BISPOS DENUNCIAM VIOLÊNCIAS CONTRA AGRICULTORES EM TOCANTINS
Palmas, 14 jun (RV) - Os bispos da Província Eclesiástica de Palmas (TO) estão
preocupados com o estado de tensão no qual vivem os pequenos agricultores e assentados
do interior do Município de Palmeirante (400 km norte de Palmas). Em nota, divulgada
nesta segunda-feira, lê-se:
“Nós bispos, informados da realidade desta dramática
situação, cientes do descaso das autoridades que tornaram possível tal conflito, vimos
manifestar nossa solidariedade com as famílias injustamente perseguidas. Afirmamos
que são elas as legítimas destinatárias do Programa de assentamento. Apoiamos sua
determinação em defender seus recursos naturais e florestais contra a cobiça da grilagem.
Parabenizamos o evangélico serviço pastoral prestado às famílias pelos agentes da
CPT, eles também em situação de risco”, diz um dos trechos da nota.
Os bispos
protestam contra o que chamaram de “onda estarrecedora de matanças dirigidas contra
camponeses e ambientalistas em luta pela partilha da terra e pela preservação da floresta,
no Tocantins, no interior do Município de Palmeirante (400 km norte de Palmas)”. Eles
denunciam que, em outubro passado, neste município - onde terras da União vêm sendo
cobiçadas por plantadores de soja -, havia sido assassinado brutalmente o agricultor
Gabriel Vicente de Souza Filho, nas imediações do Acampamento Bom Jesus.
Segundo
fatos recentes apurados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), o conflito que se instaurou
no Assentamento Santo Antônio, Bom Sossego, tem origem em 2003 quando, na criação
do assentamento, 10 lotes do Programa Nacional de Reforma Agrária foram desviados
da sua destinação em benefício de 3 fazendeiros, com a culposa anuência verbal de
funcionários do INCRA.
Notificaram que, de lá para cá, na tentativa de reaver
os lotes assim grilados e barrar a retirada de madeira da reserva legal do assentamento,
10 famílias, regularmente cadastradas pelo INCRA, têm feito gestões junto às autoridades
(Ministério Público Federal, INCRA e Ouvidoria Nacional, Naturatins) e, enquanto não
se resolve o impasse, ocupam parte da área em litígio. Elas contam com o apoio de
outras 19 famílias acampadas por perto, no Acampamento Vitória.
Os prelados
afirmam na nota que, de forma repetida - outubro e dezembro de 2010, abril e maio
de 2011 e, de novo, neste início de junho -, um grupo de 8 pistoleiros armados, a
serviço dos grileiros e madeireiros instalados na região, tem espalhado o terror entre
essas famílias, dentro do assentamento e dentro do acampamento: incêndio de barracos,
tiroteios noturnos, pessoas estranhas perambulando à noite com lanternas, ameaças
de morte.
Polícia Militar de Colinas (TO) foi até o local e encontrou evidências
de tiroteio nas proximidades do acampamento, mas, de acordo com o bispo de Tocantinópolis,
Dom Giovane Pereira de Melo, além do descaso dos agressores contra os pequenos camponeses,
o que mais impressiona é a falta de ação do Estado, seja pelos poderes municipal,
estadual, até mesmo federal.
“Por isso, como representantes da Igreja – continua
a nota -, pedimos, em nosso comunicado, que sejam prontamente apuradas as atividades
criminosas e incriminados seus mandantes; que seja realizada a retirada dos grileiros
instalados na área; que seja imediatamente efetivada a regularização do projeto de
Assentamento Santo Antônio, onde as famílias possam encontrar de fato um lugar tranquilo
para cultivar a terra”.
Para o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para
a Caridade, Justiça e a Paz, da CNBB, Dom Guilherme Antônio Werlang, os bispos do
Tocantins agem como “pastores e profetas e denunciam a violência contra os pequenos
por parte dos "lobos" que continuam devorando o rebanho do Senhor e assumem verdadeira
postura de pastores vigilantes sobre o rebanho que lhes foi confiado”.
A nota
é assinada pelo Arcebispo de Palmas, Dom Pedro Brito Guimarães, e os bispos de Tocantinópolis,
Dom Giovane Pereira de Melo; Miracema, Dom Philip Dickmans; Cristalândia, Dom Rodolfo
Luís Weber e Porto Nacional, Dom Romualdo Matias Kujawski. (CNBB/ED)