Entrevista a Padre Lombardi sobre viagem de Bento XVI a Zagreb
(7 junho) Foi
uma visita pastoral sob o signo da família, da Europa e da figura do beato Stepinac.
A poucos dias da conclusão da viagem apostólica na Croácia, o nosso diretor, diretor
também da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Frederico Lombardi, detém-se sobre os
momentos e as mensagens mais salientes dos dois dias em terra croata…
- Podemos
dizer que a viagem foi um sucesso completo, para além das expectativas que podiam
ter os bispos croatas. Houve uma ampla resposta, muito cordial … Diria que se sentia
no ar um acolhimento não só da parte da Igreja mais empenhada, dos fiéis verdadeiramente
convictos, mas também do povo em geral. Com as suas raízes cristãs, os croatas sentiam-se
contentes de receber o sucessor de Pedro: esta profunda relação, contínua, sólida,
entre a Santa Sé e o povo croata, era algo que se “respirava”. Naturalmente, nos momentos
fundamentais, mais explicitamente de oração – o encontro com os jovens e o encontro
com as famílias – Cristo estava no centro. Cristo também adorado e celebrado no sacramento
da Eucaristia…
- A partir da Croácia, o Papa falou a toda a Europa, especialmente
no discurso pronunciado no Teatro Nacional, onde, encontrando a sociedade croata,
se deteve nos temas, que lhe estão tão a peito, da consciência e da relação entre
fé e ciência…
- A Croácia pertence a pleno título à história da Europa
e portanto é natural que um discurso que o Papa dirigia ao povo croata tornava-se
mais ou menos diretamente - em certas passagens mesmo muito diretamente… - um discurso
sobre a cultura europeia, sobre o desenvolvimento da comunidade dos povos na Europa,
sobre os seus aspetos positivos e os seus riscos. Claro, o discurso ao mundo da cultura,
à sociedade em geral, tocou pontos “clássicos” do magistério do Santo padre. O
tema da consciência vai-se tornando (parece-me) cada vez mais profundo e frequente.
Tinha-me impressionado muito, quando o Papa tinha falado da consciência, a propósito
de Newman, por exemplo… Neste discurso de sábado passado, em Zagreb, houve uma referência
que muito me impressionou e que me merece bastante original: quando o Papa ligou a
questão diretamente às famílias, observando: Qual é o lugar, onde é que forma a consciência
do homem, esta consciência inspirada pelos valores objetivos, esta consciência lugar
de diálogo, na busca da verdade e do bem? E respondeu: esta consciência forma-se através
de toda a história da vida de uma pessoa, a começar pela infância, pelo modo de brincar
e jogar, de se entreter e de entrar em relação com os outros, com os amigos… Portanto,
a formação da consciência para o que é verdadeiro e bom, para a convivência positiva
com os outros, é algo que acompanha toda a vida e em especial o ambiente familiar,
aonde se colocam verdadeiramente as bases profundas da personalidade.
- Na
grande Missa, em Zagreb, o Papa lançou um forte, um premente apelo a favor da família.
É claro que não se dirigia apenas à sociedade croata…
- O Papa deseja propor
a beleza, a grandeza, a profundidade do ideal da visão cristã da família, também como
uma autêntica ajuda, através da espiritualidade, através do Sacramento do matrimónio,
para a viver bem, na alegria, na fecundidade, na construtividade. E dar assim um contributo
positivo a esta realidade da família, que é fundamental para a vida da sociedade,
mas que encontra tantos problemas e tantas dificuldades, como vemos hoje em dia nas
nossas sociedades. Portanto quando o Papa, como fez em Zagreb, põe em relevo
riscos ou faz advertências, não o faz para criar polémica, mas para ajudar a compreender
que na visão cristã profunda, positiva, da família fundamentada no amor e apoiada
também no amor de Cristo, se pode dar um contributo que serva para “salvar” os valores
mais belos da família, a bem de toda a sociedade humana. Portanto, não polémica, mas
verdadeiramente oferta de um contributo positivo.
- Momento conclusivo da
visita foi a homenagem prestada ao túmulo do Beato Stepinac. Os tempos mudaram, mas
– disse o Papa, em eco ao bispo mártir – também hoje os cristãos estão chamados a
anunciar o Evangelho com coragem , vencendo a mediocridade…
.- A evocação
da figura de Stepinac, a sua memória diz sem dúvida respeito a tempos duros, tempos
obscuros do século passado: dois totalitarismos de sinal oposto, mas igualmente horríveis
e homicidas; porém, a mensagem continua. Foi o próprio Stepinac que o disse, nas palavras
que o Papa citou. Di-lo de novo o Papa hoje. A missionariedade, perante perigos que
não são agora tão violentos, horríveis e homicidas como os que havia no tempo de Stepinac,
mas que podem ser insidiosos porque podem ser graves, precisamente porque, a longo
prazo, minam elementos importantíssimos para a nossa boa convivência, para a orientação
das jovens gerações. Eis, portanto, a coragem de anunciar uma mensagem de respeito
pela pessoa humana, pelos valores fundamentais sem os quais não podemos salvar a dignidade
da pessoa humana. É algo que temos que sentir também como nosso.
Era o Padre
Frederico Lombardi, que acompanhou a viagem de Bento XVI a Zagreb, entrevistado pelo
colega Alessandro Gisotti….