PAPA RECEBE OS CIGANOS: "NUNCA MAIS SEU POVO SEJA OBJETO DE OPRESSÃO"
Cidade do Vaticano, 11 jun (RV) - O Papa Bento XVI recebeu na manhã deste sábado,
em audiência, o Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet, o Arcebispo
de Raipur, na Índia, Dom Joseph Augustine Charanakunnel, em Visita “ad Limina Apostolorum”.
Recebeu ainda o senhor Mario Juan Bosco Cayota Zappettini, Embaixador do Uruguai,
com a esposa, em visita de despedida, e ao meio-dia, na Sala Paulo VI, os representantes
de diversas etnias de ciganos, cerca de 1.300.
Por ocasião dos 75 anos do martírio
do cigano espanhol Zeferino Giménez Malla, proclamado Beato por João Paulo II no dia
4 de maio de 1997, e pelos 150 anos de seu nascimento, uma numerosa representação
de ciganos europeus participa hoje e amanhã, domingo, em Roma, da peregrinação promovida
pelo Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Momento central
da peregrinação o encontro com o Santo Padre. São ciganos de diversas etnias – roms,
sintis, manuches... – vindos de toda Europa; o beato Zeferino Giménez Malla, foi vítima
da perseguição religiosa na Espanha em 1936. Ele foi fuzilado por defender um sacerdote
e por se negar a se desfazer de seu rosário, tal como o havia aconselhado um amigo
anarquista que queria salvá-lo.
Quatro testemunhos, entre eles o de um sobrevivente
dos campos de concentração nazistas, ilustraram nesta manhã a Bento XVI a vida dos
itinerantes.
No seu discurso aos presentes o Papa se disse feliz em poder recebê-los
por ocasião da sua peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro. Depois de agradecer ao
Arcebispo Antonio Maria Vegliò, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral
dos Migrantes e Itinerantes pelas suas palavras dirigidas momentos antes, Bento XVI
recordou que eles vieram de todas as partes da Europa para manifestar a sua fé e amor
por Cristo, por sua Igreja – que é uma casa de todos – e pelo Papa.
O Santo
Padre recordou então as palavras de Paulo VI dirigidas aos ciganos em 1965: “Vocês
na Igreja não se encontram à margem, mas, em certos aspectos, vocês estão no centro,
vocês estão no coração. Vocês estão no coração da Igreja”. Eu também repito hoje com
afeto, disse Bento XVI: “Vocês estão na Igreja! Vocês são uma parte muito amada do
Povo de Deus peregrino e nos recordam que “não temos aqui embaixo uma cidade permanente,
mas buscamos aquela futura”.
Em seguida o Santo Padre recordou a figura do
Beato Zeferino Giménez Malla, do qual se celebra os 150 anos de nascimento e os 75
de martírio. A amizade com o Senhor tornou esse Mártir testemunha autêntica da fé
e da caridade.
“Com a intensidade com que adorava Deus e descobria a sua
presença em cada pessoa e em cada evento, o beato Zeferino amava a Igreja e seus Pastores.
Terciário franciscano, permaneceu fiel ao seu ser cigano, à história e à identidade
de sua própria etnia. Casado segundo a tradição dos ciganos, junto com sua esposa
decidiu convalidar o vínculo na Igreja com o sacramento do Matrimônio. Sua profunda
fé religiosa encontrou expressão na participação diária da Santa Missa e recitação
do Terço. Precisamente o terço, que ele sempre carregou no bolso, se tornou a causa
de sua prisão e fez do Beato Zeferino um autêntico “mártir do Terço”, pois ele não
deixou que o tirassem da mão, nem mesmo no momento da morte. Hoje, o Beato Zeferino
nos convida a seguir seu exemplo e nos indica o caminho: a dedicação à oração, e em
particular do Terço, o amor pela Eucaristia e pelos demais sacramentos, a observância
dos mandamentos, a honestidade, a caridade e a generosidade para com os outros, especialmente
para com os pobres; e isso vai tornar vocês fortes para enfrentarem os riscos que
as seitas e outros grupos colocam em perigo a sua comunhão com a Igreja".
Bento
XVI recordou em seguida a história complexa e, em alguns períodos, dolorosa do povo
cigano. Vocês são um povo que, nos séculos passados não viveu ideologias nacionalistas,
não aspirou a possuir uma terra ou a dominar outras pessoas. Vocês permaneceram sem
pátria e consideraram idealmente todo o continente como sua casa. No entanto, persistem
problemas sérios e preocupantes, como as relações freqüentemente difíceis com as sociedades
nas quais vocês vivem.
“Infelizmente, ao longo dos séculos vocês conheceram
o sabor amargo da não-acolhida, e por vezes perseguições, como ocorreu na Segunda
Guerra Mundial: milhares de mulheres, homens e crianças foram brutalmente assassinados
em campos de extermínio. Foi - como vocês dizem - o Porrájmos, a “A Grande Devoração”,
um drama ainda pouco reconhecido e do qual são medidas com dificuldade as proporções,
mas que suas familias trazem impressas em seu coração. Durante a minha visita ao campo
de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 28 de maio de 2006, rezei pelas vítimas
da perseguição e eu me inclinei diante da lápide em língua romani, que recorda os
ciganos que morreram. A consciência europeia não pode esquecer tanta dor! Nunca mais
o seu povo seja objeto de opressão, de rejeição e de desprezo! Por sua vez, busquem
sempre a justiça, a legalidade, a reconciliação e se esforcem para não ser causa de
sofrimento aos outros!”
O Papa disse ainda que hoje a situação esta mudando
e que novas oportunidades se abrem diante deles, enquanto adquirem uma nova consciência.
Com o passar dos anos vocês criaram uma cultura de expressões significativas, como
a música e o canto que enriqueceram a Europa. E uma constatação: muitas etnias não
são mais nômades, mas procuram estabilidade com novas expectativas diante da vida.
“A Igreja caminha com vocês – disse ainda o Papa – e os convida a viverem segundo
a empenhativas exigências do Evangelho confiando na força de Cristo, em direção de
um futuro melhor.
Enfim o papa concluiu suas palavras afirmando que também
eles são chamados a participar ativamente da missão evangelizadora da Igreja, promovendo
a atividade pastoral na suas comunidades, e confiando-os “A Mãe de Deus” e ao Beato
Zefirino. E concluiu falando na língua cigana:
“Agradeço a todos vocês que
vieram até a Sede de Pedro para manifestar sua fé e seu amor à Igreja e ao Papa. O
Beato Zeferino seja para todos vocês um exemplo de uma vida vivida por Cristo e pela
Igreja, na observação dos mandamentos e no amor ao próximo. O Papa está perto de cada
um de vocês e os recorda em suas orações. O Senhor os abençoe, as suas comunidades,
suas famílias e seu futuro. O Senhor lhes dê saúde e sorte. Fiquem com Deus! (SP)