EX-DIRETOR-GERAL DA RÁDIO VATICANO, CARDEAL TUCCI COMPLETA 90 ANOS
Cidade do Vaticano, 19 abr (RV) - A Rádio Vaticano encontra-se em festa pelo
Cardeal Roberto Tucci, que nesta terça-feira completa 90 anos. Diretor-Geral da nossa
emissora, de 1973 a 1985, o purpurado jesuíta foi organizador das viagens apostólicas
internacionais de João Paulo II. Justamente a partir dessa extraordinária experiência,
eis a reflexão do Cardeal Tucci na qual nos fala do Papa Wojtyla, que será beatificado
dia 1º de maio próximo:
Cardeal Roberto Tucci:- "Em primeiro lugar,
trata-se de um homem de fé, uma fé alimentada pela oração. Pode-se dizer que estava
continuamente em oração. Eu o via rezar o Terço no carro, ou mesmo o breviário; e
o fazia também durante viagem de helicóptero ou avião: estava continuamente rezando,
mesmo quando entrávamos atrasados numa igreja. Colocava-se diante do Santíssimo e
ali ficava dez, vinte minutos. No primeiro momento, se entrava numa igreja já lotada,
naturalmente, desde o início se fazia muito barulho por causa dos aplausos e vivas
dos fiéis. Mas, vendo depois que este homem permanecia imóvel, como uma estátua diante
do Santíssimo, como se na realidade estivesse fora daquela igreja e não ouvisse todo
aquele barulho, o rumor cessava gradativamente e as pessoas começavam a ficar em silêncio.
Deparávamo-nos numa igreja lotada de pessoas entusiastas que se mantinham caladas
e o Papa rezava com grande intensidade. Como seu deu algumas vezes, quando após alguns
minutos eu ia até ele para dizer-lhe que estávamos atrasados, me dizia: "Padre, a
oração é mais importante do que a pontualidade". Assim me dava conta de ter errado
e de que era melhor afastar-me... Impressionou-me, muitas vezes, essa sua capacidade
de colocar-se em oração em qualquer situação. Por exemplo, uma vez, voltando da Índia,
de Mumbai, o avião não podia aterrissar em Roma, porque havia neve, e tivemos que
aterrissar uma hora da manhã em Nápoles: então fui até ele dizer-lhe que, infelizmente,
não havia outro meio para chegar a Roma a não ser pegando o trem, porque também com
helicóptero não era possível viajar e ele ficou tranqüilo rezando e permaneceu mais
de uma hora esperando que tudo fosse preparado para podermos partir. Não se lamentou
de nada, manteve-se absorto em sua oração e tudo lhe estava bem. Impressionou-me,
sobretudo – porque é algo de certo modo particular – aquela vez em Israel, quando
saímos de Jerusalém, de helicóptero, com destino a Nazaré. Era Festa da Anunciação,
e eu estava próximo a ele no helicóptero – foi um dos raros momentos em que estive
no helicóptero do Papa, próximo do Pontífice. Ele encontrava-se sentado próximo à
janela e não olhava a paisagem entre Jerusalém e Nazaré. Vi que ele tinha alguns folhetos,
impressos, unidos por um fio: lia uma das páginas, depois fazia o sinal da cruz e
permanecia muito tempo concentrado em oração; depois passava à página seguinte, fazia
o sinal da cruz e novamente fazia uma longa meditação... Então fiquei curioso e olhei
discretamente o que estava escrito naquelas páginas: tratava-se da Via-Sacra. Era
uma sexta-feira, e toda sexta-feira ele fazia a Via-Sacra, e tendo naquele dia uma
programação muito intensa, e receando não ter tempo à noite, aproveitou para fazê-lo
no helicóptero, com grande simplicidade; sozinho, consigo mesmo, diante do Senhor.
A capacidade desse homem de recolher-se em oração se explica também com outros motivos,
mas certamente era um homem de grande coragem, que jamais desanimava... Basta pensar
que viveu sob duas ditaduras – nazista e comunista – para entender como seu caráter
se havia robustecido; uma "formação" que lhe fora imposta pelas contingências. Todavia,
era, sobretudo, a sua fé em Deus que lhe dava grande segurança: não uma segurança
em si, mas a segurança de que o Senhor o ajudaria. Sua confiança na ajuda do Senhor,
mediante a oração, jamais o deixou desanimar." (RL)