje, por exemplo, o mundo da internet.
Hoje
temos muitos sites que abordam temáticas religiosas e permitem ao homem de hoje conhecimento,
aprofundamento, relações muito mais amplas, mais ricas, mais envolventes. Porém, não
podemos imaginar que as novas tecnologias resolvam o problema da comunicação na Igreja.
Em
primeiro lugar, porque entendemos que a melhor comunicação é o testemunho. O Evangelho
não é algo que se aprende intelectualmente. Não é uma ideologia. É um estilo de vida,
ligado a Jesus, que envolve a pessoa em sua própria vida, que nós torna filho no Filho,
e isso não se pode ter unicamente através da nova tecnologia. Nós precisamos de uma
comunidade que dá o verdadeiro testemunho.
Inegavelmente o primeiro ponto de
referência é uma comunidade que dá o testemunho e anuncia o Evangelho como a própria
vida. Depois, certamente, as novas tecnologias oferecem possibilidades de comunicação,
de conhecimento e de relacionamento antes inimagináveis. Porém, através da internet
posso ter um primeiro gancho, um primeiro conhecimento. Mas não posso imaginar que
a minha vida cristã seja dedicada unicamente a um estar conectado na internet.
Preciso
reencontrar uma comunidade viva, que me acolha, me acompanhe e que me ajude a viver
a vida com plenitude, a viver a palavra de vida que eu acolho em meu coração.
E,
por um lado, a Igreja se alegra por dispor dessa grande nova possibilidade per anunciar
o Evangelho em qualquer lugar, a cada homem e a cada mulher de hoje. Porém, por outro
lado, permanece sempre o desafio existencial, ou seja, o desafio de uma comunidade
que sabe acolher, que encontrou Cristo através das novas tecnologias." (FH)