Na liturgia e na música sacra, nunca esquecer os critérios fundamentais da tradição
da Igreja: solicita Bento XVI, a propósito dos 100 anos do Instituto Pontifício de
Música Sacra
(31/5/2011) “Devemos perguntarmo-nos sempre de novo: quem é o sujeito da Liturgia?”
– propõe Bento XVI numa Carta enviada ao cardeal Zenon Grocholewski, Grande Chanceler
do Pontifício Instituto de Música Sacra, por ocasião dos 100 anos da sua fundação.
O texto recorda que esta instituição académica, ligada ao Ateneu de Santo Anselmo
e à Ordem beneditina, foi criada pelo Papa Pio X; oito anos depois do Motu proprio
“Tra le solecitudini”, de Novembro de 1903, com o qual realizou uma profunda reforma
no campo da música sacra, tomando como ponto de referência a grande Tradição da Igreja,
contra as influências exercidas pela música profana, sobretudo da ópera. Para conseguir
que se aplicasse na Igreja universal essa sua intervenção magisterial, o pontífice
sentia a necessidade de um “centro de estudo e ensino que pudesse transmitir de modo
fiel e qualificado as linhas indicadas. Bento XVI congratula-se com o facto de,
nos últimos cem anos, o Pontifício Instituto de Música Sacra ter “assimilado, elaborado
e transmitido os conteúdos doutrinais e pastorais dos documentos pontifícios, como
também do Concílio Vaticano II, referentes à música sacra, para que possam iluminar
e guiar a obra dos compositores, dos maestros, dos liturgistas, dos músicos e de todos
os formadores neste campo”. O fim da música sacra – recorda o Papa na sua Carta
– é, como afirma o Vaticano II, “a glória de Deus e a santificação dos fiéis”. “Embora
na natural evolução”, existe uma “substancial continuidade do magistério sobre a música
sacra, desde são Pio X até aos nossos dias”. Em particular, Paulo VI e João Paulo
II, à luz da Constituição litúrgica conciliar, quiseram reafirmar a referida finalidade
da música sacra, assim como “os critérios fundamentais da tradição”: “o sentido da
oração, da dignidade, da beleza; a plena aderência aos textos e aos gestos litúrgicos;
o envolvimento da assembleia e, portanto, a legítima adaptação à cultura local, conservando
ao mesmo tempo a universalidade da linguagem; o primado do canto gregoriano, como
modelo supremo de música sacra, e a sapiente valorização das outras formas expressivas
que fazem parte do património histórico-litúrgico da igreja, especialmente, mas não
só, a polifonia; a importância da schola cantorum, em especial nas igrejas
catedrais”. Todos estes são “critérios importantes, a considerar atentamente,
mesmo hoje em dia” – sublinha com insistência Bento XVI, que deplora o facto de que
“o valor da grande importância da música sacra ou a universalidade característica
do canto gregoriano” tenham sido por vezes considerados “expressão de uma concepção
correspondente a um passado a superar ou descurar, porque limitativo da liberdade
e da criatividade do indivíduo e da comunidade”. “É preciso perguntarmo-nos sempre
de novo quem é o autêntico sujeito da liturgia” – sugere Bento XVI, que prossegue:
“A resposta é simples: é a Igreja, não o indivíduo ou o grupo que celebra a Liturgia.
Esta é primariamente ação de Deus através da Igreja, que tem a sua história, a sua
rica tradição e a sua criatividade”. Como declarara já, no passado dia 6 de Maio,
ao receber os membros do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, o Papa voltou
a recordar que a Liturgia (e portanto a música sacra) “vive de uma correta e constante
relação entre sã tradição e legítima progressão”, tendo sempre bem presente que estes
dois conceitos se integram mutuamente porque “a tradição é uma realidade viva, que
inclui em si mesma o princípio do desenvolvimento, do progresso”.