Jales, 19 jun (RV) - Este domingo, por anteceder ao dia vinte de junho, é o
Dia Nacional do Migrante, segundo o calendário pastoral da CNBB.
Isto
significa que a Igreja faz questão de colocar a realidade migratória no contexto do
domingo, dia destinado à celebração do mistério cristão. Colocado o domingo como referência,
fica fácil ampliá-la para uma semana, como de fato se tornou tradição do Serviço Pastoral
dos Migrantes, incumbido pela CNBB para a acompanhar de perto os problemas vividos
pelos migrantes em nosso país, nos diversos contextos em que se encontram. Em cada
ano, precedendo o dia 20 de junho, se realiza a “Semana do Migrante”.
Quando
a celebração é de um dia só, a data se limita a ser uma efeméride vazia, como existe
dia para tudo no calendário da ONU! Mas quando se propõe uma semana, é para encarar
a realidade com mais atenção, entender o que ela nos diz, e tomar as providências
que ela nos sugere.
Que a realidade migratória é complexa, se comprova pelo
fato da própria bíblia ter assumido um paradigma migratório como sujeito representativo
da humanidade. Seja individualmente, na pessoa de Abraão. “Meu pai era um arameu errante”,
diz o livro do Deuteronômio (26, 05). Seja coletivamente, na experiência do povo
de Israel, que forjou sua identidade nacional na experiência da penosa e longa migração
através do deserto, saindo da escravidão do Egito, em busca de sua libertação humana
e espiritual.
A realidade migratória acaba expressando a problemática humana,
que perdura ao longo da história. Entre tantas facetas do problema migratório, sempre
inquietou uma contradição que perdura e se acentua cada vez mais. No mundo globalizado
de hoje, o sistema econômico mundial faz questão de defender, e de exigir, a absoluta
liberdade de migração dos capitais, enquanto forja obstáculos cada vez maiores para
impedir a migração dos trabalhadores.
Não é nenhuma indiscrição perguntar
por que. Pois se temos o dever de dar a razão doe nossas esperanças, como São Pedro
nos anima a fazer, temos também o direito de saber as razões de nossas desgraças.
Olhando a grande facilidade que tem hoje o capital, sobretudo o financeiro,
de buscar as aplicações que mais lhe garantam dividendos, seja onde for, em qualquer
bolsa de valores ou em qualquer banco do mundo, compreendemos que ele se move na busca
do lucro maior que ele pode auferir. Assim, a grande migração de capitais especulativos,
tem a cândida e evidente razão do lucro, que os move e direciona.
Ao passo
que a tenaz, e cada vez mais sofisticada política de coibir os fluxos migratórios
humanos, se entende a partir do objetivo de impedir que mais pessoas venham auferir
as vantagens do sistema econômico globalizado.
Assim, no topo da globalização,
encontramos a mesma tensão das origens do capitalismo: quanto menos se remunera o
trabalho, mais dividendos sobram para o capital. Estamos ainda no mesmo mundo.
Com
uma diferença a ser advertida com seriedade. Tempos atrás os prejudicados eram os
trabalhadores, considerados singularmente. Agora os prejudicados podem ser os países.
Pois com a mesma facilidade com que vêm, os capitais podem sair de um determinado
país, quando eles não têm vais vantagens de lá permanecer. Este cenário começa a se
desenhar quando se verifica uma forte tendência à desnacionalização da indústria,
e também da agricultura, e em estágio mais grave quando se acentua o processo de desindustrialização
de um determinado país.
E´ muito conveniente que o Governo comece a fazer
as contas, para verificar a quantas anda nossa dependência externa, e em que medida
se acentua o processo de desindustrialização do Brasil.
Assim, os migrantes
continuam cumprindo sua saga, mas também seu indispensável serviço de alerta sobre
os rumos da humanidade. Eles continuam testemunhando que o mundo ainda não entrou
nos eixos da fraternidade.