BENTO XVI: A COMUNHÃO EUCARÍSTICA EXIGE A FÉ, MAS A FÉ EXIGE O AMOR; CASO CONTRÁRIO,
ESTÁ MORTA, INCLUSIVE COMO FÉ
Cidade do Vaticano, 21 abr (RV) - No final desta tarde, às 17h10 (hora local),
Bento XVI deixou o Vaticano, de automóvel, dirigindo-se para a Basílica de São João
de Latrão – sede da Diocese de Roma – onde presidiu a missa da Ceia do Senhor. Durante
a liturgia, o Santo Padre cumpriu o tradicional rito do lava-pés.
De fato,
recordando o gesto feito por Jesus ao lavar os pés a seus discípulos, o Pontífice
lavou os pés de doze sacerdotes de sua diocese. No momento do ofertório foi entregue
ao Papa uma oferta destinada aos atingidos pelos terremoto e tsunami no Japão.
O
Santo Padre iniciou a homilia recordando as palavras de Jesus na Última Ceia – celebração
do seu último banquete e da instituição da sagrada Eucaristia: "Desejei ardentemente
comer convosco esta Páscoa, antes de padecer" (Lc 22, 15).
Jesus "esperou aquele
momento que deveria ser, de algum modo, as verdadeiras núpcias messiânicas: a transformação
dos dons desta terra e o fazer-Se um só com os seus, para os transformar e inaugurar
assim a transformação do mundo. No desejo de Jesus podemos reconhecer o desejo do
próprio Deus" – frisou o Papa.
Jesus deseja-nos, aguarda-nos. E nós – perguntou-se
– temos verdadeiramente desejo d'Ele? Sentimos, no nosso interior, o impulso para
O encontrar?
Ansiamos pela sua proximidade, por nos tornarmos um só com Ele,
dom este que Ele nos concede na sagrada Eucaristia? Ou, pelo contrário, sentimo-nos
indiferentes, distraídos, inundados por outras coisas?
Sabemos pelas parábolas
de Jesus sobre banquetes – observou Bento XVI – que Ele conhece a realidade dos lugares
que ficam vazios, a resposta negativa, o desinteresse por Ele e pela sua proximidade.
"Os
lugares vazios no banquete nupcial do Senhor, com ou sem desculpa, há já algum tempo
que deixaram de ser para nós uma parábola, tornando-se uma realidade, justamente naqueles
países aos quais Ele tinha manifestado a sua proximidade particular. Jesus sabia também
de convidados que viriam sim, mas sem estar vestidos de modo nupcial: sem alegria
pela sua proximidade, fazendo-o somente por costume e com uma orientação bem diversa
na sua vida."
Citando São Gregório Magno numa de suas homilias, o Papa destacou
que "quem não vive a fé como amor, não está preparado para as núpcias e é expulso.
A comunhão eucarística exige fé, mas a fé exige o amor; caso contrário, está morta,
inclusive como fé".
Comentando o sentido da Eucaristia – instituída por Jesus
na Última Ceia – o Papa frisou que "o objetivo próprio e último da transformação eucarística
é a nossa transformação na comunhão com Cristo. A Eucaristia tem em vista o homem
novo, com uma novidade tal que assim só pode nascer a partir de Deus e por meio da
obra do Servo de Deus".
Sabemos que Jesus, na sua oração durante a Última Ceia,
dirigiu também súplicas ao Pai – observou o Papa – súplicas que, ao mesmo tempo, contêm
apelos aos seus discípulos de então e de todos os tempos.
Bento XVI disse querer
escolher nesta hora somente uma súplica, que continua, sem cessar, sendo a oração
de Jesus ao Pai por nós: trata-se da oração pela unidade. "Jesus diz explicitamente
que tal súplica vale não somente para os discípulos então presentes, mas tem em vista
todos aqueles que hão de acreditar n'Ele (cf. Jo 17,20)".
Pede que todos se
tornem um só, "como Tu, ó Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que eles também estejam em
nós, para que o mundo acredite" (Jo 17,21). "Esta unidade não é algo somente interior,
místico. Deve tornar-se visível; tão visível que constitua para o mundo a prova do
envio de Jesus pelo Pai" – ponderou o Pontífice.
"A Eucaristia é sacramento
de unidade. Ela chega até ao mistério trinitário, e assim cria, ao mesmo tempo, a
unidade visível" – acrescentou.
Nesse contexto, o Papa recordou que São Lucas
nos conservou um elemento concreto da oração de Jesus pela unidade: "Simão, Simão,
Satanás reclamou o poder de vos joeirar como ao trigo. Mas Eu roguei por ti, para
que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos" (Lc
22, 31-32).
"Com pesar, constatamos novamente, hoje, que foi permitido a Satanás
joeirar os discípulos visivelmente diante de todo o mundo. E sabemos que Jesus reza
pela fé de Pedro e dos seus sucessores. Sabemos que Pedro, que através das águas agitadas
da história vai ao encontro do Senhor e corre perigo de afundar, é sempre novamente
sustentado pela mão do Senhor e guiado sobre as águas."
Jesus prediz a Pedro
a sua queda e a sua conversão. De que é que Pedro teve que converter-se? – perguntou.
"No
início do seu chamamento – acrescentou – assombrado com o poder divino do Senhor e
com a sua própria miséria, Pedro dissera: «Senhor, afasta-Te de mim, que eu sou um
homem pecador» (Lc 5, 8). Na luz do Senhor, reconhece a sua insuficiência. Precisamente
deste modo, com a humildade de quem sabe que é pecador, é que Pedro é chamado. Ele
deve reencontrar sem cessar esta humildade."
Pedro, o convertido, é chamado
a confirmar os seus irmãos. Não é um fato extrínseco que lhe seja confiado este dever
no Cenáculo. O serviço da unidade tem o seu lugar visível na celebração da sagrada
Eucaristia. Dito isso, o Pontífice afirmou:
"Queridos amigos, é um grande conforto
para o Papa saber que, em cada Celebração Eucarística, todos rezam por ele; que a
nossa oração se une à oração do Senhor por Pedro. É somente graças à oração do Senhor
e da Igreja que o Papa pode corresponder ao seu dever de confirmar os irmãos: apascentar
o rebanho de Cristo e fazer-se garante daquela unidade que se torna testemunho visível
do envio de Jesus pelo Pai."
Bento XVI concluiu a homilia com uma oração de
súplica: "Senhor, suscitai também em nós o desejo de Vós. Reforçai-nos na unidade
convosco e entre nós. Dai à vossa Igreja a unidade, para que o mundo creia. Amém." (RL)