2011-06-04 19:02:55

A "consciência como chave de abóbada para a elaboração cultural e para a construção do bem comum": tema desenvolvido pelo Papa perante representantes da sociedade civil croata


(4/6/2011) ) Sem “consciência” como “lugar da escuta da verdade e do bem”, força contra toda e qualquer ditadura, não há esperança para o futuro e a Europa estará destinada à “involução”: advertência de Bento XVI, no discurso pronunciado sábado à tarde, no Teatro Nacional de Zagreb, perante representantes das forças vivas da nação croata: comunidades religiosas, instituições políticas, científicas e culturais, do mundo da arte, do desporto, da economia. Tema da reflexão do Papa: a consciência, questão “fundamental para uma sociedade livre e justa, tanto a nível nacional como internacional”, com especial atenção à “Europa, de que a Croácia desde sempre é parte no plano histórico-cultural e na qual está para entrar, no plano político-institucional”.

A presença de representantes das diversas Igrejas e Comunidades cristãs, assim como da religião hebraica e muçulmana ofereceu ao Papa a ocasião de recordar (citamos) que “a religião não é uma realidade aparte relativamente à sociedade”:

“pelo contrário, (a religião) é uma componente conatural (da sociedade). (A religião) evoca constantemente a dimensão vertical, a escuta de Deus como condição para a busca do bem comum, da justiça e da reconciliação na verdade. A religião coloca o homem em relação com Deus, Criador e Pai de todos, e, por conseguinte, deve ser uma força de paz.”

“As religiões sempre se devem purificar segundo esta sua verdadeira essência, para corresponderem à sua genuína missão” – sublinhou o Papa.
Entrando no tema específico da sua reflexão (a consciência entendida como busca da verdade e do bem), Bento XVI evocou “as grandes conquistas da idade moderna - o reconhecimento e a garantia da liberdade de consciência, dos direitos humanos, da liberdade da ciência e, consequentemente, de uma sociedade livre”, o Papa sublinhou a necessidade de “confirmar e desenvolver” essas conquistas, mas mantendo sempre “a racionalidade e a liberdade abertas ao seu fundamento transcendente, para evitar que tais conquistas se auto-destruam”

“A qualidade da vida social e civil, a qualidade da democracia dependem em grande parte deste ponto «crítico» que é a consciência, de como a mesma é entendida e de quanto se investe na sua formação. Se a consciência se reduz, segundo o pensamento moderno predominante, ao âmbito da subjectividade, para o qual se relegam a religião e a moral, a crise do Ocidente não tem remédio e a Europa está destinada à involução.
Pelo contrário, se a consciência é descoberta novamente como lugar da escuta da verdade e do bem, lugar da responsabilidade diante de Deus e dos irmãos em humanidade – que é a força contra toda a ditadura – então há esperança para o futuro.”

Neste contexto, referindo as “raízes cristãs de numerosas instituições culturais e científicas” da Croácia, como aliás em todo o continente europeu, Bento XVI observou que, para além do reconhecimento desta verdade histórica, o mais importante é “saber ler em profundidade essas raízes”.

Para o Papa, o que é “decisivo” é “captar o dinamismo que está por detrás” de factos como o surgir de uma universidade, de um movimento artístico, de um hospital (por exemplo). O que há que perceber é porquê e como é que isso aconteceu, para “valorizar hoje esse dinamismo - uma realidade espiritual que se torna cultural e portanto social”. “Na base de tudo isso há homens e mulheres, pessoas, consciências, movidas pela força da verdade e do bem”.

E aqui Bento XVI evocou a figura de um jesuíta croata, Ruder Boskovic, de que se celebram agora os 300 anos de nascimento. Importante matemático, astrónomo e cientista, sempre apaixonado pela unidade de todos os ramos do saber. “Esta paixão pela unidade é típico da cultura católica – sublinhou o Papa, que convidou a não perder de vista “o método, a abertura mental” de figuras como esta, assim como a questão da “consciência como chave de abóbada para a elaboração cultural e para a construção do bem comum”.

“É na formação das consciências que a Igreja oferece à sociedade a sua contribuição mais específica e preciosa – considerou o Papa. Uma contribuição que começa na família e que encontra um reforço importante na paróquia, onde as crianças e adolescentes e, depois, os jovens aprendem a aprofundar as Sagradas Escrituras - o «grande códice» da cultura europeia; aprendendo ao mesmo tempo o sentido da comunidade fundada no dom: não no interesse económico ou na ideologia, mas sim no amor, «a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira» (Caritas in veritate, 1)”.

“Aprendida na infância e na adolescência, esta lógica da gratuidade é, depois, vivida nos diversos âmbitos, no jogo e no desporto, nas relações interpessoais, na arte, no serviço voluntário aos pobres e aos doentes, e, uma vez assimilada, pode-se concretizar nos âmbitos mais complexos da política e da economia, colaborando para uma polis que seja acolhedora e hospitaleira, e que ao mesmo tempo não seja vazia, nem falsamente neutra, mas rica de conteúdos humanos, com uma forte consistência ética.”

( texto integral em documentos do Vaticano )







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