Cidade do Vaticano, 30 abr (RV) - A cura inexplicável de uma religiosa francesa
que sofria de mal de Parkinson abriu o caminho para a beatificação do Papa João Paulo
II, morto em 2005 após um longo calvário provocado justamente pelas conseqüências
da doença.
A freira francesa, Marie Simon-Pierre, enfermeira de profissão,
segundo a Congregação para a Causa dos Santos, curou-se inexplicavelmente depois de
orações e pedidos dirigidos a João Paulo II, poucos meses após a morte do pontífice.
Para
a beatificação, primeiro passo no longo caminho até a canonização, é preciso demonstrar
que o candidato a santo intercedeu por um milagre.
Coincidência
Marie
Simon-Pierre, na época com 40 anos, trabalhava em um hospital de Aix-en-Provence,
no sul da França, quando foi diagnosticada em 2001 com Parkinson.
Em 2007,
a religiosa decidiu contar à imprensa como havia melhorado "milagrosamente" depois
que a doença se agravou, em 2005, ano da morte de João Paulo II.
Após dias
de rezas e pedidos de toda a comunidade ao papa polonês, Marie Simon-Pierre conta
ter deixado de sentir os sintomas da doença na madrugada entre os dias 2 e 3 de junho. "Eu
me senti completamente transformada (...). Senti que estava curada", contou.
O
caso da freira, que viu João Paulo II uma única vez em 1984, foi submetido à análise
da Congregação da Causa dos Santos, que examinou e aprovou o milagre, após consultas
junto a um conselho de especialistas médicos e teólogos.
O processo sofreu
atrasos porque a congregação vaticana fez questão de considerar qualquer possível
objeção, submetendo o caso a vários peritos.
De acordo com Dom Slawomir Oder,
encarregado da documentação para a canonização de João Paulo II, a religiosa enferma
seguiu o conselho de sua madre superiora, que sugeriu que ela escrevesse em um pedaço
de papel o nome de João Paulo II.
Depois de uma "súplica extrema" e ao longo
de uma "noite de pregação", Marie Simon-Pierre teria então se curado, segundo Oder,
destacando que entre os documentos que comprovam o milagre estão exemplos da caligrafia
da religiosa antes e depois da cura misteriosa. "A mudança na letra é impressionante:
de ilegível a normal", afirmou.
Ciência
Para não deixar dúvidas
sobre a confiabilidade de seu depoimento, a religiosa se submeteu também a um exame
psiquiátrico, contou Oder.
O prelado explicou ter escolhido o milagre da francesa
entre outros atribuídos a João Paulo II para demonstrar que o papa sentia na própria
pele "a batalha pela dignidade da vida". Em 19 de dezembro de 2009, o Papa Bento XVI
aprovou "as virtudes heroicas" de Karol Wojtyla.
O processo de beatificação
foi iniciado por Bento XVI dois meses depois da morte de seu predecessor, um prazo
excepcionalmente breve.
Durante as dezenas de homenagens fúnebres a João Paulo
II na praça de São Pedro, em Roma, milhares de fiéis clamaram pela canonização do
pontífice.
Uma vez beatificado, é preciso provar que João Paulo II intercedeu
em um segundo milagre para que seja canonizado. (RB/AFP)