Rio de Janeiro, 22 abr (RV) - No começo da Semana Santa, após termos contemplados
Jesus, sendo aclamado como Rei, nas ruas de nossas cidades, entre ramos, cantos e
hosanas, a Igreja Católica, nos convida, a refletir sobre os acontecimentos que envolveram
a condenação e a prisão de Jesus a morte. Encontramos neste dia com a traição de
Judas no Jardim das Oliveiras. Judas foi um dos apóstolos, a quem foi confiado o cuidado
da bolsa do dinheiro, usado no sustento da vida simples que levavam. Judas foi um
dos escolhidos, um dos prediletos, um dos amigos, mas, por causa de sua ambição e
egoísmo, ou mesmo pensando em manifestar a visão da missão que ele pensava do Messias,
traiu o mestre e o entregou com um beijo no rosto. No momento da prisão, açoites
e a condenação, Pedro, o mais respeitado dos apóstolos, foi todo cauteloso ao ver
Jesus que sofria, quando uma criada o abordou: “Tu és um deles!” E Pedro negou Cristo
por três vezes, e depois chorou amargamente a sua fraqueza, com o cantar do galo. Veio
também o vozerio dos fariseus e do povo, exigindo de Pilatos a condenar Jesus a morte
na cruz: “Não temos outro rei a não ser César”. “Solta-nos Barrabás e condena Jesus”.
E todos gritaram: “Crucifica-o, crucifica-o”. O que dizer de Pilatos, cheio de
temores ante as ameaças dos fariseus e da população agitada, apresentou Jesus flagelado,
coberto com o manto e a cruz, dizendo: “Eis o homem! Eis o vosso rei! (Jo 19, 5) Fica
no ar uma pergunta incômoda para todos nós: Quem condenou Jesus? Essa pergunta já
foi objeto de muitos questionamentos e discussões. Já ocasionou falsas compreensões
e dificuldades de relacionamentos. Muitos acusam Judas com sua ambição e cobiça.
Mas temos o direito de condenar Judas, nós que tantas vezes traímos Jesus, com nossas
ambições, com nossos apegos com coisas materiais, ao dinheiro, ao poder, ao prazer?
Teria sido Pedro com sua fraqueza e medo? Quem somos nós, com nossas quedas e
falhas, nós que negamos a Cristo tantas vezes na nossa vida de cristão relaxados e
descompromissados, tão inconstantes na nossa prática da fé? Seriam os fariseus?
Mas nós, quantos vezes nos deixamos levar também pelas invejas, pelas raivas, pelos
ódios, sem saber perdoar os que nos ofendem, como Cristo nos mandou. E ainda nós temos
a coragem de rezar tranquilamente todos os dias: Senhor perdoai-nos assim como perdoamos!
Que qualidade de Pai-Nosso rezamos se estamos cheios de ódios! Foi Herodes com
sua zombaria, com sua sensualidade, com seu amor aos prazeres e preocupação com o
poder? Mas nós também tantas vezes, nos deixamos cair na lama dos pecados mais profundos,
no apego ao poder, nos pensamentos mais sórdidos, manchando nossa alma com tantos
pecados e misérias! Será que foi a irresponsabilidade de Pilatos com seu apego
ao cargo, com sua covardia em não defender um justo inocente? Mas nós poderemos condenar
Pilatos, se tantas vezes nos deixamos levar pelo desrespeito humano, pela preguiça,
pela indiferença em cumprir nossos deveres de cristãos? Muitos colocam como se
fosse o Pai do céu com seu plano de amor e misericórdia para nós pecadores? O que
diremos a Deus pai que tanto nos ama e só nos convida a gratidão, um pouco de fé,
esperança e amor? Mas o que fazemos? Em lugar da unidade com Ele, temos a coragem
de nos afastarmos dele, de desprezar seus mandamentos e de desrespeitar sua santa
vontade! Na verdade fomos todos nós contribuímos para a condenação e prisão de
Jesus, com os muitos pecados que cometemos com nossas vidas! Ele assumiu homem das
dores, os nossos pecados! Ele assumiu nossas dores! Nós somos também culpados pela
sua condenação, com nossos muitos pecados e com as nossas atitudes. Eu, pecador,
ajudei a cravar na cabeça de Cristo a coroa de espinho, quando tive atitudes como
Pedro e como Judas. Eu, pecador, também flagelei Jesus, quando deixo de lado tantos
irmãos que necessita da minha ajuda e partilha. Eu, pecador, cooperei por deixar
Jesus todo ensangüentado, quando indiretamente contribui para tantos gestos, que derramam
o sangue dos inocentes. Eu, pecador, contribui com a condenação Jesus para a morte! Pois
então, meus irmãos e irmãs, é hora de converter-se, de levar uma vida cristã mais
de acordo com o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo! E, como Pedro, e como Madalena,
e como tantos outros que se converteram peçamos a Deus o perdão pelos nossos muitos
pecados. Para tanto, aproveitemos tanto para estes dias do tríduo pascal. Ainda há
tempo para uma santa confissão. Cumpramos o preceito da páscoa com uma santa comunhão. E
acompanhando Jesus com sua santa cruz, façamos Páscoa, passando da morte para a vida!
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ