DO SANTUÁRIO FAMILIAR AO SANTUÁRIO DA MÃE APARECIDA
Rio de Janeiro, 28 maio (RV) - Começa a se tornar tradição, este já é o terceiro
ano, que nossas famílias são convocadas pelos Bispos no Brasil a se porem a caminho
em peregrinação até o Santuário Nacional de Aparecida. Esse tem sido um momento singular,
quando ação de graças e súplicas se unem na certeza da grande missão que compete hoje
a toda família: ser sinal para o mundo de que é o desejo mesmo de Deus que tenhamos
nossas famílias como igrejas domésticas, lugar onde recebemos os mais elementares
fundamentos da nossa fé.
A peregrinação é quando nós nos reconhecemos como
“povo de Deus a caminho: aí o cristão celebra a alegria de se sentir imerso em meio
a tantos irmãos, caminhando juntos para Deus, que os espera. O próprio Cristo se faz
peregrino e caminha ressuscitado entre os pobres. A decisão de caminhar em direção
ao Santuário já é uma confissão de fé, o caminhar é um verdadeiro canto de esperança
e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem
que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério,
desfruta dele em silêncio” (DAp 259).
Realmente é um final de semana Mariano:
aqui no Rio de Janeiro, a inauguração da réplica da Capela das Aparições de Fátima
e a Celebração da Festa Solene de Nossa Senhora da Penha – unidos na peregrinação
– e Simpósio sobre a Família no Santuário Nacional. São os católicos que manifestam
suas convicções e seus ideais, como cidadãos livres deste país.
“Como na família
humana, a Igreja-família é gerada ao redor de uma mãe, que confere “alma” e ternura
à convivência familiar. Maria, mãe da Igreja, além de modelo e paradigma da humanidade,
é artífice de comunhão. Um dos eventos fundamentais da Igreja é quando o “sim” brotou
de Maria. Ela atrai multidões à comunhão com Jesus e sua Igreja, como experimentamos
muitas vezes nos Santuários Marianos. Por isso, como a Virgem Maria, a Igreja é mãe”.
(DAp 268)
O Beato João Paulo II, em sua exortação apostólica sobre a família
recorda que ela é o Santuário Doméstico da Igreja. Esse santuário agora vai, como
peregrino, ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. O tema que norteia esse
final de semana é: “Família, Pessoa e Sociedade”. O Papa recordava, e é tão atual
a sua admoestação: “Neste momento histórico em que a família é alvo de numerosas forças
que procuram destruí-la ou de qualquer modo deformá-la, a Igreja, sabedora de que
o bem da sociedade e de si mesma está profundamente ligado ao bem da família, sente
de modo mais vivo e veemente a sua missão de proclamar a todos o desígnio de Deus
sobre o matrimônio e sobre a família, para lhes assegurar a plena vitalidade e promoção
humana e cristã, contribuindo assim para a renovação da sociedade e do próprio Povo
de Deus”.
A célula fundamental de toda sociedade é chamada a viver o seu mistério
que, de uma instituição natural, vem elevada por Nosso Senhor Jesus Cristo à dignidade
de sacramento, em um mundo que questiona as verdades e, entretanto, tacitamente admite
que a única verdade, em pura contradição, é que não existe verdade. A verdade existe
sim. Ele, o Cristo, é o caminho, a verdade e a vida: “A Igreja, iluminada pela fé,
que lhe faz conhecer toda a verdade sobre o precioso bem do matrimônio e da família
e sobre os seus significados mais profundos, sente mais uma vez a urgência em anunciar
o Evangelho, isto é, a “Boa Nova” a todos indistintamente, em particular a todos aqueles
que são chamados ao matrimônio e para ele se preparam, a todos os esposos e pais do
mundo. Ela está profundamente convencida de que só com o acolhimento do Evangelho
encontra realização plena toda a esperança que o homem põe legitimamente no matrimônio
e na família.
É necessário gritar isso mais ainda nestes tempos e testemunhar
a nossa busca de corresponder aos desígnios de Deus sobre nós buscando uma vida de
sincera conversão e comunhão com o Senhor. A nossa vida escondida com Cristo em Deus
é que realmente nos torna verdadeiramente felizes. O nosso coração tem sede de infinito
e só o encontra em Cristo Jesus.
Como peregrinos, nossas família irão à Casa
da Mãe Aparecida; Ela, que com ternura viveu a experiência de ser família em Nazaré,
juntamente com José e Jesus intercede para que nossas famílias redescubram a sua vocação
de geradora e educadora da vida.
Recorda-nos ainda o Papa bem aventurado que
“não raramente ao homem e à mulher de hoje, em sincera e profunda procura de uma resposta
aos graves e diários problemas da sua vida matrimonial e familiar, são oferecidas
visões e propostas mesmo sedutoras, mas que comprometem em medida diversa a verdade
e a dignidade da pessoa humana. É uma oferta frequentemente sustentada pela potente
e capilar organização dos meios de comunicação social, que põem sutilmente em perigo
a liberdade e a capacidade de julgar com objetividade. Muitos, já cientes desse perigo
em que se encontra a pessoa humana, empenham-se pela verdade. A Igreja, com o seu
discernimento evangélico, une-se a esses, oferecendo-lhes o seu serviço em prol da
verdade, da liberdade e da dignidade de cada homem e de cada mulher”.
Eis
o belo momento de manifestar ao mundo a beleza da família e o nosso carinho para com
a nossa sociedade, preocupados com a vida e a saúde de nosso tecido social. O simpósio
e a peregrinação anual das famílias, em boa hora começam a se firmar, já no seu terceiro
ano, como um belo e importante momento dentro deste mês Mariano e de nossa Igreja
de peregrinos que aqui nas Terras de Santa Cruz caminhamos e fazemos história.
Que
o santuário doméstico da Igreja viva com profunda intensidade esse momento de peregrinação
ao Santuário Nacional, pondo-se sob a proteção da Mãe de Deus e nossa.
Que
a Senhora Aparecida abençoe nossas famílias, amém!
† Orani João Tempesta, O.
Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ