BENTO XVI FALA SOBRE SUA AMIZADE COM JOÃO PAULO II
Cidade do Vaticano, 28 abr (RV) - Estão sendo ultimados os preparativos – em
Roma e no Vaticano – para a Beatificação de João Paulo II. Espera-se a participação
de centenas de milhares de peregrinos. Na manhã de sexta-feira realizar-se-á, na Sala
de Imprensa da Santa Sé, uma coletiva para a apresentação das iniciativas ligadas
ao evento.
No sábado à noite, o Vigário do Papa para a Diocese de Roma, Cardeal
Agostino Vallini, presidirá uma Vigília de oração no "Circo Massimo", a partir das
20h locais.
No domingo, 1º de maio, Bento XVI celebrará na Praça São Pedro,
às 10h locais, a missa em que proclamará Beato João Paulo II. Hoje repropomos uma
entrevista concedida por Bento XVI à TV pública polonesa e transmitida em 16 de outubro
de 2005, em que falava da sua amizade com João Paulo II, nascida no Conclave de 1978.
A entrevista é do jesuíta Pe. Andrea Majewski:
Bento XVI:- "Desde o
começo senti uma grande simpatia e, graças a Deus, imerecidamente, o então cardeal
concedeu-me desde o início a sua amizade. Sou grato por essa confiança que depositou
em mim, sem os meus méritos. Sobretudo vendo-o rezar, vi e não somente entendi, vi
que era um homem de Deus. Essa era a impressão fundamental: um homem que vive com
Deus, aliás, em Deus. Além disso, impressionou-me a cordialidade com a qual encontrou-se
comigo. Sem grandes palavras, nascia assim uma amizade que vinha exatamente do coração
e, logo após a sua eleição, o Papa me chamou diversas vezes a Roma para colóquios
e, no final, me nomeou Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé."
P.
Santo Padre, quais são, a seu ver, os pontos mais significativos do Pontificado de
João Paulo II?
Bento XVI:- "Podemos ter, diria, dois pontos de vista:
um ad extra – ao mundo – e um ad intra – à Igreja. Em relação ao mundo, parece-me
que o Santo Padre, com os seus discursos, a sua pessoa, a sua presença e a sua capacidade
de convencer, criou uma nova sensibilidade no que diz respeito aos valores morais,
à importância da religião no mundo. Isso fez de modo que se criasse uma nova abertura,
uma nova sensibilidade aos problemas da religião, à necessidade da dimensão religiosa
no homem e, sobretudo, cresceu – de modo inimaginável – a importância do Bispo de
Roma. Todos os cristãos reconheceram – não obstante as diferenças e apesar de nem
todos reconhecerem o Sucessor de Pedro – que ele é o porta-voz da cristandade. Nenhum
outro no mundo, em nível mundial, pode falar assim em nome da cristandade e dar voz
e força, na atualidade do mundo, à realidade cristã. Mas também para a não-cristandade
e para as outras religiões ele era o porta-voz dos grandes valores da humanidade.
Deve-se também mencionar ter conseguido criar um clima de diálogo entre as grandes
religiões e um sentido de responsabilidade comum que todos temos pelo mundo, bem como
o sentido de que as violências e as religiões são incompatíveis e de que juntos devemos
buscar o caminho para a paz, numa responsabilidade comum pela humanidade. No que diz
respeito à situação da Igreja, eu diria que, em primeiro lugar, soube entusiasmar
a juventude para Cristo. Essa é uma coisa nova, se pensamos na juventude de 1968 e
dos anos Setenta. Somente uma personalidade com aquele carisma poderia conseguir que
a juventude se entusiasmasse por Cristo e pela Igreja e também por valores difíceis;
somente ele poderia, de tal modo, conseguir mobilizar a juventude do mundo para a
causa de Deus e pelo amor a Cristo. Criou na Igreja – penso – um novo amor pela Eucaristia,
criou um novo sentido pela grandeza da Divina Misericórdia; e também aprofundou muito
o amor por Nossa Senhora e assim levou-nos a uma interiorização da fé e, ao mesmo
tempo, a uma maior eficiência. Naturalmente, é preciso mencionar – como todos sabemos
– também como foi essencial sua contribuição para as grandes mudanças no mundo em
1989, com a queda do chamado socialismo real." (RL)