Cidade do Vaticano, 23 abr (RV) – Ontem Sexta-feira Santa, a televisão de Estado
italiana ‘RaiUno’ levou ao ar durante o programa “À sua imagem”, as respostas do Papa
Bento XVI feitas pelos telespectadores.
A primeira pergunta foi feita por
uma menina japonesa de 7 anos que, diante do terror vivido em seu país devido aos
terremotos, disse ao Papa: “Tenho muito medo, porque a casa na qual eu me sentia segura
tremeu muito e porque muitas crianças da minha idade morreram. (...) Por que tenho
de passar por tanto medo? Por que as crianças têm de sofrer tanta tristeza?”. Bento
XVI reconheceu que “não temos uma resposta, mas sabemos que Jesus sofreu como vocês,
inocentes”, e recomendou: “Neste momento, parece-me importante que saibam que ‘Deus
me ama’, ainda que pareça que Ele não me conhece”. Recordando também a solidariedade
e a ajuda oferecida por pessoas do mundo inteiro, o Santo Padre lembrou que “um dia,
eu compreenderei que este sofrimento não era uma coisa vazia, não era inútil, mas
que, por trás do sofrimento, há um projeto bom, um projeto de amor. Não é por acaso”.
A
segunda pergunta foi feita por uma mulher italiana cujo filho está em estado vegetativo
há um ano: “Santidade, a alma do meu filho abandonou seu corpo - visto que ele está
totalmente inconsciente - ou ainda está nele?”. O Papa respondeu que a alma ainda
está presente no corpo e fez uma comparação: “A situação é semelhante à de um violão
que tem as cordas quebradas e que não pode ser tocado: assim também o instrumento
do corpo é frágil, vulnerável, e a alma não pode tocar, por assim dizer, mas continua
presente”. “Sua presença, queridos pais, é um testemunho de fé em Deus, de fé no homem,
de compromisso a favor da vida, de respeito pela vida humana, inclusive nas situações
mais trágicas”, recordou.
Um grupo de jovens de Bagdá se dirigiu a Bento XVI
para falar sobre a perseguição dos cristãos no Iraque: “De que maneira podemos ajudar
nossa comunidade cristã, para que reconsidere o desejo de emigrar a outros países,
convencendo-a de que ir embora não é a única solução?”. Renovando seu apoio aos cristãos
e muçulmanos do país, o Santo Padre afirmou que o verdadeiro problema é que “a sociedade
está profundamente dividida, lacerada” e que é preciso “reconstruir esta consciência
de que, na diversidade, todos têm uma história comum, uma comum determinação”.
Também
uma mulher muçulmana, da Costa do Marfim, falou da situação política do seu país,
que está causando divisão entre cristãos e muçulmanos, e perguntou: “O senhor, como
embaixador de Jesus, o que aconselharia ao nosso país?”. O Papa recordou a importância
de orar pela população e mencionou ações concretas da Santa Sé: “Pedi ao cardeal Tuckson,
que é presidente do nosso Conselho Justiça e Paz, que vá à Costa do Marfim e tente
mediar, falar com os diversos grupos, com diferentes pessoas, para facilitar um novo
começo”. E lembrou da necessidade de ouvir a voz de Jesus, “em quem vocês também acreditam
como profeta. Ele era sempre o homem da paz”. “O único caminho é a renúncia à violência,
recomeçar o diálogo, as tentativas de encontrar juntos a paz, uma nova atenção de
uns aos outros, a nova disponibilidade a abrir-se uns aos outros. E esta, querida
senhora, é a verdadeira mensagem de Jesus: busquem a paz com os meios da paz e abandonem
a violência”, afirmou.
Outra pergunta veio da Itália: “O que Jesus fez no lapso
de tempo entre a morte e a ressurreição? E, já que no Credo se diz que Jesus, depois
da morte, desceu ao inferno, podemos pensar que isso é algo que acontecerá conosco
também, depois da morte, antes de ascender ao céu?”.
O Papa explicou que “este
descenso da alma de Jesus não deve ser imaginado como uma viagem geográfica, local,
de um continente a outro. É uma viagem da alma. É preciso levar em consideração que
a alma de Jesus sempre toca o Pai, está sempre em contato com o Pai, mas, ao mesmo
tempo, esta alma humana se estende até os últimos confins do ser humano. Neste sentido,
desce às profundezas, vai até os perdidos, dirige-se a todos aqueles que não alcançaram
a meta das suas vidas”. “Esta palavra da descida do Senhor aos infernos significa,
sobretudo, que Jesus alcança também o passado; que a eficácia da redenção não começa
no ano zero ou no ano trinta, mas que chega ao passado, abrange o passado, todas as
pessoas de todos os tempos”, acrescentou.
Com relação ao destino da alma humana,
afirmou que “nossa vida é diferente: o Senhor já nos redimiu e nos apresentaremos
ao Juiz, depois da nossa morte, sob o olhar de Jesus, e este olhar em parte será purificador;
acho que todos nós, em maior ou medida, precisaremos ser purificados”.
Outra
pergunta, vinda da Itália, também tratou do tema da ressurreição de Jesus: “O fato
que de seu corpo ressuscitado não tenha as mesmas características de antes, o que
significa? O que significa, exatamente, ‘corpo glorioso’? E a ressurreição, será assim
também para nós?”.
“Naturalmente – disse Bento XVI –, não podemos definir o
corpo glorioso, porque esta além da nossa experiência. Só podemos interpretar alguns
dos sinais que Jesus nos deu para entender, ao menos um pouco, para onde esta realidade
aponta.” Entre esses sinais, o Pontífice mencionou o sepulcro vazio, que indica que
Jesus não abandonou seu corpo à corrupção: “Jesus assumiu também a matéria, razão
pela qual a matéria também está destinada à eternidade”. Acrescentou que Cristo “assumiu
esta matéria em uma nova forma de vida: Jesus não morre mais, ou seja, está muito
além das leis da biologia, da física, porque os submetidos a elas morrem. (...) É
uma vida nova, que já não está sujeita à morte, e essa é a nossa grande promessa”.
O
Papa recordou que, na Eucaristia, Cristo nos dá seu corpo glorioso: “Assim, já estamos
em contato com esta nova vida, este novo tipo de vida, já que Ele entrou em mim, e
eu saí de mim e me estendo até uma nova dimensão da vida. Acho que este aspecto da
promessa, da realidade de que Ele se entrega a mim e me faz sair de mim mesmo e me
eleva, é a questão mais importante: não se trata de decifrar coisas que não podemos
entender, mas de encaminhar-nos rumo à novidade que começa, sempre, de novo, na Eucaristia”.
A
última pergunta foi sobre as palavras dirigidas por Jesus a Maria e a João aos pés
da cruz: “Eis aqui o teu filho”, “Eis aqui a tua mãe” - que Bento XVI definiu, em
seu último livro, como “uma disposição final de Jesus”. “Como devemos entender estas
palavras? Que significado tinham naquele momento e que significado têm hoje em dia?”
O
Santo Padre respondeu que “estas palavras de Jesus são, antes de mais nada, um ato
muito humano. Vemos Jesus como um homem verdadeiro que leva a cabo um gesto de verdadeiro
homem: um ato de amor por sua mãe, confiando-a ao jovem João, para que estivesse segura”.
Por outro lado, explica que, “certamente, este gesto tem várias dimensões, não diz
respeito apenas a esse momento: concerne a toda a história. Em João, Jesus confia
todos nós, toda a Igreja, todos os futuros discípulos, à sua Mãe, e sua Mãe a nós”.
Além disso, acrescentou, “a Mãe é também expressão da Igreja. Não podemos ser cristãos
sozinhos, com um cristianismo construído segundo as minhas ideias. A Mãe é imagem
da Igreja, da Mãe Igreja e, confiando-nos a Maria, também temos de confiar-nos à Igreja,
viver a Igreja, ser Igreja com Maria”.
O programa “A sua imagem” durou cerca
de uma hora e meia e Bento XVI acompanhou sua emissão da sua biblioteca, no Palácio
Apostólico Vaticano. (SP-ZENIT)