Rio de Janeiro, 12 jun (RV) - Chegamos ao final do tempo litúrgico da Páscoa!
Foram cinquenta dias de celebrações que nos atualizaram a presença do Ressuscitado
entre nós. Ao celebrarmos neste final de semana a festa do Espírito Santos somos chamados
a pedir a Deus a renovação desse Dom para toda a Igreja e renovar o nosso entusiasmo
na missão evangelizadora da Igreja. A Palavra de Deus ilumina nossos caminhos e nossa
vida nesse dia que pedimos na sequência da missa que o Espírito de Deus, envie dos
céus um raio de luz! A primeira leitura dessa Solenidade retirada do segundo capítulo
dos Atos dos Apóstolos, continua a narrativa do quadro anterior, em que São Lucas
descreve a comunidade dos discípulos que se reuniram após a Ascensão de Jesus (Atos
1,12-14). Essa descrição é rica em detalhes: há um lugar, o da Última Ceia, existem
os onze apóstolos, Maria, a Mãe do Senhor, e algumas mulheres. Esta comunidade se
reúne no Cenáculo, na manhã da festa judaica do Pentecostes, em que foi a memória
da aliança de Deus no Sinai (Êxodo 19). O antigo pacto, segundo o livro do Êxodo,
foi descrito por uma manifestação terrível do Senhor Deus, pois caiu fogo, e todo
o monte tremia (cf. Êx 19,18). O vento e o fogo, vamos encontrá-los no dia de Pentecostes
no Novo Testamento, mas nenhum eco de terror. O fogo, que se manifesta através da
linguagem, repousa sobre os discípulos, que "ficaram cheios do Espírito Santo e começaram
a falar em outras línguas" (Atos 2,4). É em Pentecostes que a Igreja é constituída
pelo poder do Espírito. É o Espírito de Cristo, que cria unidade na comunidade. De
fato, a unidade do Espírito Santo, em amor gerador implementa a mútua aceitação da
diversidade. Reunidos pelo Espírito, a Igreja é o Corpo Místico de Cristo. Na verdade,
Aquele que "recolheu" Israel, formando a comunidade dos discípulos, o Galileu, constituído
Senhor e Cristo, o Ressuscitado, que transformou a vida dos discípulos. A imagem do
Corpo da Igreja de Cristo está fundada sobre o vínculo profundo com Cristo ressuscitado
(1Cor 6,15-17, 10,17, 12,12 e 27, Rm 12,4). Segundo a reflexão paulina, expressa na
Primeira Carta aos Coríntios, a idéia do corpo é para significar a relação dos membros
da Igreja entre eles. Em Cristo, os membros têm um corpo real, mas cada um segundo
o dom recebido do Espírito, no exercício do ministério que lhe foi confiado. Mas,
de que forma a Igreja apresenta-se na sua unidade, na história como povo de Deus,
reunidos pelo Espírito? A Igreja é o Corpo de Cristo, enriquecido com os dons do Espírito
em todos os seus membros e na qual todos são chamados para disponibilizará aos outros
o dom recebido. Todos os batizados são chamados à responsabilidade, ou melhor a corresponsabilidade,
pelo mesmo Espírito, para oferecer-se como um sacrifício agradável a Deus (Romanos
12,1). Só dessa forma, a Igreja, animada pelo Espírito, cresce na história compactada
e articulada pelo amor da Trindade. Em Pentecostes, então, revela a união entre o
Espírito e a Igreja, que é a interseção entre a diversidade e a unidade. A segunda
leitura da Missa de Pentecostes - fala da harmonia dos diversos carismas na comunhão
do Espírito Santo. Mas já no livro dos Atos, esta perspectiva é óbvia. No caso de
Pentecostes, muitas línguas e culturas pertencem à Igreja, são parte essencial da
fé, o que mostra que a Igreja sempre foi "católica”, ou seja, universal. A Igreja
que nasceu em Pentecostes é a Igreja aberta e dirigida à universalidade. Está presente
em todo o mundo. As comunidades particulares são as implementações da única Igreja
de Cristo. Queridos irmãos, o Evangelho de João oferece uma palavra que se encaixa
bem com o mistério da Igreja criada pelo Espírito: "A paz" (Jo 20,19). A expressão
"A paz esteja convosco" (Jo 20,19), não é apenas um cumprimento e sim um dom que o
Senhor faz a Igreja. A Comunidade do Espírito Santo, de acordo com os ensinamentos
de seu mestre, deve ser sinal e instrumento da paz, um testemunho da vitória de Cristo
sobre a morte (pecado), presença alegre do mundo. Na Solenidade de Pentecostes,
como Arcebispo desta amada Arquidiocese, terei a alegria de crismar muitos jovens
que representam todas as paróquias desta Igreja na nossa Catedral de São Sebastião.
É uma tradição da Igreja carioca que nesse domingo toda a Arquidiocese esteja representada
na celebração solene da crisma em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião. E
ao crismar esses jovens penso em todos os milhares que anualmente são crismados nas
centenas de paróquias da Arquidiocese. Recebem o dom de Deus, o Espírito Santo, para
a missão.Rezemos pelos nossos crismandos e crismados para que possam dar testemunho
do Ressuscitado no mundo, como sal e luz na terra. Como no dia de Pentecostes alimentemos
a nossa fé com a oração assídua e comunitária, porque o Espírito de Cristo pode nos
renovar e abrir nossos corações para o trabalho de salvação que é para todos e mas
que supõe a nossa aceitação e acolhida: “sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum
bem há nele”. Que se renovem os nossos corações e peçamos que a “Igreja que espera
e deseja recebam os sete dons” do Espírito Santo. “Enchei. Luz bendita, chama que
crepita, o íntimo de nós”.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ