Rio de Janeiro, 28 abr (RV) - Neste belo tempo de Páscoa, alguns textos litúrgicos
nos ajudam a viver este momento importante. No Evangelho de João 20, 1-9, o evangelista
apresenta as reações de Simão Pedro e do discípulo amado diante do sepulcro vazio.
Vale a pena refletir sobre elas e extrair alguns ensinamentos para a nossa vida.
Recordemos
que o quarto evangelho pode ser visto também como o “evangelho dos encontros”. Isso
porque são várias as passagens em que Jesus se encontra com as pessoas (Nicodemos,
a samaritana, o paralítico de Betsaida, o cego de nascença, Marta e Maria, Pilatos
e outros). A peculiaridade de tais encontros em João é que em todos eles os personagens
se deparam com Aquele que é a luz que veio iluminar este mundo, e reagem de uma determinada
maneira. Ao se depararem com esta luz, que ilumina a realidade mais íntima de cada
um, julgaram a si mesmos e decidiram dela se aproximar ou se afastar. Portanto, não
nos surpreende que João ao nos falar da ressurreição de Jesus o faça relatando-nos
uma série de encontros e reações. Temos nos relatos pascais as reações de Simão Pedro
e do discípulo amado; de Maria Madalena; dos demais discípulos sem a presença de Tomé;
e também a do próprio Tomé. As duas primeiras reações se dão no sepulcro vazio. As
outras duas ocorrem no lugar onde os discípulos se encontravam reunidos após a Páscoa.
No fundo, João quer nos mostrar, com estes quatro episódios, que existem diferentes
graus de prontidão e diferentes fatores que motivam as pessoas a crer. Vamos aqui
nos concentrar no primeiro relato, que apresenta as reações de Simão Pedro e do discípulo
que se sente amado pelo Senhor.
É importante destacar, logo de início, que
os quatro evangelhos nos falam de mulheres que vão ao sepulcro vazio no primeiro dia
da semana. Em Marcos e em Lucas, Maria Madalena vai ao sepulcro pela manhã, mas somente
João acentua que ainda estava escuro. Isso porque em seu Evangelho luz e trevas possuem
um papel importante. As trevas desaparecem quando se crê naquele que é a luz, pois
ilumina e transforma a realidade: Cristo ressuscitado.
O resultado da sua busca
foi o tão desejado encontro que, para a surpresa dela, se deu com alguém que, na verdade,
estava vivo.
Maria Madalena, ao se deparar com o sepulcro vazio correu para
dar a notícia aos discípulos. Inicialmente ela pensou que o corpo de Jesus fora roubado.
Pedro e João receberam a notícia dada por ela. É interessante destacar que este discípulo
amado aparece algumas vezes no quarto evangelho como, por exemplo, na última ceia;
ao lado de Pedro, quando este negou Jesus por três vezes; e ao lado de Maria, mãe
de Jesus, aos pés da cruz. Neste relato, quando ambos recebem a notícia dada por Maria
Madalena, eles correm imediatamente para o sepulcro. João chegou antes e Pedro depois.
Todavia, o primeiro não entrou, pois deixou que o segundo o fizesse por primeiro.
Afinal, o que eles viram?
Pedro e João viram exatamente a mesma coisa: o sepulcro
vazio, panos pelo chão e o sudário dobrado. Maria Madalena pensou que haviam roubado
o corpo de Jesus. Pedro entrou e constatou o túmulo vazio: ele entrou e viu. João,
que escreve o Evangelho e que se qualifica como alguém que experimenta o Amor de Deus
em sua vida, manifestado em Cristo Jesus, conta também sua reação pessoal: ele viu
e creu. Quando São Paulo nos apresenta uma lista daqueles para os quais Cristo Ressuscitado
apareceu, o nome de Pedro surge em primeiro lugar (1 Cor 15,5), já recordando a missão
de Pedro de confirmar os irmão na Fé.
Interessante, porém, é anotar como João
testemunha de si mesmo como alguém acreditou na ressurreição de Jesus antes mesmo
que tivesse aparecido. Deste modo ele nos demonstra como a experiência da unidade
nos faz enxergar mais longe e mais profundamente, pois somente o amor é capaz de se
antecipar aos fatos, às demais evidências, intuindo com antecedência a realidade da
ressurreição de Jesus.
Ao dizer-nos que “eles ainda não haviam compreendido
a Escritura segundo a qual Ele deveria ressuscitar dos mortos”, João nos vai demonstrando
os passos que os próprios discípulos iriam dar aos poucos, porque, como nos recorda
Lucas 24, 25-27.32, a explicação das Escrituras é fundamental para que os discípulos
de Jesus aceitem a ressurreição.
Neste tempo pascal, procuremos valorizar esta
realidade tão significativa para o quarto evangelista: a experiência da unidade, da
visão de fé, do amor. Aquele que experimenta como Deus nos ama enxerga mais longe
a própria história e vida. O amor é, de fato, um divisor de águas. Não é à toa que
São Paulo, em 1 Cor 13, 13, nos recorda: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança
e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”.
Desejo que a Páscoa continue
iluminando a vida de cada um de nós, povo de Deus que caminha nesta cidade do Rio
de Janeiro. Que o Ressuscitado nos guie na santidade de vida, Aleluia!
† Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ