Rio de Janeiro, 18 jun (RV) - Concluimos na semana passada o tempo pascal.
Praticamente, estamos na metade do ano litúrgico. Depois de celebrarmos o Mistério
da Encarnação (Advento e Natal) e o Mistério da Redenção (Quaresma e Páscoa), embora
ambos estejam presentes durante toda a nossa vida, agora, como no alto de um monte,
a Igreja nos convida a olhar o caminho percorrido e nos dispor a continuar com ânimo
e coragem a caminhada que temos adiante. É assim a nossa vida e a vida da Igreja.
Vemos neste tempo o sinal da nossa caminhada histórica, iluminados pelo Espírito Santo,
caminhando em Cristo rumo ao Pai para vivermos a comunhão trinitária, agora pela fé
e um dia pela visão. Vemos também a Igreja que continua mostrando-nos a presença de
Jesus, o Cristo Senhor, na história dos homens, proclamando e anunciando a Boa Notícia,
como aparece no início do Evangelho deste domingo. É a grande solenidade que nos
pergunta sobre o Mistério da presença de Deus na história e em nossa vida. É também
uma oportunidade de, nestes tempos de perda de valores, principalmente do esquecimento
de Deus, cada um de nós nos recolocarmo a caminho d’Aquele com quem já nos encontramos,
mas que necessitamos de cotinuar buscando-O ainda mais. Esta solenidade coloca-nos
no centro e sentido de todas as demais celebrações. O único Deus em três pessoas é
sempre o contexto em que celebramos cada liturgia – oramos ao Pai, por Cristo, no
Espírito Santo! De fato, as diferentes festas só têm sentido dentro do Mistério da
Santíssima Trindade. Se a pessoa de Jesus (Natal, Epifania, Páscoa, Corpus Christi
e outras), a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se comemoramos o Espírito Santo
(como no dia de Pentecostes) se faz sempre em relação com o Pai e o Filho. Se nós
celebramos Maria (Imaculada Conceição, Assunção e outras) ou os demais santos, é sempre
a considerar como o Deus Uno e Trino trabalhado neles, e como eles corresponderam
ao amor de Deus. Deus é sempre o centro da fé, que deve ser celebrada em comunidade
ou na vida cotidiana em que vivemos. Pode-se perguntar: se a Trindade está sempre
presente, por que dedicar um domingo especial? Justamente para dar oportunidade de
aprofundarmos esse Mistério e o nosso relacionamento com Deus. Lembramos a sua unidade
indivisível e as três pessoas em comunhão perfeita. A solenidade deste domingo quer
nos lembrar que nenhuma das pessoas está separada uma das outras, e operam em perfeita
harmonia. Ela mostra um exemplo notável, que se conecta com a razão pela qual esta
festa é celebrada hoje. Domingo terminou a celebração da Páscoa em suas diversas
fases: a paixão de Jesus, sua morte, sua ressurreição e ascensão aos céus e o Pentecostes.
A liturgia de hoje nos convida a olhar para trás e considerar o todo como Páscoa,
ou seja, um trabalho conjunto da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, são
as três pessoas que agem e trabalham em conjunto para o nosso bem. E este é o tema
comum às leituras da Missa deste primeiro domingo, quando retomamos o tempo comum,
que abre uma janela para a nossa compreensão do mistério trinitário. A primeira leitura
(Êxodo 34, 4-9), que assinala como Moisés subiu ao Monte Sinai, onde Deus fala para
revelar a sua bondade, e que Moisés proclama: “Deus misericordioso e clemente, paciente,
rico em bondade e fiel”. Seu amor atingiu o seu clímax quando Ele nos deu seu próprio
Filho. E Jesus diz a Nicodemos, que vem a Jesus durante à noite (Evangelho segundo
João 3, 16-18) "Porque Deus amou o mundo que deu seu Filho único, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho
ao mundo para condenar o mundo, mas que o mundo seja salvo por ele”. A salvação que
temos, tentando seguir seu exemplo, como observou a segunda leitura (2Coríntios 13,11-13):
"Irmãos, alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai
a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco”. Imediatamente
após, Paulo especifica quem é o "Deus de amor”, saudando os cristãos de Corinto com
uma fórmula que se tornou uma das exortações com que começamos a celebração da Missa:
"A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus (Pai) e a comunhão do Espírito
Santo estejam com todos vós". Deus revelou-se no Mistério da Trindade – um só Deus
em Três pessoas: o mistério, como qualquer outro para Ele, é claro, porém, para nós,
vai além da nossa capacidade intelectual. Mas não é algo estranho, porque Ele fala
uma língua que, bem sabemos, é a linguagem do amor. Entre as muitas questões da
nossa fé, uma daquelas a que é mais difícil de responder é esta: "Quem é Deus?". Nós,
certamente, poderíamos responder em conformidade com as categorias tradicionais do
catecismo: que Deus é o Ser, perfeito, eterno e supremo, que criou o céu e a terra.
Ou então sobre o que significa e o que Ele continua a dizer que em nossa vida cotidiana?
A Solenidade da Santíssima Trindade quer nos dar mais uma oportunidade para a
nossa reflexão. A fé cristã nos diz que Deus é um só, é único, mas junto em três pessoas
iguais e distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim o revelou para o Filho, Jesus
Cristo. Deus é mistério de comunhão, cuja relação ad intra é fundamentada na igualdade
da essência, na diversidade de pessoas, fundada em uma profunda relação de amor. E
fomos todos criados à essa imagem e semelhança. Deus é amor! E nós proclamaremos seu
amor por nós, nesta semana, pelas ruas de nossas cidades com a procissão levando conosco
a Eucaristia: Jesus Cristo presente no meio de nós. É o sinal do testemunho que deveremos
dar sempre publicamente diante do mundo, proclamando a alegria do dom da fé e do anúncio
da Boa Notícia para todos.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ