Via-Sacra no Coliseu de Roma lembrou o sofrimento das crianças e as perseguições
aos cristãos. Bento XVI apresentou a Cruz como «sinal luminoso» do amor
(23/4/2011) Bento XVI presidiu a noite passada à tradicional Via-Sacra de sexta-feira
Santa, no Coliseu de Roma, lembrando o sofrimento das crianças e a “mentira” na sociedade
de hoje. Na oração inicial desta celebração, alertou-se para a "desordem do coração"
que "desfigura a ingenuidade dos pequeninos e dos fracos". O Papa falou ainda
das “várias máscaras da mentira” que "ridicularizam a verdade" e "as lisonjas do sucesso"
que sufocam o “apelo íntimo à honestidade”, bem como de um “vazio de sentido e de
valores” na educação. Durante a cerimónia, aludiu-se ao "peso da perseguição contra
a Igreja de ontem e de hoje, a perseguição que mata os cristãos em nome de um deus
alheio ao amor e a que mina a sua dignidade com «lábios mentirosos e palavras arrogantes»". "Jesus
carregou o peso da perseguição contra Pedro, aquela contra a voz clara da «verdade
que interpela e liberta o coração». Jesus, com a sua Cruz, carregou o peso da perseguição
contra o seus servos e discípulos, contra aqueles que respondem ao ódio com o amor,
à violência com a mansidão", assinalava a meditação. No final da celebração, Bento
XVI apresentou um convite a meditar sobre o “silêncio da cruz, o silêncio do amor,
que leva o peso da dor”. A cruz, que parece uma “derrota”, disse, “não é o sinal
da vitória da morte, mas o sinal luminoso do amor”. Fixemos bem aquele homem crucificado
entre a terra e o céu, contemplemo-lo com um olhar mais profundo, e descobriremos
que a Cruz não é o sinal da vitória da morte, do pecado, do mal, mas o sinal luminoso
do amor, mais ainda, da imensidão do amor de Deus, daquilo que não teríamos jamais
podido pedir, imaginar ou esperar: Deus debruçou - Se sobre nós, abaixou-Se até chegar
ao ângulo mais escuro da nossa vida, para nos estender a mão e atrair-nos a Si, levar-nos
até Ele. A Cruz fala-nos do amor supremo de Deus e convida-nos a renovar, hoje,
a nossa fé na força deste amor, a crer que em cada situação da nossa vida, da história,
do mundo, Deus é capaz de vencer a morte, o pecado, o mal, e dar-nos uma vida nova,
ressuscitada A autora dos textos lidos durante a Via-Sacra, Maria Rita Piccione,
quis dar espaço “à voz da infância, por vezes insultada, magoada, explorada”, não
só devido aos abusos sexuais, “pois o campo é muito amplo e diz respeito à toda a
humanidade”. A monja de clausura italiana referiu à Rádio Vaticano que a redacção
dos textos foi inspirada pelos crentes e por “todas as pessoas”, bem como pelo “coração
humano”, que descreveu “como um laboratório no qual se decidem o destino do que acontece
em nível muito mais amplo”. No início de cada estação, aparecia "uma frase muito
breve que pretende oferecer a chave de leitura da respectiva estação”. “Podemos
recebê-la como que vinda de uma criança, numa espécie de apelo à simplicidade dos
pequeninos que sabem captar o coração da realidade e num espaço simbólico de acolhimento,
na oração de Igreja, da voz da infância por vezes ofendida e explorada”, pode ler-se
na apresentação das reflexões. Correspondendo a um desejo da autora das meditações
deste ano, duas crianças leram as introduções a cada estação. A cruz foi transportada
ao longo do percurso, entre outros, pelo cardeal Agostino Vallini, vigário do Papa
para a diocese de Roma; uma família romana e outra da Etiópia; duas monjas agostinhas;
um franciscano e uma rapariga egípcia; um doente em cadeira de rodas e dois frades
da custódia da Terra Santa. O Papa pede todos os anos a um autor diferente para
redigir as reflexões da celebração, seguida por dezenas de milhares de peregrinos
com velas na mão que se concentram junto ao Coliseu, na capital italiana, e por milhões
de pessoas em todo o mundo, através dos meios de comunicação social. (texto
integral da homilia emDocumentos do Vaticano)