PRIMAVERA ÁRABE: TENSÃO NA FRONTEIRA ENTRE ISRAEL E SÍRIA
Cidade do Vaticano,
06 jun (RV) – Após os protestos deste domingo, próximo às colinas de Golã, por
parte de centenas de palestinos e sírios, o estado é de máxima atenção ao longo da
fronteira entre Israel e Síria. Os manifestantes, no aniversário da derrota árabe
na "Guerra dos seis dias" de 1967, tentaram ultrapassar a fronteira mas os soldados
israelenses abriram fogo. Segundo as autoridades sírias, ao menos 23 pessoas foram
mortas. O exército israelense, entretanto, fala somente de 10 mortos.
A professora
de História e Instituições do Oriente Médio da Universidade de Bolonha, Marcella Emiliani,
em entrevista a Rádio Vaticano contextualizou o local do conflito.
"Os manifestantes
palestinos, talvez também sírios, atravessaram a zona desmilitarizada para tentar
chegar às colinas de Golã, que pertenciam a Siria mas desde 1967 estão sob controle
de Israel. Com certeza os palestinos quiseram destacar o fato de que depois da guerra
de 1967 todos os territórios conquistados por Israel estão num 'limbo' no que diz
respeito ao direito internacional. Israel não poderia adquiri-los, porque para as
Nações Unidas não se pode adquirir territórios com armas. Contudo, Israel anexou as
colinas de Golã em 1981. Deste ponto de vista, então, é um protesto mais que legitimo".
Todavia,
questionada se por trás destes protestos poderiam haver outros interesses, Emiliani
disse que poderia ser uma manobra do governo sírio.
"Existe a suspeita, não
só em Israel mas também em todo o Ocidente, que os protestos foram permitidos pelo
exército e pelo regime de Bashar al Assad como movimento para distrair a opinião pública
internacional que acompanha a pesada repressão que o regime de Assad está aplicando
aos manifestantes presentes nas praças e nas ruas de todas as cidades sírias".
Estratégia
ou não, as autoridades israelenses foram colocadas à prova. O exército, de acordo
com a imprensa em Tel Aviv, de um lado deve impedir que as fronteiras sejam invadidas
e, por outro, evitar a morte de civis. A professora da Universidade de Bolonha explica
as manchetes:
"O que Israel não quer agora é criar motivos para um conflito
com a Síria. Israel não tem nenhuma vontade de começar um duelo aberto com a Síria
de Bashar al Assad".
A primavera árabe, termo utilizado pela imprensa internacional
para denominar a onda de protestos no norte da África, poderia então estar chegando
também ao Oriente Médio? O recente acordo entre Hamas e Al Fatah criou uma unidade
governamental que há tempos não existia na Palestina o que, segundo Emiliani, poderia
provocar uma revolução nos territórios palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
"O Hamas chegou a conclusão que deveria retomar o diálogo com o Al Fatah,
porque estava pagando um preço caro pelo isolamento internacional que vinha sofrendo
desde 2006. Mas sobretudo porque, dentro da Faixa de Gaza, se manifesta uma oposição
ao Hamas em nome do islâmismo ainda mais radical que aquele do próprio Hamas. Por
isso, talvez tenha considerado mais propício reingressar "a casa mãe", o Al Fatah.
Só que agora a pedra no sapato será a tentativa que o presidente da Autoridade Nacional
Palestina (Anp), Abu Mazen, fará em setembro na Organização das Nações Unidas (ONU),
de proclamar a independência da Palestina. Sabemos que isso é como fumaça nos olhos
de Israel mesmo que os Estados Unidos também não apoiem a criação do Estado Palestino.
Por isso, a situação é tensa, seja dentro ou nas fronteiras de Israel". (RB)