VIA SACRA NO COLISEU: CONTEMPLAR "O SILÊNCIO DA NOITE, DA CRUZ, DA MORTE"
Roma, 23 abr (RV) - Bento XVI reviveu na noite desta Sexta-feira Santa, junto
com milhares de fiéis peregrinos o drama da Paixão e morte de Jesus, no Coliseu de
Roma. A Via-Sacra - salienta-se na introdução do texto - quer estimular em nós este
gesto de nos agarrarmos ao madeiro da Cruz de Cristo ao longo do mar da vida. Por
isso, a Via-Sacra não é uma simples prática de devoção popular com caráter sentimental;
mas exprime a essência da experiência cristã: “Se alguém quiser vir após Mim, negue-se
a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mc 8, 34). É por este motivo que, cada Sexta-feira
Santa, o Santo Padre percorre a Via-Sacra sob o olhar do mundo inteiro e em comunhão
com ele.
Para a preparação da Via-Sacra deste ano, o Papa Bento XVI dirigiu-se
ao mundo monástico agostiniano feminino, confiando a redação dos textos à Ir. Maria
Rita Piccione, O.S.A., Presidente da Federação dos Mosteiros Agostinianos da Itália
«Nossa Senhora do Bom Conselho». E não são apenas os textos que são de uma monja agostiniana;
também as imagens ganharam forma e tonalidade a partir de uma sensibilidade artística
feminina e agostiniana. A Ir. Helena Maria Manganelli, O.S.A., do Ermo de Leccetto,
outrora escultora de profissão, é a autora dos quadros que ilustraram as várias estações
da Via-Sacra.
No início de cada estação, depois da habitual enunciação em italiano,
uma frase muito breve, lida por dois adolescentes, que ofereceu a chave de leitura
da respectiva estação.
Depois o texto bíblico, ilustrado por uma reflexão breve,
mas clara e original. A oração dirigida ao “Humilde Jesus” – expressão cara a Santo
Agostinho –, que deixa cair o adjetivo humilde na crucifixão-exaltação de Cristo,
é a confissão que a Igreja-Esposa dirige ao Esposo que a redimiu com o seu Sangue.
Segui-se uma invocação ao Espírito Santo, que guia os nossos passos e que derrama
no nosso coração o amor divino (cf. Rm 5, 5): é a Igreja apostólico-petrina que bate
à porta do coração de Deus.
Ao final da Via Sacra, da colina do Palatino, Bento
XVI convidou os fiéis a contemplarem “o silêncio da noite, da cruz, da morte”.
“Esta
noite, na fé, acompanhamos Jesus, que percorre o último trecho do seu caminho terreno,
o trecho mais doloroso: o do Calvário. Ouvimos o alarido da multidão, as palavras
da condenação, o ludíbrio dos soldados, o pranto da Virgem Maria e das outras mulheres.
Agora mergulhamos no silêncio desta noite, no silêncio da cruz, no silêncio da morte.
É um silêncio que guarda em si o peso do sofrimento do homem rejeitado, oprimido,
esmagado, o peso do pecado que desfigura o seu rosto, o peso do mal. Esta noite, no
íntimo do nosso coração, revivemos o drama de Jesus, carregado com o sofrimento, o
mal, o pecado do homem”.
E agora, que resta diante dos nossos olhos?, perguntou
o Papa. “Resta um Crucificado; uma Cruz levantada no Gólgota, uma Cruz que parece
determinar a derrota definitiva d’Aquele que trouxera a luz a quem estava mergulhado
na escuridão”.
“Mas fixemos bem aquele homem crucificado entre a terra e
o céu, contemplemo-lo com um olhar mais profundo, e descobriremos que a Cruz não é
o sinal da vitória da morte, do pecado, do mal, mas o sinal luminoso do amor, mais
ainda, da imensidão do amor de Deus, daquilo que não teríamos jamais podido pedir,
imaginar ou esperar: Deus debruçou-Se sobre nós, abaixou-Se até chegar ao ângulo mais
escuro da nossa vida, para nos estender a mão e atrair-nos a Si, levar-nos até Ele”.
“A Cruz fala-nos do amor supremo de Deus e convida-nos a renovar, hoje,
a nossa fé na força deste amor, a crer que em cada situação da nossa vida, da história,
do mundo, Deus é capaz de vencer a morte, o pecado, o mal, e dar-nos uma vida nova,
ressuscitada. Na morte do Filho de Deus na cruz, há o gérmen de uma nova esperança
de vida, como o grão de trigo que morre no seio da terra”.
Bento XVI concluiu
as suas palavras dizendo textualmente:
“Fixemos o nosso olhar em Jesus
Crucificado e peçamos, rezando: Iluminai, Senhor, o nosso coração, para Vos podermos
seguir pelo caminho da Cruz; fazei morrer em nós o ‘homem velho’, ligado ao egoísmo,
ao mal, ao pecado, e tornai-nos ‘homens novos’, mulheres e homens santos, transformados
e animados pelo vosso amor”. (SP)