Cidade
do Vaticano, 13 mai (RV) - Estamos em 13 de maio de 1981. Praça de São Pedro.
Milhares de pessoas se aglomeram para ver o Papa João Paulo II passar no seu papa-móvel.
Todos querem ver de perto o Santo Padre, o saudar, receber sua benção. Uma imagem
daquele dia ficou imortalizada pela televisão: João Paulo II segura uma criança com
ternura. Em meio a esse momento de alegria, o céu de Roma de repente fica nublabo,
como um presságio do que estava prestes a acontecer.
São cinco horas e dezessete
minutos. Não há dúvidas: foram dois tiros. O papa cai sobre os braços de seu secretário.
A multidão está aterrorisada. Fiés choram desesperadamente, alguns se ajoelham o olham
para o céu ainda sem acreditar. O jornalista Benedetto Nardacci, aos microfones da
Rádio Vaticana, não para a transmissão.
"A multidão está toda em pé...a multidão
está toda em pé; quase ninguém fala sobre a cena trágica que acabaram de assistir.
Estão em silêncio, esperam por notícias. O Santo Padre evidentemente foi atingido.
Ele foi certamente atingido, nós o vimos caido no papa-movel que partiu a toda velocidade
para dentro do Vaticano. É isso! Pela primeira vez se fala de terrorismo no Vaticano.
Se fala de terrorismo em uma cidade da qual sempre partiram mensagens de amor, de
concórdia, mensagens de pacificação".
São momentos confusos. Na Praça lotada
se espalham notícias desencontradas sobre a identidade do autor dos disparos, sobre
o numero de tiros, e sobretudo sobre a gravidade dos ferimentos do Papa. Ouve-se o
som de uma sirene, de uma ambulância. O diretor geral da Rádio Vaticana, Roberto Tucci,
chega às cabines de transmissão dentro da Basílica de São Pedro.
“Padre Tucci,
dos microfones da Rádio Vaticana, na Praça de São Pedro. Não se sabe ainda a gravidade
dos ferimentos. As cinco e vinte e nove eu mesmo vi sair em alta velocidade pela Porta
Sant’Anna uma ambulância. Me disseram, mas não posso assegurar que a isso seja verdadeiro,
que a ambulância na qual estava o Santo Padre, foi em direção ao hospital Gemelli”.
O
percurso do Vaticano até o hospital Gemelli dura quinze minutos. Mas aqueles foram
minutos intermináveis. Na ambulância, recorda o médico pessoal do Papa, Renato Buzzonetti,
Wojtyla rezava sem parar em polonês: “Meu deus, Minha mãe”. A cirurgia foi longa,
complicada. O Papa perdeu muito sangue, foi atingido em diferentes partes do corpo,
o mais preocupante era a perfuração intestinal. Durante a cirurgia os médicos descobrem
que a bala percorreu uma trajetória anormal: se isso não tivesse acontecido o Papa
não teria alternativas. Durante a operação, no terceiro andar do Gemelli, o tempo
parece ter parado. A imprensa de todo o mundo espera com apreensão as primeiras noticias.
A cirurgia do Papa terminou depois de 4 horas e 20 minutos, reporta ao vivo
a ABC dos Estados Unidos. A Radio Vaticana disse que as condições do Papa não são
graves. Milhões de fiés, em cada canto do planeta, sobretudo na Polônia, respiram
um pouco mais aliviados. Entretanto, a polícia italiana interroga o autor do atentado,
o jovem extremista turco Ali Agca. Na sua primeira missa depois do atentado, João
Paulo II dirige suas palavras a seu algoz. Estamos em 17 de maio de 1981, o Papa fala
do seu leito, onde se recupera.
“Comovido agradeço a todos por suas orações
e abençoo todos vocês (...) Rogo pelo meu irmão que me atingiu, quem eu sinceramente
já perdoei (...) A Ti, Maria, repito: ‘Totus tuss ego sum’”.
A fé em Maria
e o perdão: dois pilares já fortemente presentes na vida e no Magistério do Papa,
que daquele momento se tornam um só com a figura e o testemunho de Karol Wojtyla.
Aquele perdão pronunciado com voz fraca, pouco depois do atentado, também foi pronunciado
ao vivo quando, no Natal de 1983, no presídio de Rebibbia, João Paulo II visita o
homem que atirou contra ele.
Um ano depois do atentado, em 13 de maio de 1982,
o Papa está em Portugal, em Fátima, para agredecer Santa Maria que o salvou. Ele não
tem dúvidas: foi a mão de Maria “a guiar a trajetória do projétil e a morte foi vencida
no seu limiar”. (RB)