Cidade do Vaticano 22 mai (RV) – Num evento já definido por muitos como histórico,
o Papa Bento XVI conversou neste sábado, dia 21, durante cerca de 20 minutos com os
astronautas da estação espacial internacional do transbordador Endeavour. Durante
o colóquio tratou de diversos temas como a contribuição da ciência à consecução da
paz e o futuro do mundo.
Ao iniciar a conexão, o Santo Padre disse:
“Queridos
astronautas, estou muito contente de ter a extraordinária oportunidade de conversar
com vocês durante esta missão, e especialmente agradecido de poder falar com vocês
presentes na estação espacial neste momento”.
Em sua introdução às perguntas,
Bento XVI assinalou que “a humanidade experimenta um período de rápido progresso nos
campos de aplicações técnicas e conhecimentos científicos e que em certo sentido eles
neste campo são representantes da humanidade em uma exploração que introduz no conhecimento
de novos espaços e possibilidades para o futuro da humanidade que vai além das limitações
da existência cotidiana”.
“Em um sentido, são nossos representantes: a exploração
da humanidade é um ponto de partida para novos espaços e possibilidades para o nosso
futuro, que vai além das limitações de nossa existência cotidiana”.
O Papa
disse em seguida que “admiramos sua valentia assim como a disciplina e extrema responsabilidade
com que se prepararam para realizar essa missão. Estamos convencidos de que é inspirada
por nobres ideais e tem a finalidade de colocar os resultados das pesquisas e seus
esforços à disposição de toda a humanidade para o bem comum”.
Depois de expressar
sua curiosidade pelo que os astronautas apreciam do espaço e sobre suas pesquisas,
o Papa fez uma pergunta relacionada com a visão que desde uma estação espacial se
tem da terra, aludindo a que se voa sobre as nações e continentes várias vezes ao
dia.
“Acredito que deve ser evidente para vocês que vivemos todos juntos na
terra e quão absurdo seja lutar e matar uns aos outros”, e expressou a Mark Kelly,
um dos astronautas, sua curiosidade em saber se, quando estão contemplando a terra
por acaso se perguntaram “sobre as Nações e as pessoas que vivem juntas na terra e
sobre o modo em que a ciência pode contribuir à causa da paz”.
O segundo argumento
tratado pelo Santo Padre e dirigido a Ron Garan, teve relação com um tema que se refere
à responsabilidade que os sere humanos têm sobre o futuro do planeta. “Recordo neste
momento, os graves riscos que enfrenta o meio ambiente com a sobrevivência das gerações
futuras. Os cientistas nos dizem devemos tomar cuidado e desde um ponto de vista ético,
temos que desenvolver nossa consciência”.
E perguntou desde sua perspectiva
de observação, extraordinária, sobre o modo em que se percebe a situação na terra,
e se são perceptíveis os sinais ou fenômenos para os quais temos que estar mais atentos.
Ron
Garan respondeu ao Santo Padre: “Sua Santidade, é uma grande honra conversar com o
senhor e tem razão: realmente temos um ponto extraordinário de observação aqui em
cima. Por um lado, podemos ver quão indescritivelmente formoso é o planeta que nos
foi dado, mas por outro, também vemos claramente quão frágil ele é".
O Papa
introduziu sua terceira pergunta a Mike Finchke, salientando sua convicção de que
a tripulação presente na Estação Espacial Internacional “vive uma experiência extraordinária
e muito importante, sobre tudo se pensamos que terão que retornar à terra e viver
como o resto dos seres humanos”.
Assim observou que certamente, quando voltarem,
serão admirados e tratados como heróis a quem pedirão para falar de suas experiências.
Em seguida questionou sobre “quais serão as mensagens mais importantes que gostariam
de transmitir especialmente aos jovens que vão viver em um mundo fortemente influenciado
por suas experiências e descobertas”.
Em sua quarta pergunta dirigida ao astronauta
italiano Roberto Vittori, o Pontífice novamente sublinhou que a exploração espacial
é uma fascinante aventura científica e disse: “sei que instalaram novas equipes para
seguir a pesquisa científica e o estudo da radiação procedente do espaço exterior,
mas acredito que também é uma aventura do espírito humano, um poderoso estímulo para
refletir sobre a origem e o futuro do universo e da humanidade. Freqüentemente os
crentes olham o céu ilimitado e meditam sobre o criador de tudo, pensando no mistério
de sua grandeza”.
O Papa recordou também que a medalha que entregou a este
astronauta italiano tem gravada a representação do afresco da “Criação” do homem,
pintado por Michelangelo na Capela Sistina. Recordando seu intenso compromisso de
trabalho e de pesquisa perguntou-lhe se existem momentos em que se devem deter para
fazer reflexões parecidas, “e talvez dirigir uma oração ao Criador, ou por acaso seria
mais fácil refletir sobre estas coisas estando de volta e sobre a Terra”.
Vittori
assinalou em sua resposta que “quando temos um momento para olhar abaixo, a beleza
tridimensional de nosso planeta captura nosso coração, captura meu coração. E sim
rezo. Rezo por mim, por nossas famílias, pelo nosso futuro”.
A última pergunta
de Bento XVI aos astronautas foi em italiano, dirigida ao segundo astronauta desta
nacionalidade, Paolo Nespoli. O Papa comentou que estava ciente que há poucos dias
sua mãe havia falecido: "quando dentro de poucos dias você retornar à casa já não
a encontrará esperando você. Todos estamos próximos a você, eu também rezei por ela”.
O
Santo Padre dirigiu sua última pergunta para saber se “na estação espacial os astronautas
se sentem distantes e isolados, sofrendo um sentido de separação, ou ao contrário,
se sentem unidos entre eles mesmos e portanto membros de uma comunidade que os acompanha
com atenção e afeto”.
Nespoli respondeu: “Santo Padre, escutei suas orações,
eu as senti chegar até aqui: certamente, estamos fora deste mundo, orbitamos em torno
da terra e estamos em um ponto de vantagem para olhar a Terra e para escutar tudo
ao redor”.
Depois de agradecer a proximidade à sua família e sua tripulação
apesar da distância, o astronauta disse: “senti-me longe mas também muito próximo,
e certamente o pensamento de sentir todos muito próximos neste momento, foi de grande
alívio. Agradeço à Agência Espacial Européia e à Agência Espacial americana que puseram
à disposição os recursos para que eu pudesse falar com o senhor neste momento”.
Finalmente
o Papa Bento XVI disse aos astronautas: “vocês ajudaram, não somente a mim mas a tantas
outras pessoas, a refletir juntas sobre temas importantes para o futuro da humanidade.
Expresso os melhores desejos para o desenvolvimento de seu trabalho e pelo resultado
desta grande missão ao serviço da ciência, da colaboração internacional, do progresso
autêntico e da paz no mundo. Continuarei a segui-los com meu pensamento e minha oração”.
(SP)