Turismo e aproximação das culturas. Mensagem para a Jornada Mundial do Turismo 2011
(6/7/2011) No dia 27 de Setembro celebra-se a Jornada Mundial do Turismo, promovida
pela Organização Mundial de Turismo (OMT), e que conta com a adesão da Santa Sé já
desde a sua primeira edição, em 1980. O tema deste ano, Turismo e aproximação das
culturas, pretende sublinhar a importância que as viagens têm no encontro entre as
diversas culturas do mundo, especialmente nestes tempos em que mais de novecentos
milhões de pessoas fazem deslocações internacionais, favorecidas pelos modernos meios
de comunicação e pela descida dos custos. Deste modo, o turismo apresenta-se-nos
como “uma atividade que derruba as barreiras que separam as culturas e fomenta a tolerância,
o respeito e a mútua compreensão. No nosso mundo, tantas vezes dividido, estes valores
representam a base para um futuro mais pacífico”. Partindo de um conceito amplo
de cultura que, além da história ou do património artístico e etnográfico, abarca
os estilos de vida, as relações, as crenças e os valores, afirmamos não só a existência
da diversidade cultural, mas também, na linha do Magistério da Igreja, a valorizamos
como um fato positivo. Por isso, “é necessário fazer com que as pessoas não só aceitem
a existência da cultura do outro - como afirma Bento XVI -, mas aspirem também a receber
um enriquecimento da mesma”, acolhendo o que esta possui de bom, de verdadeiro e de
belo. E para alcançar este objetivo, o turismo brinda-nos com todas as suas possibilidades.
O Código Ético Mundial para o Turismo afirma a este propósito que “praticado com a
necessária abertura de espírito, constitui um fator insubstituível de auto-educação,
de tolerância mútua e de aprendizagem das diferenças legítimas entre povos e culturas,
e da sua diversidade”. Este, pela sua própria natureza, pode favorecer tanto o encontro
como o diálogo, já que mete em contacto com outros lugares, outras tradições, outros
modos de viver, outras formas de ver o mundo e de conceber a história. Por tudo isso,
o turismo é, certamente, uma ocasião privilegiada. Mas para dialogar, a primeira
condição que se exige é a de saber escutar, querer ser interpelado pelo outro, querer
descobrir a mensagem que encerra cada monumento, cada manifestação cultural, desde
o respeito, sem prejuízos nem exclusões, evitando leituras superficiais ou tendenciosas.
Assim, é tão importante o “saber acolher” como o “saber viajar”. Isso implica que
as actividades turísticas devam organizar-se a partir do respeito pelas peculiaridades,
leis e costumes dos países acolhedores, pelo que os turistas deverão recolher informação,
antes da partida, acerca das características do lugar que vão visitar. Mas também
as comunidades que acolhem e os agentes profissionais deverão conhecer as formas de
vida e as expectativas dos turistas que os visitam. Partindo do fato de que toda
a cultura encerra em si mesma certos limites, o encontro com culturas diferentes permite
um enriquecimento da própria realidade. Neste sentido se manifestava o Beato João
Paulo II quando afirmava que “a ‘diferença’, que alguns consideram tão ameaçadora,
pode chegar a ser, através de um diálogo respeitador, a fonte de uma compreensão mais
profunda do mistério da existência humana”. Um objetivo da nossa pastoral do turismo
será certamente educar e preparar os cristãos de modo a que esse encontro de culturas
que pode acontecer nas viagens não seja uma oportunidade perdida, mas que sirva certamente
como um enriquecimento pessoal, que ajude a conhecer o outro, ao mesmo tempo que se
conhece a si mesmo. Neste diálogo que produz frutos de aproximação das culturas,
a Igreja tem muito a dar. “Também no campo cultural - assinala Bento XVI - o Cristianismo
tem para oferecer a todos a mais poderosa força de renovação e de elevação, ou seja,
o Amor de Deus que se faz amor humano”. É imenso o património cultural, entendido
naquele sentido amplo a que anteriormente fizemos referência, que surge da experiência
da fé, do encontro entre a cultura e o Evangelho, fruto da profunda vivência religiosa
da comunidade cristã. Certamente, estas obras de arte e de memória histórica possuem
um enorme potencial evangelizador, enquanto que se inserem na via pulchritudinis,
o caminho da beleza, que é “um percurso privilegiado e fascinante para se aproximar
do Mistério de Deus”. Deve ser um objetivo primário da nossa pastoral do turismo
mostrar o verdadeiro significado de todo este acervo cultural, nascido à sombra da
fé e para glória de Deus. Nesta linha, ressoam ainda as palavras do Beato João Paulo
II dirigidas aos agentes de pastoral do turismo: “Vós contribuis para a educação do
olhar que é um despertar da alma para as realidades do espírito, ajudando os visitantes
a subirem até às fontes da fé que fez nascer estes edifícios e tornando visível a
Igreja de pedras vivas que formam as comunidades cristãs”. Importa, por isso, que
apresentemos este património na sua autenticidade, mostrando-o na sua verdadeira natureza
religiosa, inserindo-o no contexto litúrgico no qual nasceu e para o qual nasceu.
Porque sabemos que a Igreja “existe para evangelizar”, devemos nos perguntar constantemente:
como acolher as pessoas nos lugares sagrados de modo a que este os ajude a conhecer
e a amar mais o Senhor? Como facilitar um encontro com Deus e cada uma das pessoas
que ali acodem? Devemos sublinhar, antes de mais, a importância de um acolhimento
apropriado, “que tenha em conta o que é específico de cada grupo e de cada pessoa,
as expetativas dos corações e as suas autênticas necessidades espirituais”, e que
se manifesta em diversos elementos: desde os simples detalhes até à disponibilidade
pessoal para a escuta, passando pelo acompanhamento durante o tempo que durar aquela
presença. A este propósito, e com o intuito de favorecer este diálogo intercultural
e aproveitar o nosso património cultural ao serviço da evangelização, convém adotar
um conjunto de iniciativas pastorais concretas. Todas elas devem integrar-se num vasto
programa de interpretação que, juntamente com a informação de tipo histórico-cultural,
mostre de forma clara e acessível o original e profundo significado religioso destas
manifestações culturais, usando para isso meios atuais e interativos, aproveitando
os recursos pessoais e tecnológicos que estão à nossa disposição. Entre estas propostas
concretas encontra-se a elaboração de percursos turísticos que possibilitem a visita
aos lugares mais importantes do património religioso-cultural das dioceses. Ao mesmo
tempo deve-se favorecer um alargado horário de abertura, bem como dispor de uma estrutura
de acolhimento adequada. Nesta linha é importante a formação espiritual e cultural
dos guias turísticos, enquanto que se poderia estudar a possibilidade de criar organizações
de guias católicos. E juntamente com isso, a elaboração de “publicações locais em
forma de folhetos turísticos, de páginas na internet ou de revistas especializadas
no património, com o fim pedagógico de evidenciar a alma, a inspiração e a mensagem
das obras e com uma análise científica dirigida à compreensão profunda da obra”. Não
nos podemos conformar com conceber as visitas turísticas como uma simples pré evangelização,
mas deve funcionar de plataforma para realizar o anúncio claro e explícito de Jesus
Cristo. Aproveito a ocasião para anunciar oficialmente a celebração do VII Congresso
Mundial da Pastoral do Turismo que se realizará em Cancún (México) na semana de 23
a 27 de Abril de 2012. Este evento, organizado pelo nosso Conselho Pontifício em colaboração
com a Conferência Episcopal Mexicana e a Prelatura de Cancún-Chetumal, será certamente
uma importante oportunidade para continuar a aprofundar as propostas que a pastoral
do turismo exige para o tempo presente.