2011-04-28 14:48:25

O ENCONTRO COM O RESSUSCITADO


Rio de Janeiro, 28 abr (RV) - Neste belo tempo de Páscoa, alguns textos litúrgicos nos ajudam a viver este momento importante. No Evangelho de João 20, 1-9, o evangelista apresenta as reações de Simão Pedro e do discípulo amado diante do sepulcro vazio. Vale a pena refletir sobre elas e extrair alguns ensinamentos para a nossa vida.

Recordemos que o quarto evangelho pode ser visto também como o “evangelho dos encontros”. Isso porque são várias as passagens em que Jesus se encontra com as pessoas (Nicodemos, a samaritana, o paralítico de Betsaida, o cego de nascença, Marta e Maria, Pilatos e outros). A peculiaridade de tais encontros em João é que em todos eles os personagens se deparam com Aquele que é a luz que veio iluminar este mundo, e reagem de uma determinada maneira. Ao se depararem com esta luz, que ilumina a realidade mais íntima de cada um, julgaram a si mesmos e decidiram dela se aproximar ou se afastar. Portanto, não nos surpreende que João ao nos falar da ressurreição de Jesus o faça relatando-nos uma série de encontros e reações. Temos nos relatos pascais as reações de Simão Pedro e do discípulo amado; de Maria Madalena; dos demais discípulos sem a presença de Tomé; e também a do próprio Tomé. As duas primeiras reações se dão no sepulcro vazio. As outras duas ocorrem no lugar onde os discípulos se encontravam reunidos após a Páscoa. No fundo, João quer nos mostrar, com estes quatro episódios, que existem diferentes graus de prontidão e diferentes fatores que motivam as pessoas a crer. Vamos aqui nos concentrar no primeiro relato, que apresenta as reações de Simão Pedro e do discípulo que se sente amado pelo Senhor.

É importante destacar, logo de início, que os quatro evangelhos nos falam de mulheres que vão ao sepulcro vazio no primeiro dia da semana. Em Marcos e em Lucas, Maria Madalena vai ao sepulcro pela manhã, mas somente João acentua que ainda estava escuro. Isso porque em seu Evangelho luz e trevas possuem um papel importante. As trevas desaparecem quando se crê naquele que é a luz, pois ilumina e transforma a realidade: Cristo ressuscitado.

O resultado da sua busca foi o tão desejado encontro que, para a surpresa dela, se deu com alguém que, na verdade, estava vivo.

Maria Madalena, ao se deparar com o sepulcro vazio correu para dar a notícia aos discípulos. Inicialmente ela pensou que o corpo de Jesus fora roubado. Pedro e João receberam a notícia dada por ela. É interessante destacar que este discípulo amado aparece algumas vezes no quarto evangelho como, por exemplo, na última ceia; ao lado de Pedro, quando este negou Jesus por três vezes; e ao lado de Maria, mãe de Jesus, aos pés da cruz. Neste relato, quando ambos recebem a notícia dada por Maria Madalena, eles correm imediatamente para o sepulcro. João chegou antes e Pedro depois. Todavia, o primeiro não entrou, pois deixou que o segundo o fizesse por primeiro. Afinal, o que eles viram?

Pedro e João viram exatamente a mesma coisa: o sepulcro vazio, panos pelo chão e o sudário dobrado. Maria Madalena pensou que haviam roubado o corpo de Jesus. Pedro entrou e constatou o túmulo vazio: ele entrou e viu. João, que escreve o Evangelho e que se qualifica como alguém que experimenta o Amor de Deus em sua vida, manifestado em Cristo Jesus, conta também sua reação pessoal: ele viu e creu. Quando São Paulo nos apresenta uma lista daqueles para os quais Cristo Ressuscitado apareceu, o nome de Pedro surge em primeiro lugar (1 Cor 15,5), já recordando a missão de Pedro de confirmar os irmão na Fé.

Interessante, porém, é anotar como João testemunha de si mesmo como alguém acreditou na ressurreição de Jesus antes mesmo que tivesse aparecido. Deste modo ele nos demonstra como a experiência da unidade nos faz enxergar mais longe e mais profundamente, pois somente o amor é capaz de se antecipar aos fatos, às demais evidências, intuindo com antecedência a realidade da ressurreição de Jesus.

Ao dizer-nos que “eles ainda não haviam compreendido a Escritura segundo a qual Ele deveria ressuscitar dos mortos”, João nos vai demonstrando os passos que os próprios discípulos iriam dar aos poucos, porque, como nos recorda Lucas 24, 25-27.32, a explicação das Escrituras é fundamental para que os discípulos de Jesus aceitem a ressurreição.

Neste tempo pascal, procuremos valorizar esta realidade tão significativa para o quarto evangelista: a experiência da unidade, da visão de fé, do amor. Aquele que experimenta como Deus nos ama enxerga mais longe a própria história e vida. O amor é, de fato, um divisor de águas. Não é à toa que São Paulo, em 1 Cor 13, 13, nos recorda: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”.

Desejo que a Páscoa continue iluminando a vida de cada um de nós, povo de Deus que caminha nesta cidade do Rio de Janeiro. Que o Ressuscitado nos guie na santidade de vida, Aleluia!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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