Rio de Janeiro, 17 abr (RV) - Além das reflexões da liturgia quaresmal, aproveitamos
este tempo favorável para aprofundarmos alguns aspectos da iniciação cristã, refletindo
em algumas catequeses sobre o catecumenato. Por isso queremos sublinhar o conhecimento
da fé e a sua vivência como fonte permanente de adesão ao Evangelho do Redentor.
A mensagem da catequese é o aprofundamento de nossa fé em Cristo e sua Boa Nova.
Mas essa mensagem deve ser traduzida em cada época de acordo com as culturas, num
processo de inculturação, e deve ser aplicada em cada situação da história. Como os
tempos mudam, a maneira de transmitir a mensagem de Cristo também deve assumir o dinamismo
da história. A catequese, desde os primórdios da Igreja, acentua fortemente a centralidade
de Jesus Cristo na educação da fé. O encontro com o Cristo vivo nos leva, necessariamente,
à conversão, a uma mudança de vida.
Vivemos num mundo onde tudo acontece muito
rápido. Grandes invenções e tecnologias nos permitem realizar várias coisas em pouco
tempo, com mais qualidade. A catequese não deixa de ser influenciada por esta realidade.
Neste sentido, a sociedade apresenta seus produtos de forma agradável e, assim, também
a Igreja se vê na necessidade de servir com maior atenção, prestando melhor assistência
às pessoas.
O que existe de positivo nesta perspectiva é a consciência de
que as coisas de Deus também merecerem ser preparadas com a máxima atenção, e não
de qualquer maneira, ou seja, os cristãos precisam ser pessoas que buscam qualidade,
pessoas que expressem sua fé com um testemunho coerente de vida.
E neste sentido,
a Quaresma é o tempo de preparação para a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição
do Senhor. Neste tempo forte de conversão e penitência, de jejum e de oração, os cristãos
são convidados a renunciar ao mal e aderir a Jesus que carrega sua cruz.
A
liturgia desse tempo dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos
(aqueles que estão se preparando para o batismo), pelos diversos graus de iniciação
cristã, como os fiéis, pela comemoração do batismo e da penitência (SC 109). Assim,
podemos olhar de perto o mistério de nossa fé, que culmina na vivência e no testemunho
de conversão e amadurecimento de nosso batismo.
Contudo, a Igreja, na condição
de Mãe e Mestra em sabedoria e vivência do Múnus de Ensinar e Santificar, nos chama
a conhecer e beber da fonte da Cruz a graça da misericórdia de Deus Pai, que se dá
no Filho, que se derrama em salvação a todos por Ele amados. A Catequese quaresmal
é por sinal e graça o compromisso de todos os batizados que buscam na fonte da Cruz
a experiência do verdadeiro Amor e ápice da vida. Por isso, a liturgia quaresmal
infunde em nós uma espiritualidade própria, com a qual caminhamos nos passos de Jesus
Cristo rumo ao Calvário, que também culminará na Glória da Ressurreição.
Além
dessa catequese como preparação para o batismo, vemos a tradição da Igreja de desenvolvermos
as catequeses de renovação da fé dos católicos. Uma tradição que até hoje ocorre na
Cúria Romana, seja com o retiro, seja com as catequeses pregadas. Tanto o retiro e
as conferências quaresmais que lá ocorrem são divulgadas como reflexão para todos
nós pela mídia católica. Sabemos também que São Bento colocou neste tempo da Quaresma
esse momento de união em penitência, jejum e lectio divina, leitura espiritual, conferência
de aprofundamento da fé e outras práticas. Todos os monges recebem no início da quaresma
livros para serem lidos durante esse tempo.
São passos que a Igreja nos convida
a dar neste tempo favorável e, renovando a vida cristã, amemos a Igreja, nossa mãe,
e testemunhemos a alegria da vida no seguimento radical de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Mesmo
chegando ao final do tempo da Quaresma, sempre é tempo de recomeçar e aprofundar a
fé.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ